terça-feira, 28 de novembro de 2017

Sem viagem , sem , sem, sem...

Já é novembro,  ainda não decidi o que farei nas férias, além do trivial básico  de Mangaratiba, região dos lagos,  Teresópolis.
Preciso escrever o livro.  Não o livro da vida que vou explanando por aqui como dá e como posso.
Lendo um livro que Marcos me emprestou sobre uma viagem pela América Central fico pensando que é o tipo de viagem que não dá para ir sozinha.  Tenho medo!   Lugares muito inóspitos para uma jovem senhora. Já não tenho a coragem dos 22anos.
Além do mais, tem certas coisas que também não me interessam tanto.
Fui criada no mato e convivo com ele,logo nem sei.
O livro  tem muita informação de pesquisa etc.  Diferente do meu diário e de minhas reflexões às vezes tão pessoais.
Viajo também numa busca interior.  De me ver nesses espaços outros e me pensar de um outro ponto de vista também meu.
Como se me distanciasse . E me distanciar se faz necessário.
Vendo meu processo de  entendimento de mim e do outro.
O quanto me busco e o quanto o outro parecia fugir de si mesmo.
Entendi cedo que ser caçador de mim era o que me restava quando a vida me dava provas o tempo todo de sua incapacidade de entendimento.   Se não entendia a vida em seus movimentos,  e continuo sem entender,   queria pelo menos entender a  mim e ter um pouco de paz de espírito.   Talvez um pouco eu tenha conseguido.
Me sinto feliz com isso.  Saber o que quero nem sempre é  fácil.  O que não quero talvez seja um  pouco mais fácil saber.
Sou de libra e talvez isso explique um pouco a dualidade e a dificuldade de decidir, e mais, com ascendente em gêmeos.  Se decido rápido é porque sou impulsiva e temo depois não conseguir ir.
Daí a dificuldade de terminar relações.  Ou eu sinta no fundo que estava fazendo mais o que achavam que eu devia do que o que eu queria.
Ele  decidiu por mim.  Ou a nossa mútua pressão fez com que eu também não aguentasse mais.
Estávamos saturados. Tudo foi demais para nós.  O tempo dirá.  Acho que gosto igual, mas o gostar não é suficiente para o outro reagir.
Hoje ouvi sobre amor incondicional, o que é.  Acho que tenho isso ou penso que tenho.  Mas não acho que amo apenas o amor e esqueço a pessoa.  Na verdade é tudo junto misturado. E só.
Ontem doeu, chorei, chorar é bom.  Hoje mais leve ,triste ,procuro respeitar o tempo do outro.   

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Papo qualquer coisa ...








