sábado, 13 de junho de 2020

Oração de mulher do seculo XXI a Santo Antonio









13 de junho: Dia de Santo Antônio. Conheça um pouco da história


Oração a Santo Antônio
Santo Antônio do dia, o senhor  sabe o quanto eu tentei, mas agora  cansei.  Cansei  de  ser a  mulher boazinha, a parceira que entende, a companheira que ajuda, que investe, que é forte e inteligente e  que no final só arruma a cama para a outra deitar. Nem  sei quantas  vezes  fiz isso. E vejo que  determinados homens são tão cegos, que não percebem que  usam  um discurso que na prática é outro. Elogiam as mulheres  decididas, independentes, inteligentes mas correm mesmo é para a vitimizada, dondoca e manipuladora.
 O momento é crítico no mundo, vendo os vários  filmes e  séries, chego à conclusão  que  a grande  maioria dos homens são uns cuzões.   São  homens que não sabem lidar com as mulheres de sua época.
Na minha geração os homens que topam se relacionar com uma mulher considerada forte, quando eles mesmos as julgam, não conseguem ficar muito tempo, eles piram. Isso porque eles não têm estrutura, dizem que não, mas tem medo dessas mulheres, se sentem  menores,  pois gostam  mesmo é das que se fazem, se dizem frágeis, que  são coitadinhas e os deixam naquela posição confortável de ser a única voz,  mesmo não sendo. Homens fracos, muitos até dependentes das mulheres, mas que mesmo assim tem voz ativa em alguns momentos, embora no todo sejam uns cachorrinhos com rabo entre as pernas e que na hora  do  vamos ver, fogem correndo gritando e  param na primeira mulher que tem aquele perfil que ele diz que não gosta.
Não  entendo Santo Antônio, acusam as  mulheres e  repetem o mesmo modelo de seus pais, mas não se dão conta disso. São  omissos, mas querem ter poder e muitos chegam às vias de  fato nesse afã. Está  aí a violência  doméstica nas suas formas que não me deixa mentir, quando não é pela agressão física é pela psicológica.
A mulher inteligente,  emancipada, dona do seu desejo para esses homens  significa problema. Eles não sabem como lidar com elas, conseguem uma relação por um tempinho e logo entram em conflito.  Eles às acusam de querer mandar, de ser isso e aquilo, mas na verdade eles é que são. Se a mulher brilha mais eles até as usam como uma joia, mas no íntimo não conseguem, ficam impotentes.

É  capaz  de  dizerem  essa mulher que lhe escreve é  uma mal amada vindo com suas teorias, mas não me importa, pois falo o que estou vendo.
Não fui a mulher que teve um homem só e casou e ficou ali aguentando o macho para chamar de  seu a vida toda.  Esse perfil não me pertence. Eu casei e descasei e não casei mais, não quis. Posso ter tido medo, não sei. Mas gosto muito de ser livre sem ninguém me dizendo onde devo ir quando quero ir. Poderia dizer que não estava disposta a fazer concessões, mas não era o caso. Até concedi demais.   Todo mundo busca um parceiro, estão aí os aplicativos  que não me deixam mentir Santo Antônio. Mas tem parceiro que dá mais trabalho que filho, e por mais que você se disponha a com ele comungar  você não consegue.
Meu santinho, eu posso  não ter dado sorte de encontrar o cara, encontrei alguns caras por algum tempo, mas que logo se transformaram  naquele modelo antigo. Pode ser que os mais jovens sejam mais interessantes nesse momento, pois já foram criados de forma diversa.  Tudo pode, porém numa análise, o que de certa forma continua a reverberar no contexto é esse filhinho de mamãe mimado, principalmente por aqui.
Não sei quando sairemos desse modelo,  Santo casamenteiro, talvez isso dependa  da forma como criamos nossos filhos e de como a sociedade, no momento, num  retrocesso conservador, dará conta de fazer as transformações. Mas meu Santo Antônio colabora com a  mulherada aqui,  olha para esses homens e faz eles crescerem, amém!

