Capítulo 1
Ainda sem nome
este que se inicia. Ainda sem saber bem o que será, mas a
estrutura pode ser descrita como romance. Talvez não seja a
trajetória do herói de mil faces, a moda J.Campbel, ou somente o
dia, ou quem diria o percurso de um personagem invisível na sua
presente idade.
Esse
personagem certamente não terá um único nome porque não se identifica com um.
Pode ser vários seus nomes. No entanto, ele tem uma preocupação que
se reflete na sua vida cotidiana e o o faz sofrer. Seu
passado não o deixa em paz, ele não consegue simplesmente dar um novo
rumo ao seu estado de inércia diante da vida. A inércia, o
comove e não o move. Ele sente a angústia do existir que lhe
tira o sono e aperta o estômago a cada vez que recebe informações
que se confrontam com um passado que ele desconhece.
Sem
saber ao certo o que sente tudo parece se confundir na sua mente o
fazendo uma espécie de autômato na própria vida. Ele ou ela,
tanto faz, personagem é pessoa e embora não importe o gênero,
pressupõem-se que sejam todos iguais os sentimentos das
pessoas, independente de gênero. Por isso, as vezes ele ou
ela ou e/la/le e o que mais vier se confundam no estado do
sentir. Todavia mesmo com a confusão de quem ser o
personagem, pode ser que o que predomine seja o ela.
Diante
da existência então tão tumultuada no século XXI, mas que se
iniciou no século XX, ela vive a idade que lhe soa melhor.
Melhor não dizer quantos anos tem, se isso pouco importa a não ser pela
maturidade que a idade dá. Todavia, certas coisas que vê se chocam
com o seu estado de calmaria, já não é preciso arrebentar
a porta e se fazer ver.
_ Não quero
publicidade, me incomodam os galhardetes virtuais dizendo o que faço,
onde estou, por que estou ali.
Isso ela diz, mas
gosta sempre de fiscalizar a vida de quem ali aparece. Serve para isso
a rede social. Quando não se tem mensagem ou o que dizer, funciona bem
como rede de fofoca, para se ver tudo que a pessoa não é. Sintomático
quando alguns postam a vida que queriam ter, e não a vida que
possuem. Muito dinheiro tem sido ganho com isso. Passeios
também, a hora é do influenciador digital. Será que de fato ajuda
alavancar alguma coisa.
Mas não é isso que
faz a personagem, ela escreve, escreve sobre tudo, até sobre
si mesmo, o que não deixa de ser incomum. Num mundo lotado de
opções e referências quem quer saber da vida de um sujeito
comum, um sujeito invisível nos seus 50 anos de vida.
Não foi sempre invisível, já
foi bastante visto durante meio século. Acontece que agora a sensação é
diferente, tudo muda quando se chega aos 50. Mulheres com mais certeza
tem seu estado físico transformado, seu sentir diferenciado, seu
comportamento mudado sem se saber porque. Permanecer no mesmo ritmo a
vida toda, não faria nenhum sentido.
Assim também não faria
sentido se ficar todo o tempo fazendo as mesmas coisas
toda vida.
Mas o que fazer no
presente, para a construção de um bem viver, de um não sentir-se
incomodar pelas atitudes do outro. Chegamos ao outro que não conhecemos
de verdade apesar de muito tentar descobrir.
O outro, esse ser enigmático
que jamais poderemos saber o que é. Que habita em cada um que não é
o eu mesmo. O que vemos dele é o que ele mostra e não o
verdadeiro eu. E como nem todo mundo tem a perspicácia de um psicólogo, o
outro fica de verdade escondido, camuflado a vida inteira, pelo menos
para mim.
Sou um narrador
intermitente, quero narrar o presente, pois o passado me enche a porra do saco,
e nada poderá mudá-lo, o que muda é o presente, isso que também já
foi nesse exato momento em que escrevo. E o que virá é o futuro que
não sei, é o silencio que se impõe, hora a hora, até o silêncio eterno,
quando não mais se terá voz, tato, preocupação. É assim que o narrador
se sente, inútil na existência. Em busca de uma
motivação, de um espaço de escrita, em busca de sentidos para escrever Só
a escrita viverá e permanecerá na imagem de cada um que
lê o que foi escrito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário