domingo, 27 de agosto de 2023

romance capitulo 2

 

 Capitulo  2

 

Estava sentada a  borda  cama  bagunçada, num quarto que cheirava  a erva. A zona do lugar  lembrava tudo que sempre foi a  sua cabeça, um  amontoado de pensamentos  desconexos e  construções  de realidade a partir de sua  própria convicção do que seria a sua vida.   Montes de  roupas e  sapatos sujos  pelo chão,  um rak( estante de  tv)  em frente a cama, cheio de papéis  avulsos, dentre  eles uma  passagem para o dia seguinte.

Junto a mim um ser em movimento,  que  andava e  falava sem parar sobre  mil coisas de si mesmo. Fazia de mim uma escuta que não podia dar  qualquer opinião sobre o que falava.  Ele  não tinha mudado. Embora dissesse diferente, sua  fala remetia ao que tinha vivido 5 anos antes.  Eu ouvia o ser falar, e  ouvia ao mesmo tempo a minha a consciência  fazendo dele  um juízo de  valor e   tentando entender  porque eu estava naquela caverna sendo alvo de um  bombardeio de  emoções alheias a minha.  As falas ouvidas  tentavam dar conta de  uma existência  anterior.  Falas   de fatos  antigos, cobranças   antigas, que certamente  foram ressignificadas, pois  fazemos isso todo tempo,  a cada momento seguinte da hora em que fatos ocorrem.  

Eu não entendia e  permanecia calada, com alguns  suspiros pois  sabia que aquele  sujeito queria  falar algo que nunca  falou.  _ Eu só queria que   você esperasse um tempinho, para eu me arrumar e eu te ajudaria. Mas  você me despachou, eu ia te ajudar.  Escutei parada a fala.

Coloquei um chapéu na cabeça. Não sei de quem era, estava na bagunça.  Continuei sentada.  Bebia a fumava, nada que fizesse  perder a consciência,  sóbria diante do sujeito empertigado  que falava compulsivamente.

Quando  cheguei ao recinto, não sei que sentimentos   provoquei, mas  me rasgou em  elogios a ponto de  eu perguntar se  não estava me colocando demais no pedestal. Algo inalcançável.  Que  respeito, seria  isso?? Que imagem de  mim, que eu mesmo desconheço.

Com toda fala  eu sempre sentada na  beira da  cama, a ouvir, música maestro!  Propositalmente  pensei em um grupo antigo  que ouvíamos . Ele  procurou a música que  queria e colocou. Era a que eu tinha pensado, foi a  única ação que tive.

Sentada fiquei, certa hora me estiquei inteira na cama. Não tinha  intenção de  seduzi-lo,  não pensei nisso. Pensei em conversarmos  sobre  política e  outras coisas como sempre fizemos junto com outros, nos últimos  5 anos.  Não rolou, nem esquerda, nem direita.

Sentada eu estava na borda da cama, perto da  porta que dava para o corredor. Uma  hora  ele voltou, para junto da janela onde estava. E voltou-se de novo para  mim. Veio com olho fixo no meu, não desviei, fiquei sentada, de chapéu, e ele me beijou. Não me movi, beijei também, ele falou algo que não ouvi, mas tinha a ver com cobrança, não sei dizer. Depois parou a minha frente, continuei sentada, minha cabeça a  altura do seu pau. Com a boca suspendi sua camisa. Chupei seu pau como nunca havia  feito antes. Ele  falava algo, que eu não ouvia,  estava concentrada em sentir aquela  pele outra  vez, ele tinha naquele  momento o domínio do ser que estava sentado na borda da cama, com seu pau na  boca.  Era a sua caverna, a sua  cama, o seu espaço e o seu tesão, por mais que  ele estivesse  ou não em outra relação, naquele momento ele  estava ali, subjulgando minha ação para o seu prazer e subjulgado pelo prazer que sentia.

Não  sei que culpas ou sentimentos ele sentiu depois daquele dia. Talvez nada, ou talvez   o fato em si tenha  descontruído a  tal narrativa  construída para  ficar longe. Vai saber.

Eu  me atormentei, mistura de razão e sensação desde então. Não sabia o quanto sou  vulnerável  ao tesão do outro e  ao meu próprio. Nessa busca de  sair o tempo todo, fiquei.  Tanto tempo sem saber e  tanto tempo sem falar e creio que jamais entenderei onde isso atinge. Romantizei  mil coisas, confessei para mim mesmo minha  incompetência em deixar o presente seguir sem me afetar. Sonhei,  sonhei, nem sei com o que. Estranha essa emoção . O que quero não sei, nunca soube. Continuo  dividida e na masturbação mental de  não saber o que fazer com os sentimentos que  tenho. Pergunto-me  se todo mundo é assim e só disfarçam o que sentem.  

        

Romance- Cap- 1

 

        

     Capítulo 1

Ainda  sem  nome  este que  se inicia. Ainda sem saber  bem o que será, mas  a estrutura  pode ser descrita como romance.  Talvez não seja a trajetória do  herói de mil faces, a  moda J.Campbel, ou somente o dia, ou quem diria  o percurso de um personagem invisível na sua  presente idade. 