Show do Nando Reis


Maria chegou em casa e começou a assistir seu filme quando parou para ver a Live do Nando Reis, mas antes disso fez uma exercício de covardia consigo, acho que para se testar, para deixar de vez de alimentar qualquer tipo de relação que passe da simples amizade ou estado de compaixão pelo outro.
Não, não era do tipo que pisa em cachorro morto, em menos afortunados seja pelas burras escolhas que fez ou pela simples incompetência. Por isso, ela quando começa a pensar por que  ajuda, a quem a humanidade diria para não ajudar, diz, - eu ajudo pela  sanidade que gosto  de ver nas pessoas nessa quarentena.
Talvez tudo isso seja um tapa com luva de pelica na pessoa, e para si, somente a possibilidade de ver que ela é muito boa e consegue separar a compaixão da paixão.
Mas onde estaria a covardia? Estaria em ver, vasculhar a vida pública da pessoa no facebook e lógico, encontrar o que talvez fosse ruim, ou não ruim?
Mas tu é burra mulher, fala a voz da consciência. Mas talvez seja a maneira de apagar a cisma com choque de realidade, para ver que muletas existem sempre para  aquele que quer se sentir um pouco alguém,  um desgraciado diriam as séries espanholas que ela costuma ver durante a quarentena.
Não, Maria não é egoísta, nem consigo mesma. Mas agora também chega !!!  Chega de ajuda!!!  Tá de boa porra!!!.
Mas  foi ela  que ofereceu,  por isso a pessoa aceitou sem  pestanejar. Lógico  por que recusaria internet free para comer virtualmente sua atual. Só Maria em sua  piedade não via isso, ou tinha ilusão, essa famigerada que habita sua  mente pura de  compaixão.  Mas basta! ela  grita e  garante que será diferente  que  mandará o “hijo de la putana”  pedir para   quem se deu bem  nessa história  .Maria tenta despistar os inúmeros sentimentos que lhe cortam o pensamento e vê que se não fosse vasculhar não saberia e viveria no mesmo auto engano que vem se impondo faz alguns meses.
Maria, por que? Não precisava cortar com faca afiada sua própria pele. 
Mas talvez fosse necessário, para desiludir, para o sangue  espirrado acorde seu corpo inerte. Já passou seu tempo, na distância tudo é bom,  quando não se tem conflitos.
E Maria responde ao narrador. Senhor, assim mato de vez a fermentação que o diálogo provoca.  Nada mais Maria, diz o narrador. Se você continua nessa base de contato e dependência ficará mau para  você, ele não se dará jamais conta de qualquer coisa pois que só tem olhos para seu próprio umbigo. Então Maria, chega!!! Deixa o tempo apagar de verdade, por mais que você goste de se enganar.
O que você está dizendo? O que você está fazendo um é relicário imenso desse amor!!! O que está  fazendo assim!!! 



Tempestade











Atravessando a tempestade repentina – Rádio Trans Mundial



Clarice  me diz: Quase sempre é assim, quando algo acontece que mexe lá no fundo do ser, fico o dia inteiro na construção ou elaboração  de todo processo, no cultivo das dores e na busca de um fim para elas. Depois de pensar, pensar, pensar, escrevo, escrevo, escrevo para que tudo saia de mim como uma tempestade enorme sendo vomitada sobre a terra. Vomito tudo,  sai tudo e fico no final mais leve para um novo tempo. Muitas  vezes chego a inúmeras conclusões que  fazem parte do processo de existir. Penso basicamente em mim, na minha vida, nos amores que tive, na dor de outrora e o porque dela, e  na não compreensão da dor, na constatação de minhas próprias artimanhas para driblar minha consciência, descubro que menti para mim mesmo, que me enganava dizendo para mim o  que era e que na verdade não era, e também na  minha própria forma de  me desvelar do  meu auto engano.
A mente não é burra não, ela arma contra você, ela te convence do contrário  do que é a verdade e vai te levando até que você reaja e de um basta às suas próprias  mentiras. Aí  pode ser meio libertador. Dói menos se  você pensa que se traiu e que agora é para o seu próprio bem. Ou seja, somos  sempre dois dentro de  nós mesmos e equacionar isso é que dá trabalho ao ser, por isso psicólogo é caro.       

sábado, 9 de maio de 2020

Mesmo na imaginação, Sempre teremos Paris!!!







