domingo, 27 de agosto de 2023

Romance- Cap- 1

 

        

     Capítulo 1

Ainda  sem  nome  este que  se inicia. Ainda sem saber  bem o que será, mas  a estrutura  pode ser descrita como romance.  Talvez não seja a trajetória do  herói de mil faces, a  moda J.Campbel, ou somente o dia, ou quem diria  o percurso de um personagem invisível na sua  presente idade. 

Esse  personagem certamente não terá um único nome porque não se identifica com um. Pode ser  vários seus nomes. No entanto, ele tem uma preocupação que se  reflete na sua  vida cotidiana e  o o faz sofrer. Seu passado não o deixa em paz, ele  não consegue simplesmente dar um novo rumo ao seu estado de inércia  diante da  vida. A inércia,  o comove e não o move. Ele sente a angústia  do existir que  lhe tira  o sono e aperta o estômago a  cada  vez que recebe informações que se confrontam com um passado que ele desconhece.

Sem saber ao  certo o que sente tudo parece se confundir na sua mente o fazendo  uma espécie de autômato na  própria  vida. Ele ou ela, tanto faz, personagem é pessoa e  embora não importe o  gênero, pressupõem-se  que sejam todos iguais os  sentimentos das  pessoas, independente de gênero.  Por isso, as  vezes ele  ou ela ou e/la/le  e o que mais  vier se  confundam no estado do sentir.  Todavia mesmo  com a confusão  de quem ser o personagem, pode ser que o que predomine  seja o ela.           

        Diante  da  existência então tão tumultuada no século XXI, mas que se iniciou  no século XX,  ela vive a  idade que lhe soa melhor. Melhor não dizer quantos anos  tem, se isso pouco importa a não ser pela maturidade que  a idade dá. Todavia, certas  coisas que vê se chocam com  o seu estado de calmaria,  já  não é preciso arrebentar a  porta e se  fazer ver.

_  Não  quero publicidade, me incomodam os  galhardetes virtuais dizendo o que faço, onde estou, por que   estou ali.

Isso ela  diz,  mas gosta sempre de  fiscalizar a vida de quem ali aparece. Serve para isso a  rede social. Quando não se tem mensagem ou o que dizer, funciona bem como rede de fofoca, para se ver tudo que a  pessoa não é. Sintomático quando  alguns postam a vida que queriam ter, e não a vida que  possuem.  Muito  dinheiro tem sido ganho com isso. Passeios  também, a hora é do influenciador digital.  Será que de fato ajuda alavancar alguma coisa.

Mas  não é  isso que faz a personagem, ela  escreve, escreve  sobre tudo, até  sobre si mesmo,  o que não deixa de  ser incomum.  Num mundo lotado de opções e  referências  quem quer saber da vida de  um sujeito comum, um sujeito invisível nos seus 50 anos de  vida.

Não foi sempre invisível, já foi bastante  visto durante meio século. Acontece que agora a sensação é diferente, tudo muda quando se chega aos 50. Mulheres com mais  certeza tem seu estado  físico transformado, seu sentir diferenciado, seu comportamento mudado sem se saber porque. Permanecer no mesmo ritmo a  vida toda, não faria nenhum sentido.

Assim também não faria sentido  se ficar  todo o tempo fazendo as mesmas  coisas toda  vida.

 Mas o que fazer  no presente, para a  construção de um bem viver, de um não sentir-se  incomodar pelas atitudes do outro.  Chegamos ao outro que não conhecemos de verdade apesar de  muito tentar descobrir.

O outro, esse ser enigmático que jamais  poderemos saber o que é. Que habita em  cada um que não é o eu  mesmo. O que vemos  dele é  o que ele mostra e não o verdadeiro eu. E como nem todo  mundo tem a perspicácia de um psicólogo, o outro fica de verdade escondido, camuflado a  vida inteira, pelo menos para mim.      

Sou um narrador  intermitente, quero narrar o presente, pois o passado me enche a porra do saco, e  nada poderá mudá-lo, o que muda é o presente, isso que também já  foi nesse  exato momento em que  escrevo. E o que virá é o futuro que não sei, é o silencio que se impõe, hora a hora, até  o silêncio eterno, quando não mais se terá voz, tato, preocupação.  É assim que o narrador se  sente,  inútil  na existência. Em busca de uma  motivação, de um espaço de escrita, em busca de sentidos para escrever  Só a escrita viverá e  permanecerá   na imagem de  cada um que lê o que foi escrito.

        

 

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