domingo, 28 de janeiro de 2024

O que não esperar

De prato requentado  não se deve esperar  o mesmo sabor.  Você já provou, já viu os doces e amargos que tem, já sabe defeitos e qualidades, já sabe  dos medos,  das fugas e dos desejos recolhidos que só o álcool libera.
 Não é a sua questão, não é o que poderá ser. Pois que isso já foi, vc sabe como é.  E sem dúvida isso não se quer.
Por esse motivo,  por saber que  não se quer, se deseja. Porque o desejo,mais que a razão é livre solto,sem amarras, sem questionamentos, não se deseja para cair na merda  se deseja para curtir o bom do momento. A falta de porquês,a não explicação, se deseja por desejar,o ser solto,o descontrole,a droga, o bailado, o gosto do corpo, o arrepio, o não pensar no amanhã,pois  que ele não existe. Ele é pura ficção, não se deve deixar que estrague o hoje.
O hoje é tudo. Se visse a mensagem poderia ter o hoje.  Mas talvez não queira ver, talvez tema. Talvez não seja tão livre . E requentar possa ser um problema em vez de um desejo.
Aí não posso ajudar, não posso brincar.  Tudo não pode ser dito, tudo deve ser camuflado, principalmente o desejo.  Puxa, humanos são complicados.

Um caderninho

Voltar a ter um caderninho com caneta  na bolsa. Sim, eis uma necessidade.  Certas horas  que preciso desse diálogo intenso comigo mesma, o que pela escrita faz toda diferença, o caderninho é providencial pois com ele não fico exposta nessa  nuvem ou qualquer lugar.  No caderninho ninguém lê,só eu, se tiver saco para mim mesma.  Do contrário ele ficará ali para posteridade e quando eu morrer tudo será queimado, já que não servirá de nada. Assim muitos escritos  do mundo inteiro. Se não é pessoa famosa seus escritos terão sempre o mesmo fim, a brasa, virar pó.  Todos aqueles sentimentos ali expostos quiçá lidos voltam para o buraco negro, poço de palavras que criam o mundo. O mundo é criado por palavras dessas que mudam de acordo com a combinação que fazemos. Cada um que usa uma palavra combina com outra e temos tudo o que existe, em todas as línguas que existem.
Eu por exemplo, poderia expressar, se soubesse, tudo que sinto em outro idioma. Mas só me resta esse em que  nasci.
Fico puta, fico triste pq poderia ser mais light esse meu relacionamento com o passado histórico de mim mesma.kkk  O fulano, o ciclano, o Beltrano. Mas apesar de tudo que vivemos seríamos ainda os mesmos? Teríamos ainda esses sentimentos estranhos. Ao que parece sim.  Eu ainda desejante do corpo. Ele apesar dos momentos já vividos, não sei em  que zona se encontra , habitando e sendo habitado por quais corações e sentimentos.
O que me resta  fazer? Não sei, nada provavelmente. Viver a vida e andar para frente.Mesmo  sem que eu queira nada daquele mato, nem o momento presente ele me parece estar a fim de  usar para gastar energias e jogar fora as mazelas do dia-a-dia.
Então, o que faço,  finjo que  não quero o que  quero. Fico blasé, faço cara de paisagem  e toco o barco. 
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