Guia de Paris - City Life - Istituto Marangoni



Sempre vi nos  filmes, que  quando as  pessoas estavam em cativeiro forçado,   o importante era estabelecer  rotinas dentro das possibilidades que tinham para que  o tempo passasse sem  que se desse a perda de seu discernimento. Lógico que não vou riscar  minhas paredes  com tracinhos para contar os  dias, pois numa prisão domiciliar no século XXI temos acesso a internet, aos livros e a qualquer coisa exceto o ir e vir da rua.
No entanto, para o  bem da  minha sanidade resolvi programar a  minha rotina dentro do mínimo possível com a  liberdade de trocar tudo, inverter movimentos, mudar horas, exceto é claro a  hora do panelaço na janela, que  não é determinada por mim.
Acordo às 8 horas, mais ou menos, agora sempre mais, levanto rapidamente tomo meu remédio para o estômago e deixo passar mais uma hora. Como faço isso? Na maioria das  vezes dormindo de novo por mais uma hora, até que me canso de estar na cama.
Levanto, vou a cozinha tomar meu café com leite, normalmente como também um pão feito por mim com algum queijo. Enquanto como, na mesinha da cozinha sentada de frente para os cactos,  sinto-me  em Paris. Talvez  porque exista ali um quadrinho daqueles que se compra em Montmartre, atrás da Sacré Coeur,  que tem a imagem de uma menina bebendo leite com uns gatinhos subindo em seu vestido vermelho, o dizer do quadrinho, uma propaganda, é, “ lait pur de la vingeanne stérilisé”.  Pois então, que ali naquele banquinho apertadinho, sinto como se estivesse sentada num daqueles cafés parisienses observando como um voyeur os cactos e o tomateiro. Converso com as plantas como se fossem gente, dou ultimatum a elas, ou ficam bonitas e elegantes ou abram espaço para outras que me contentem o olhar e o estômago. Outras  vezes no mesmo café eu ligo pelo whatzapp a um amigo e tomamos juntos o pequeno almoço colocando em dia as conversas do tempo, observando histórias e o povo que passa. Tempo temos todo, não perderemos o trem, nem o metrô. Não nos preocupa o frio, nem a chuva apenas os acontecimentos da rua, da política ou dos  filmes que assistimos na noite anterior. Sim,  o que seria de  nós sem os filmes  que nos embalam na  noite, para não sonharmos com a morte que se faz vizinha. Ganhamos ali um bom tempo, e a manhã já vai lá pelo meio quando nos despedimos até o dia seguinte, com outros amigos no café.
Terminado o preâmbulo  da  manhã arrumo a cozinha, lavo louças em silêncio pensando no almoço que farei e na opção da segunda  tarefa do dia. Sentar e ler, escrever, olhar pela  janela.
Mas tem dia na semana que tudo parece diferente, nesse dia levanto Sebastiana. Quando acontece não tem dia fixo, determinado, lógico que não sou  maluca de deixar acontecer duas vezes seguidas. Não, não tenho quadril para aguentar  isso. Nesse dia, quando Sebastiana incorpora, levanto tudo, passo o aspirador em toda casa, depois passo o Mopi, como um pano de chão úmido  com água e desinfetante, limpo os banheiros, tiro a poeira, faço tudo ao som de uma boa música. Quando acabo estou exausta e depois de um banho sento-me para ler uma coisinha.
Quando Sebastiana não desce, sigo a rotina lendo um pouco e depois escrevendo. Pela casa tem pequenas montanhas de livros, na sala eles ficam na cadeira ao terminar a leitura para consultar na hora da escrita. Na  biblioteca os livros ficam com outros arquivos e o computador de  mesa. Tenho ficado pouco na  biblioteca, já que  na sala de estar tenho me sentido mais alegre nesse período. Transferi pra lá a televisão, o tapetinho de  yoga, o quebra cabeças de mil peças que está a ser montado sobre a mesa e o notebook. Logo, vou a biblioteca pego o livro e na sala me divido sentada ora no sofá, ora no tapete, ora na mesa ou deitada no sofá. São  muitos caminhos para uma ou duas diversões,  quando não se pode sair.
