sábado, 18 de abril de 2020

Rotina







Quantas estrelas existem no Universo? - Mistérios do Universo


    
Vejo filmes, ando disciplinadamente na  minha rua deserta, faço yoga, lavo louça, faço comida, lavo roupa, leio, escrevo, arrumo.  Rotina  boa, conveniente, nada diferente de  sempre. Descobri Acrópolis, palestras, tudo que gosto, como se estivesse assistindo a uma aula me atualizo, me formo e não me informo sobre o que  acontece do lado de fora do meu reino.  
Faço conexões  com a vida pregressa, a minha e a dos outros, analiso amores,  detenho os  mitos e  penso na importância  dessas histórias para a humanidade.
Tenho em mente que aquele que sofreu o trauma e não consegue dele falar, não o superou. Isso só vai acontecer  quando falar, elaborar, reinterpretar o que  foi o trauma.  Não falar é colocar embaixo do tapete mais  uma vez o que viveu e não vai crescer nunca. Crescer  é ultrapassar uma coisa para viver outra,  crescer exige desacomodar, sair do cômodo, sair do estabilizado e ir viver. Parado  não se vive, parada  é a condição de quem desiste de viver. Viver é perigoso, viver não é preciso. Viver da medo. Viver é se expor, é se deixar, é  se questionar e se rever, Viver é rir de si mesmo, rir das merdas que faz tendo consciência  delas, mesmo que te doam, é assumir que fez e ser responsável por si mesmo, viver é não servítima, é não fazer  culpado todo o resto, é assumir que você  foi quem fez e   por isso paga a conta,  viver é se dar conta, é cuidar de si, se amar e se odiar, saber que pode errar mil vezes, e que pode  depois de errar acertar, viver é entender que existe um sopro, uma energia que te impele para falar, para sentir, para experienciar e não  parar.  Viver é dançar, é chorar, é ficar com raiva e também com amor e se permitir as duas faces da  moeda, pois que somos assim, temos anjos e demônios em nós, e saber disso nos faz forte para   controlar o que de pior temos e não deixar que nos façam mal, a nós e aos  outros. Viver é acima de tudo, amar a vida, gostar de ver, gostar de sentir, ter tesão pela vida por mais árdua que seja. Viver é isso, se permitir ser quem você é, sem se iludir.                   

Abril de 2020 -Pandemia mundial 1




Em casa, buscando livros que  ajudem na minha  pesquisa,vem sempre a mesma pergunta, será a que imagem da pandemia será aquela que muitos filmes nos fizeram crer? Será que tanta gente é assim tão visionária a ponto de  escrever em um mês livros e mais um monte de estratégias  de como fazer nesse momento, ou tudo não passa de um povo que só quer se aproveitar da  situação e ganhar um troco a mais.   Nada contra, cada um que se guie e  faça o que  seu ego mandar, e publique o que quiser e como quiser, tanto faz desde que não estrague a  massa mais do que ela já está estragada.
Não, não tenho visão pessimista, mas aqui da  minha janela toda vez que olho fico imaginando aquelas cenas de  filmes onde se tem uma terra  pós tudo completamente devastada por alguma hecatombe,  guerra,  meteoro,  e o ser humano lutando para sobreviver e deixando aflorar  a  sua mais cruel e dolorosa feição, do  ódio, do lucro, do egoísmo.
Hollywood está cheia de  exemplos, não vou pagar para vê-los nesse momento, mas  é a imagem do “Ensaio sobre a cegueira” a que  mais me vem a cabeça,  o livro é de José Saramago e o filme do Fernando Meireles.  Pensando no filme, vejo que estamos  ainda no início, na contaminação. E ela  é que vai  definir quem fica e quem vai. Lá  a morbidade do vírus  não é tão grande, todos ficam cegos, mas ficar cego não mata. Aqui  a contaminação também é aterrorizante, mas com o agravante de  que  o vírus  hoje, além de ser transmitido com super velocidade, também  mata, mata a todos  sem poupar classes, gêneros, credos, raças, idades.
Algo assim com tamanha letalidade a ficção não conseguiu fazer, ultrapassa  a nossa capacidade de  criação fazer algo que pode nos exterminar, sem que tenhamos um salvador, e talvez  por isso, por não conseguir racionalmente  dar conta de  entender e expressar não consigamos  criar. “Melancolia”, filme de  Lars von Trier, talvez seja o que melhor relate o embate onde não sobrará ninguém para contar.
Mas  o que  faz a ficção nesse momento? Faz pensar a realidade. Do alto do meu morro, numa posição privilegiada vejo a cidade e escuto, não me atrevo a  sair,  nem notícias  tenho visto. Mas hoje, sábado, o barulho é maior que de ontem.  Parece que tem gente que ainda não se tocou,  ou que num ato  inconsequente desafia o poder  do vírus. Mas também,  os exemplos de cima, não censuram o exercício de egoísmo, pelo contrário, até o estimulam.
Faz algum tempo que  as sociedades vem vendo crescer certos tipos e tribos que desconsideram completamente o que é humanidade. Discursos de tal forma  podres que nem tenho palavras para adjetivar, além de podre mesmo. Algo que  é tóxico para  a espécie e para o planeta, que não serve para  nada, e  o pior, um discurso que infelizmente agrega gente que  se pensa do bem, gente que  sequer pensa no porquê da sua indignação,  usam uma palavra chave, ‘corrupção’, para fundar a sua filiação a esse discurso, essa mesma palavra cuja ação   continua aí, e que  é  corrente em muitos que defendem a sua extinção. Eu tinha  vontade de entrar em certas cabeças  para ver  qual foi o chip  que foi ali implantado, pois sem dúvida a ação é digna de um  filme  arrebatador que no momento me foge a racionalidade.
Alguém um dia falou, uma mentira repetida mil vezes vira uma  verdade( frase batida),  e assim  foi o que aconteceu nos  vários  momentos da humanidade,  toda  história contada  é contada a partir de quem estava ali no poder para  contá-la, e  mesmo quando ela  fica sujeita a uma revisão,  a mentira  introjetada  é difícil  de sair.