Esse  personagem certamente não terá um único nome porque não se identifica com um. Pode ser  vários seus nomes. No entanto, ele tem uma preocupação que se  reflete na sua  vida cotidiana e  o o faz sofrer. Seu passado não o deixa em paz, ele  não consegue simplesmente dar um novo rumo ao seu estado de inércia  diante da  vida. A inércia,  o comove e não o move. Ele sente a angústia  do existir que  lhe tira  o sono e aperta o estômago a  cada  vez que recebe informações que se confrontam com um passado que ele desconhece.

Sem saber ao  certo o que sente tudo parece se confundir na sua mente o fazendo  uma espécie de autômato na  própria  vida. Ele ou ela, tanto faz, personagem é pessoa e  embora não importe o  gênero, pressupõem-se  que sejam todos iguais os  sentimentos das  pessoas, independente de gênero.  Por isso, as  vezes ele  ou ela ou e/la/le  e o que mais  vier se  confundam no estado do sentir.  Todavia mesmo  com a confusão  de quem ser o personagem, pode ser que o que predomine  seja o ela.           

        Diante  da  existência então tão tumultuada no século XXI, mas que se iniciou  no século XX,  ela vive a  idade que lhe soa melhor. Melhor não dizer quantos anos  tem, se isso pouco importa a não ser pela maturidade que  a idade dá. Todavia, certas  coisas que vê se chocam com  o seu estado de calmaria,  já  não é preciso arrebentar a  porta e se  fazer ver.

_  Não  quero publicidade, me incomodam os  galhardetes virtuais dizendo o que faço, onde estou, por que   estou ali.

Isso ela  diz,  mas gosta sempre de  fiscalizar a vida de quem ali aparece. Serve para isso a  rede social. Quando não se tem mensagem ou o que dizer, funciona bem como rede de fofoca, para se ver tudo que a  pessoa não é. Sintomático quando  alguns postam a vida que queriam ter, e não a vida que  possuem.  Muito  dinheiro tem sido ganho com isso. Passeios  também, a hora é do influenciador digital.  Será que de fato ajuda alavancar alguma coisa.

Mas  não é  isso que faz a personagem, ela  escreve, escreve  sobre tudo, até  sobre si mesmo,  o que não deixa de  ser incomum.  Num mundo lotado de opções e  referências  quem quer saber da vida de  um sujeito comum, um sujeito invisível nos seus 50 anos de  vida.

Não foi sempre invisível, já foi bastante  visto durante meio século. Acontece que agora a sensação é diferente, tudo muda quando se chega aos 50. Mulheres com mais  certeza tem seu estado  físico transformado, seu sentir diferenciado, seu comportamento mudado sem se saber porque. Permanecer no mesmo ritmo a  vida toda, não faria nenhum sentido.

Assim também não faria sentido  se ficar  todo o tempo fazendo as mesmas  coisas toda  vida.

 Mas o que fazer  no presente, para a  construção de um bem viver, de um não sentir-se  incomodar pelas atitudes do outro.  Chegamos ao outro que não conhecemos de verdade apesar de  muito tentar descobrir.

O outro, esse ser enigmático que jamais  poderemos saber o que é. Que habita em  cada um que não é o eu  mesmo. O que vemos  dele é  o que ele mostra e não o verdadeiro eu. E como nem todo  mundo tem a perspicácia de um psicólogo, o outro fica de verdade escondido, camuflado a  vida inteira, pelo menos para mim.      

Sou um narrador  intermitente, quero narrar o presente, pois o passado me enche a porra do saco, e  nada poderá mudá-lo, o que muda é o presente, isso que também já  foi nesse  exato momento em que  escrevo. E o que virá é o futuro que não sei, é o silencio que se impõe, hora a hora, até  o silêncio eterno, quando não mais se terá voz, tato, preocupação.  É assim que o narrador se  sente,  inútil  na existência. Em busca de uma  motivação, de um espaço de escrita, em busca de sentidos para escrever  Só a escrita viverá e  permanecerá   na imagem de  cada um que lê o que foi escrito.

        

 

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Passado que atormenta

Presos ao Passado

"Num romance que estou escrevendo há uma personagem a quem perguntam: «E onde irás ser sepultado?» E ela responde: «A minha sepultura maior não mora no futuro. A minha cova é o meu passado.»Mia Couto
E esse passado a atormentar-nos de formas diversas. O que nós fizemos ou não fizemos.  As decisões que tomamos e nossas escolhas  que nos ficam marcadas. O  "e se", a nós olhar o presente.  A dor que sentimos, o apego ao que  não se conseguiu superar e  nos  visita. 
Como deixamos  que os outros nos  magoem.  Como são cruéis e inconsequentes certos outros.  
Mas vai, vida é isso . Em poste é que  não  dá essas angústias. Essa raiva as vezes de sentir o que sua consciência é razão te reprimem. É literalmente Foda.