Quando já vai o adiantado das horas, é metade do dia, almoço, sempre na sala. Como com o prato na mão e a televisão ligada. Vejo a entrevista do dia do Estado de São Paulo, embora eu more no Rio,  sem TV aberta, vejo pela internet.       
Passados 40 dias de quarentena, esse é o único momento em que eu vejo os jornais. Não quero mais saber quantas são os mortos, quanta gente tem chorando e quanta irresponsabilidade sai da boca de nosso governante. Não! me recuso a ouvir de qualquer um que a economia é  mais importante que a vida, pois toda vez que escuto isso fico sem dormir e  do alto  imagino  uma cidade deserta com seus prédios e completamente vazia. A humanidade dizimada pelos loucos de plantão no poder. Mas isso não é minha rotina, somente  vez por outra esse pensamento me acomete.           
Almoço, leio e escrevo ou ouço alguma palestra sobre filosofia, ou o herói de mil faces, faço isso montando o tal  quebra cabeças.
Entre quatro e cinco, a tarde começa a findar e minha diversão é conversar com as maritacas que passam na minha janela para o lanche. Antes da quarentena eu tinha comprado girassol e colocado na janela. Ninguém aparecia, mas agora fizeram daqui o pit stop antes de se recolherem da rotina diária de  voar e voar ecoando  seu berro agudo pelo bairro. Fico extasiada com elas, converso e filmo e depois distribuo para os amigos. Dessa mesma janela vejo a vida lá fora, ela  me transporta para a cidade,  plano com os olhos como um drone, ouço os pássaros no ar e vejo lá longe outras cidades: Caxias, Magé, o Dedo de Deus quando está bem claro. A esquerda vejo a igreja da Penha que tem ficado mais visível sem a poluição dos carros, a direita o aeroporto parado e ao longe o mar que separa o Rio de Niterói, vejo a grande  ponte, os navios chegando e saindo, as vezes buzinam, outras não, chegam suaves embalados pela maré. Olhando reto a catedral metropolitana  se impõe, assim como o relógio da Central do Brasil, que não é  mais o centro, e que quase despareceu do meu foco com um prédio novo que construíram. E tem ainda o aqueduto, os arcos da lapa, por onde corre meu bondinho que se encontra parado.
Quando  começa a escurecer ganho meu tempo a olhar cada luz se acendendo na cidade deserta, são como estrelas que vão surgindo em tempos diversos, vermelhas, verdes, brancas e amarelas. O risco da rua que sobe  tem iluminação amarela e no meio das estrelas parece um rio a traçar seu caminho. Sempre  fotografo, pois cada dia é um dia, cada dia os pensamentos pululam diferente e o sentir vai por si só se  borilando.
Chega a noite, 19 horas no relógio que acendeu, paro o que estou fazendo e pelo You tube faço uma aula de yoga. Estica daqui, força de lá, exercício para o quadril, puxa, estica, o limite de meu corpo é ativado, chego a suar no tapete da sala, esforço-me ao máximo e ao final shavasana que eu mereço. Saio revigorada, mas como uma boa preguiçosa não faço todo dia, e daí? Terá o amanhã,  estou presa mesmo!! Respondo sem piedade para mim mesma.
A noite já chegou, tomo um banho quente, bem quente, janto, depois de 40 dias jamais jornais, eles já chegam a mim por outras vias. Ligo o Netflix dolorosa a escolha  de um filme ou uma série curta, filmes de amor me deixam com saudade, comédias  bobas eu não gosto, mas tenho achado coisas  interessantes: filmes argentinos, espanhóis, franceses, poloneses e os tradicionais de Hollywood, todos dão prazer a minha curiosidade, compartilho-os com amigos assim como as experiências de cada dia.
Alice sempre me liga, meus pais e amigos também, tem dia que falo com vários amigos de viva voz e também com imagem. E o dia passou. Cada  dia, um por vez, nem sempre igual, pois tem dia que dou aula via internet, outro busco remédios para a  vizinha, outro vou ao mercado, outros tenho reunião de trabalho, mais sempre um pensamento é constante: vai passar!!! 