Uma semana sem conversa, sem briga ou desaforos do tipo -está jogando na cara. E ao que se chegou? Muitas análises feitas , analisar é fragmentação para reconstrução, pelo menos de sentido.
Mas que análises nos intrigam?  Aquelas que vem de fora ou as de dentro.
Se converso com alguns sobre os fatos,  o que é natural da  minha parte,  pelo menos na tentativa de expurgar,  vejo que a visão das pessoas diante de fatos tão reais é  assustadora. Ninguém entende tudo que fiz. As pessoas são mais racionais que eu, concluo.  Todos dizem : se não é para somar em tudo não se  justifica.  Fico  perplexa  ao ouvir todos me chamando de louca diante de tudo que ouvem. E isso é generalizado. Só não acha quem não sabe os fatos verdadeiros ou se ouve pela metade.
A grande questão que se impõe  agora é , e Eu.
No contexto geral,   racionalmente, se minha  visão não é  absurdamente parcial  , vejo o que perdemos.  Olho o outro,   vejo que  talvez não tenha perdido, pois pouco investiu. Economicamente zero,
emocionalmente talvez perto disso.  Me dizia que tinha perdido muito, pois perdeu o sonho. Mas que sonho que ele mesmo não se empenhou na hora certa para realizar.
Quem engorda o sonho e o realiza é seu dono.
Tudo isso fruto obviamente de um processo doentio que o indivíduo doente não se deu conta.  Ou se deu por momentos ,mas não acreditou.
E a vida seguiu.
Quando fui ontem ao espaço marítimo me dei conta do quanto, ele foi abandonado por quem deveria cuida-lo.
Tanta vergonha hoje se justifica, entendo agora o tamanho da perda dele e da minha também.
Estar lá,  me fez ver que a falta de coragem dele em estar comigo , tem o tamanho da vergonha que sente por ter deixado tudo de lado e por ter sido teimoso,prepotente, e incompetente.
Não é que não goste de mim,  mas não consegue me encarar depois que se deu conta de tudo que fez.
Creio que se  fosse avestruz estaria com a cabeça dentro do buraco até o fim dos tempos.
E eu não posso diante disso fazer nada.  Eu sei que fui a maior penalizada, a mais lesada. E talvez por ser íntegro é que é tão difícil para Ele me encarar.
Prefere ir , a encarar seus próprios fantasmas. 
Tenho certeza que já se encontrou com eles.  Mas como sempre não assume, prefere fugir deles ao enfrenta-los de verdade para se recriar, se livrar.
Não o culpo. Foi criado assim de forma irresponsável diante dos sentimentos dos outros.
Fraco, pela criação e pela doença.
E eu?  assusta não sentir falta,  assusta deixar de idealizar,  assusta se dar conta de talvez ter também feito tudo com base na idealização e não no sujeito real.
Como amar um sujeito assim? Como amar alguém que te repele por vergonha de si mesmo.
Como amar alguém que não quer e não aceita ser admirado, nem pela aparência e  nem pelo que provoca de bom no outro . Alguém que talvez preferisse ser rechaçado por mim a ter a minha compreensão.
Lidar com esse meu comportamento deve ser muito difícil. 
Essa pessoa que consegue em partes esquecer que foi esquecida ,ou lesada . Em partes.  Tenho consciência.
Mas como entrar na cabeça do outro? Começo a achar que esse caso, esse papo já tá qualquer coisa.
Se não cuidou em três anos, não será em uma semana que aprenderá. 
Eu penso e repenso. Ligo ou não?  Talvez eu tenha quase a certeza que para o outro será melhor abrir mão do que lutar e transformar a visão que criou de si para todo mundo.

domingo, 26 de novembro de 2017

Tempo ao tempo.

Somente o tempo, tudo passa -são as palavras que mais escutamos num período de luto.
Mas tudo é muito esquisito.  Ao mesmo tempo que se sente falta de não se saber o que.  Se sente certo alívio .
Me pergunto se me apaixonei pelo amor ou pela pessoa.
Talvez pelos dois fosse o certo.  Mas tem certa indiferença rolando .
Tipo, tanto faz como tanto fez estar junto ou não. 
E a cada dia que se perde o contato, mas distante se fica.
Espero que Ele esteja melhor .

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Sem título

Pergunto-me  o que vale a pena ,será que eu estou também vendo as coisas distorcidas.
A Monja Coen diz que o bom de já ter tido depressão é que identificamos quando ela   pode vir outra vez.
Tenho medo. Tenho verdadeiro horror de de novo passar por isso.
Como li hoje, ninguém passa por um mundo doente achando que ele é normal.
Um turbilhão de pensamentos transitam por mim. Dúvida nem sei de que.  Constatações, medo,  raiva, desilusão.
De novo a saudade do que não fiz,  do que poderia ter vivido e que foi tão gritado por mim e que não aconteceu.
Não creio que a tal da cara metade sinta um mínimo do que sinto.
Se sente, talvez o universo tenha nos pregado uma peça e deveríamos nos reinventar.
Mas não sei.  Certas coisas, conflitos pessoas promovem tal estrago que deixam o indivíduo cego.
Hoje vi retratos antigos,  no computador,  antigos mas vi. Estava a procura de foto para colocar no face.