Acho que  vivemos uma situação assim, e quanto maior a ignorância  geral, mais cruel o  processo de desinfecção  de retirada do vírus.   Vejo que socialmente  a maneira como certo  vírus entrou nossa sociedade  é muito semelhante  ao percurso  do vírus visto na  biologia, ele chega, se instala, vai desconstruindo  toda estrutura social organizada, contamina  tudo, promove  um desmonte ,se muda, camufla  e vai embora,  parece  outra  ficção, aquele filme  onde os alienígenas   vem pegar  toda a nossa energia, pois acham que diante do que vêem  isso aqui não tem  resgate, e  não temos, pelo menos  aqui, nesse momento, alguém que nos de esperança. Mas  aí, como que  diante  do inominável,  pequenos atos de esperança começam a ser vistos. A sociedade sem esperar por um Messias falso começa a entender que  o discurso era falso, que os planos não existiam, que tudo não passou de uma enganação e começa reagir, a se transformar. Vivemos um momento que ficará na história da  humanidade,  estamos frente a  frente com  o acontecimento do século,  que embora  não saibamos como terminará será um divisor de águas, se quisermos,  para  esquecermos  de muita coisa que fazíamos errado e que  precisaremos  modificar, que a  humanidade tenha olhos para se ver e crescer, sabendo que  do jeito que está não dá mais para ficar.  

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Esperar, esperar, esperar

Aguardamos o momento de sair, aguardamos o momento em que nos dirão, vai ... segue com sua vida e  continua ou transforma tudo que  tocares daqui para frente.
No entanto, essa expectativa de  futuro não sabemos  quando será. Ainda não atingimos a curva e depois dela não  temos  ideia do que nós seremos.
Tentamos a todo custo retardar nosso momento, nossos sentimentos mais profundos de  medo, angústia, sensação de  ineficiência diante de um monstro que  não podemos ver. Esse ainda pior que aqueles que nosso inconsciente produz ao longo da vida.
O que ele nos sugere não temos ainda condições de saber. Estamos  em casa, respeitamos às leis vigentes dos homens sãos, não a dos loucos de plantão. Respeitamos e seguimos às determinações, mas não temos  condições de  fazer mais, a não ser esperar.
Não temos competência  para ir a linha de frente, cuidamos  dos nossos que necessitam cuidados, saímos para trazer o que se precisa para ficar em casa.  
Mas  ao contrário do que podíamos  pensar, ficar em casa não significa que temos também condição de fazer o que devíamos, se estivéssemos por querer em casa. O ar tá preocupante, todos se envolvem com tudo, o medo está no ar e  a preocupação também, então como criar, como concentrar em várias  horas. 
 No sono, a dor aparece e te contamina, te faz acordar e tentar sair dela, às vezes ineficaz a saída e acordamos pior, cansados, exaustos, desgastados. 
E ainda  mais,  não bastava a questão viral temos ainda a política,   que  porra,   seria pedir muito para o tal homem que nos governa ser um pouco mais gente, sem ser um imbecil de plantão. Se não pode ajudar, se não pode acalentar os corações assustados do povo, pelo menos se cale.
Entretanto  o mal não descansa, ele  é vigilante e  segue no seu percurso fazendo o que mais sabe,  maldades, insegurança, divergência.

Queria ter uma bola de cristal  para entender a quem atendem esses indivíduos, a qual patrão, a qual    interesse maior, que o de vida da própria humanidade.
Penso que o  grande imperialista caiu,  tornou-se o centro de todo do mal invisível,  mas ele não me causa  arrepio, tem  dinheiro para comprar tudo que existe,  o que me causa arrepio e  dor  é  pensar naqueles em condições mínimas de  sobrevivência, como será que estão? Quem  fala? Como está a Africa? Como estamos nós de  verdade nos confins mais aterrorizantes, nos quartos lotados, nos mangues, nas ruas.
Somente reflexões para tentar  não pensar e esperar, esperar, esperar.