sábado, 18 de abril de 2020

Rotina







Quantas estrelas existem no Universo? - Mistérios do Universo


    
Vejo filmes, ando disciplinadamente na  minha rua deserta, faço yoga, lavo louça, faço comida, lavo roupa, leio, escrevo, arrumo.  Rotina  boa, conveniente, nada diferente de  sempre. Descobri Acrópolis, palestras, tudo que gosto, como se estivesse assistindo a uma aula me atualizo, me formo e não me informo sobre o que  acontece do lado de fora do meu reino.  
Faço conexões  com a vida pregressa, a minha e a dos outros, analiso amores,  detenho os  mitos e  penso na importância  dessas histórias para a humanidade.
Tenho em mente que aquele que sofreu o trauma e não consegue dele falar, não o superou. Isso só vai acontecer  quando falar, elaborar, reinterpretar o que  foi o trauma.  Não falar é colocar embaixo do tapete mais  uma vez o que viveu e não vai crescer nunca. Crescer  é ultrapassar uma coisa para viver outra,  crescer exige desacomodar, sair do cômodo, sair do estabilizado e ir viver. Parado  não se vive, parada  é a condição de quem desiste de viver. Viver é perigoso, viver não é preciso. Viver da medo. Viver é se expor, é se deixar, é  se questionar e se rever, Viver é rir de si mesmo, rir das merdas que faz tendo consciência  delas, mesmo que te doam, é assumir que fez e ser responsável por si mesmo, viver é não servítima, é não fazer  culpado todo o resto, é assumir que você  foi quem fez e   por isso paga a conta,  viver é se dar conta, é cuidar de si, se amar e se odiar, saber que pode errar mil vezes, e que pode  depois de errar acertar, viver é entender que existe um sopro, uma energia que te impele para falar, para sentir, para experienciar e não  parar.  Viver é dançar, é chorar, é ficar com raiva e também com amor e se permitir as duas faces da  moeda, pois que somos assim, temos anjos e demônios em nós, e saber disso nos faz forte para   controlar o que de pior temos e não deixar que nos façam mal, a nós e aos  outros. Viver é acima de tudo, amar a vida, gostar de ver, gostar de sentir, ter tesão pela vida por mais árdua que seja. Viver é isso, se permitir ser quem você é, sem se iludir.                   

