Capitulo 2
Estava sentada a borda
cama bagunçada, num quarto que
cheirava a erva. A zona do lugar lembrava tudo que sempre foi a sua cabeça, um amontoado de pensamentos desconexos e
construções de realidade a partir
de sua própria convicção do que seria a
sua vida. Montes de roupas e
sapatos sujos pelo chão, um rak( estante de tv) em
frente a cama, cheio de papéis avulsos,
dentre eles uma passagem para o dia seguinte.
Junto a mim um ser em
movimento, que andava e
falava sem parar sobre mil coisas
de si mesmo. Fazia de mim uma escuta que não podia dar qualquer opinião sobre o que falava. Ele
não tinha mudado. Embora dissesse diferente, sua fala remetia ao que tinha vivido 5 anos
antes. Eu ouvia o ser falar, e ouvia ao mesmo tempo a minha a consciência fazendo dele
um juízo de valor e tentando
entender porque eu estava naquela caverna
sendo alvo de um bombardeio de emoções alheias a minha. As falas ouvidas tentavam dar conta de uma existência anterior.
Falas de fatos antigos, cobranças antigas, que certamente foram ressignificadas, pois fazemos isso todo tempo, a cada momento seguinte da hora em que fatos
ocorrem.
Eu não entendia e permanecia calada, com alguns suspiros pois
sabia que aquele sujeito
queria falar algo que nunca falou.
_ Eu só queria que você
esperasse um tempinho, para eu me arrumar e eu te ajudaria. Mas você me despachou, eu ia te ajudar. Escutei parada a fala.
Coloquei um chapéu na cabeça. Não
sei de quem era, estava na bagunça. Continuei
sentada. Bebia a fumava, nada que
fizesse perder a consciência, sóbria diante do sujeito empertigado que falava compulsivamente.
Quando cheguei ao recinto, não sei que
sentimentos provoquei, mas me rasgou em
elogios a ponto de eu perguntar
se não estava me colocando demais no
pedestal. Algo inalcançável. Que respeito, seria isso?? Que imagem de mim, que eu mesmo desconheço.
Com toda fala eu sempre sentada na beira da
cama, a ouvir, música maestro! Propositalmente pensei em um grupo antigo que ouvíamos . Ele procurou a música que queria e colocou. Era a que eu tinha pensado,
foi a única ação que tive.
Sentada fiquei, certa hora me
estiquei inteira na cama. Não tinha
intenção de seduzi-lo, não pensei nisso. Pensei em conversarmos sobre
política e outras coisas como
sempre fizemos junto com outros, nos últimos 5 anos. Não rolou, nem esquerda, nem direita.
Sentada eu estava na borda da
cama, perto da porta que dava para o
corredor. Uma hora ele voltou, para junto da janela onde estava.
E voltou-se de novo para mim. Veio com
olho fixo no meu, não desviei, fiquei sentada, de chapéu, e ele me beijou. Não
me movi, beijei também, ele falou algo que não ouvi, mas tinha a ver com cobrança,
não sei dizer. Depois parou a minha frente, continuei sentada, minha cabeça
a altura do seu pau. Com a boca suspendi
sua camisa. Chupei seu pau como nunca havia
feito antes. Ele falava algo, que
eu não ouvia, estava concentrada em
sentir aquela pele outra vez, ele tinha naquele momento o domínio do ser que estava sentado
na borda da cama, com seu pau na boca. Era a sua caverna, a sua cama, o seu espaço e o seu tesão, por mais
que ele estivesse ou não em outra relação, naquele momento
ele estava ali, subjulgando minha ação
para o seu prazer e subjulgado pelo prazer que sentia.
Não sei que culpas ou sentimentos ele sentiu
depois daquele dia. Talvez nada, ou talvez
o fato em si tenha descontruído
a tal narrativa construída para ficar longe. Vai saber.
Eu me atormentei, mistura de razão e sensação
desde então. Não sabia o quanto sou vulnerável
ao tesão do outro e ao meu próprio. Nessa busca de sair o tempo todo, fiquei. Tanto tempo sem saber e tanto tempo sem falar e creio que jamais
entenderei onde isso atinge. Romantizei mil coisas, confessei para mim mesmo
minha incompetência em deixar o presente
seguir sem me afetar. Sonhei, sonhei,
nem sei com o que. Estranha essa emoção . O que quero não sei, nunca soube. Continuo
dividida e na masturbação mental de não saber o que fazer com os sentimentos
que tenho. Pergunto-me se todo mundo é assim e só disfarçam o que
sentem.