A opinião dos outros sobre nosso relacionamento

Se tem uma coisa difícil nesse mundo é ter compaixão,isto é , saber se colocar no lugar do outro.  Ninguém sabe.
Se vc tem um relacionamento e ele vai mal por mil problemas e você sabe disso mas não consegue resolver pq não é da sua alçada, e por mais que vc faça tudo, não consegue, os outros sempre sabem. Sempre tem a solução para vc. Sempre sabem o certo a se feito.  Ou mesmo sem saber  eles acham que sabem , embora você insista em esperar. Mas a maioria das pessoas acha que vc tem que logo sair, abandonar,  esquecer, expurgar pela raiz. 
Todavia os outros falam isso para você e não para si mesmos.
A vida a dois exige muito mais que essas decisões simplistas.  Psicólogos são assim,simplistas com a vida dos outros.   Como se eles sempre tivessem razão e soubessem sempre o que fazer.
Queria que fossem capazes de tirar a dor,a frustração,  a angústia de quem sofre ,para isso a fórmula deles não é eficaz

Posso construir a maior ilusão.  Sofrer horrores diante  de um término  que não era para mim o ideal , mas apenas o Necessário, mas fui eu.
De novo na vida fico entre o ideal e o necessário.
Vence de novo o lado prático. O necessário sobre o qual terei muito o que falar.
Não vence o do sonho,  a vontade de conseguir ser feliz com alguém que você pensou ser a pessoa.
Por que a pessoa fosse ou não,   às vezes não temos condições reais de avaliar.
Teria sido diferente em outras condições?   Eis a pergunta que não cala. Talvez, sim, não.
Sei que não temos como saber,  nunca teremos.
Será que algum dia alguma luz se fará sobre isso?
Será que não foi e nunca será?  Será cedo para avaliar tudo isso?
Alguns dias apenas.  Sem muita certeza do foi feito.  Ou o fazer na esperança de que ele acorde.
Todavia  é preciso estar claro que ele não acordou aos 21 anos. Será que acordará aos 50?
Saí aos 21 com ele em condições muito melhores que hoje. Ele jamais se deu conta.  E hoje. Qual ilusão permanece em minha mente?
Eu acredito na mudança das pessoas,  mas será que existem condições para isso acontecer?
E se houvesse mudança, isso atenderia

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Como nós queríamos.

Como queria Maria ,que tudo fosse diferente.  Que aquela paixão adolescente sobrevivesse ao tempo, que não tivesse  tantas amarguras e que o João tivesse aprendido a viver.
Só que você Maria mulher foi mais adiante que ele. E ele não suportou ver isso.
Acho Maria  que  ele até te ama, mas é egoísta,  é prepotente e orgulhoso demais para reconhecer que fez tudo errado.
Maria, ele ainda vai penar muito. Sei que você tem pena dele ,porque com 50 anos recomeçar a vida não é fácil para ninguém. Mas você fez tudo o que poderia por ele. E ele não fez nada. Se está doente que se trate.
Você Maria tem que entender que já foi, que ele foi porque quis  ,porque não suporta ver você ser mais que ele na percepção dele.
E ele só volta se reconhecer que tem que mudar e se refazer. O ser humano é capaz disso.  Resta saber se ele é. 

sábado, 18 de novembro de 2017

Por que se casa?

Casamos por amor? Ou casamos porque  chega uma hora em que se pretende construir algo junto, criar família,  filhos, patrimônio.
Em alguns países ainda existe o dote e em muitos ainda os noivos só se conheceram depois do casamento.  Paquistão,  Índia, Africa,etc.
Em alguns ainda o casal é escolhido. Existe uma pessoa que vai junta-los. Israel é assim.
Me pergunto então se o amor é algo que vem com a convivência, o respeito,  a admiração.
A resposta é sim.  Às vezes somos apaixonados e a pessoa tanto decepciona  que  não há amor que resista.
Amor precisa de cuidado, ser regado,ser alimentado.  Se um faze outro não faz, não adianta, a dor sobrevem e uma hora vai estragar tudo.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Resistência