Abril de 2020 -Pandemia mundial 1




Em casa, buscando livros que  ajudem na minha  pesquisa,vem sempre a mesma pergunta, será a que imagem da pandemia será aquela que muitos filmes nos fizeram crer? Será que tanta gente é assim tão visionária a ponto de  escrever em um mês livros e mais um monte de estratégias  de como fazer nesse momento, ou tudo não passa de um povo que só quer se aproveitar da  situação e ganhar um troco a mais.   Nada contra, cada um que se guie e  faça o que  seu ego mandar, e publique o que quiser e como quiser, tanto faz desde que não estrague a  massa mais do que ela já está estragada.
Não, não tenho visão pessimista, mas aqui da  minha janela toda vez que olho fico imaginando aquelas cenas de  filmes onde se tem uma terra  pós tudo completamente devastada por alguma hecatombe,  guerra,  meteoro,  e o ser humano lutando para sobreviver e deixando aflorar  a  sua mais cruel e dolorosa feição, do  ódio, do lucro, do egoísmo.
Hollywood está cheia de  exemplos, não vou pagar para vê-los nesse momento, mas  é a imagem do “Ensaio sobre a cegueira” a que  mais me vem a cabeça,  o livro é de José Saramago e o filme do Fernando Meireles.  Pensando no filme, vejo que estamos  ainda no início, na contaminação. E ela  é que vai  definir quem fica e quem vai. Lá  a morbidade do vírus  não é tão grande, todos ficam cegos, mas ficar cego não mata. Aqui  a contaminação também é aterrorizante, mas com o agravante de  que  o vírus  hoje, além de ser transmitido com super velocidade, também  mata, mata a todos  sem poupar classes, gêneros, credos, raças, idades.
Algo assim com tamanha letalidade a ficção não conseguiu fazer, ultrapassa  a nossa capacidade de  criação fazer algo que pode nos exterminar, sem que tenhamos um salvador, e talvez  por isso, por não conseguir racionalmente  dar conta de  entender e expressar não consigamos  criar. “Melancolia”, filme de  Lars von Trier, talvez seja o que melhor relate o embate onde não sobrará ninguém para contar.
Mas  o que  faz a ficção nesse momento? Faz pensar a realidade. Do alto do meu morro, numa posição privilegiada vejo a cidade e escuto, não me atrevo a  sair,  nem notícias  tenho visto. Mas hoje, sábado, o barulho é maior que de ontem.  Parece que tem gente que ainda não se tocou,  ou que num ato  inconsequente desafia o poder  do vírus. Mas também,  os exemplos de cima, não censuram o exercício de egoísmo, pelo contrário, até o estimulam.
Faz algum tempo que  as sociedades vem vendo crescer certos tipos e tribos que desconsideram completamente o que é humanidade. Discursos de tal forma  podres que nem tenho palavras para adjetivar, além de podre mesmo. Algo que  é tóxico para  a espécie e para o planeta, que não serve para  nada, e  o pior, um discurso que infelizmente agrega gente que  se pensa do bem, gente que  sequer pensa no porquê da sua indignação,  usam uma palavra chave, ‘corrupção’, para fundar a sua filiação a esse discurso, essa mesma palavra cuja ação   continua aí, e que  é  corrente em muitos que defendem a sua extinção. Eu tinha  vontade de entrar em certas cabeças  para ver  qual foi o chip  que foi ali implantado, pois sem dúvida a ação é digna de um  filme  arrebatador que no momento me foge a racionalidade.
Alguém um dia falou, uma mentira repetida mil vezes vira uma  verdade( frase batida),  e assim  foi o que aconteceu nos  vários  momentos da humanidade,  toda  história contada  é contada a partir de quem estava ali no poder para  contá-la, e  mesmo quando ela  fica sujeita a uma revisão,  a mentira  introjetada  é difícil  de sair.

Acho que  vivemos uma situação assim, e quanto maior a ignorância  geral, mais cruel o  processo de desinfecção  de retirada do vírus.   Vejo que socialmente  a maneira como certo  vírus entrou nossa sociedade  é muito semelhante  ao percurso  do vírus visto na  biologia, ele chega, se instala, vai desconstruindo  toda estrutura social organizada, contamina  tudo, promove  um desmonte ,se muda, camufla  e vai embora,  parece  outra  ficção, aquele filme  onde os alienígenas   vem pegar  toda a nossa energia, pois acham que diante do que vêem  isso aqui não tem  resgate, e  não temos, pelo menos  aqui, nesse momento, alguém que nos de esperança. Mas  aí, como que  diante  do inominável,  pequenos atos de esperança começam a ser vistos. A sociedade sem esperar por um Messias falso começa a entender que  o discurso era falso, que os planos não existiam, que tudo não passou de uma enganação e começa reagir, a se transformar. Vivemos um momento que ficará na história da  humanidade,  estamos frente a  frente com  o acontecimento do século,  que embora  não saibamos como terminará será um divisor de águas, se quisermos,  para  esquecermos  de muita coisa que fazíamos errado e que  precisaremos  modificar, que a  humanidade tenha olhos para se ver e crescer, sabendo que  do jeito que está não dá mais para ficar.