Às vezes me surpreendo como certas coisas não nasceram para dar certo.
A gente teima,teima,  esperneia para acertar e vem uma coisa mais forte e derruba tudo  que tentamos construir.
E muitas vezes quem derruba  está  cego por questões que nem sabe dizer. Mas prefere derrubar ,desconsiderar tudo.  Quem sabe um dia olhe para trás e se de conta que viver é construir, lutar,  buscar e não fugir,abandonar, deixar pra lá.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Perdão

Toda vez que sobrevem a necessidade de um gasto imenso provocado pela ausência e omissão do outro, percebo que ainda não perdoei plenamente.
Percebo o quanto é difícil passar imune por uma situação tão complexa como a que passei.  O grande investimento emocional e financeiro se esbarram no olhar para o outro e ver também que ele ficou ainda mais quebrado, simplesmente porque também já estava nesse processo.
Literalmente levou-se tudo para o buraco.  Deixei ,dei corda e também fui omissa por não ver o grau da neurose e pior, por não conseguir cessar a sangria.
A falta de visão e a desorganização foram os piores erros e a ilusão em
pessoas que não mereciam confiança.
Me dói enormemente quando penso o quanto  falei e que também me iludi.
Temo que com  isso tudo a relação não sobreviva.  Até porque o outro que foi culpado tende a se punir e fazendo isso me pune também.
Preciso falar para que me passe.  E eu consiga perdoar.

A dificuldade de se libertar da resistência

Comecei ontem a escrever impulsivamente e a bateria acabou. Ainda bem,estava de olhos  vendados.
O princípio da não agressão,não resistência precisa ser pensado o tempo todo para não sermos pegos de surpresa por nós mesmos.
Calma,respira para deixar a nuvem negra passar e você ficar observando de longe.
O distanciamento é a melhor maneira de sair do foco. Olhar sua própria questão como se não fosse sua.
Como uma nuvem negra que vai derramar tempestade em outro lugar.
Assim fazendo, a raiva,a desilusão perdem o sentido.
Sorrir ,em vez de fechar a cara. 

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Por wat zap

A vida nas redes e consequentemente as pessoas andam muito loucas.
Imagine que um rapaz resolve terminar um relacionamento com uma moça por mensagem. Só se falavam  por ai. Tanto que ,no zap ele a pede em casamento e pede o divórcio.  Até aí nada, antigamente se terminava por telefone.  Escutando a voz do sujeito ou da sujeita.  Isso porque certos términos podiam ser muito dolorosos e ao vivo e a cores não conseguiriam.
Mas então,  tarde da noite o sujeito resolve por fim a situação  que não sabia ser. Pois se queria casar com a sujeita ,como decide no momento seguinte comprar uma bicicleta?  Mas assim o fez. Terminou. Disse adeus.
Dia seguinte a moça do nada manda-lhe mensagem.  Sem entender muito bem ele recebe e agradece.????????
Perguntando o que estava rolando ela responde.  Uai... ele terminou no wat zap.  Mas não terminou no msn,no instagram,no Facebook  e  em todos os outros.
Moral da história:na era da rede e dos aplicativos  é mais complicado desconectar de alguém do que pensava nossa van literatura.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Raiar do dia de uma noite insone

Madrugada

Às vezes as peças da vida nos deixam de forma tão avassaladoramente sem ação, que o que temos que fazer é esperar  o tempo mudar,  a dor regredir, o sono chegar  e que tudo se resolva  sozinho, já que nossa intervenção não tem incidência sobre o problema.
O problema é do outro,não é seu. Mas o outro na sua loucura desesperada te impõe toda culpa.
"A culpa é sua ,porque não quer casar comigo, não quer que eu seja seu  dependente,  porque não quer resolver os meus problemas".
E subverte toda ordem de um discurso paradoxal,contraditório e próprio de quem tá perdido como uma micro estrela na via láctea.
Toda estrela tem luz,  mas essa não confia na sua luz e precisa de uma muleta, de um lampião para  funcionar.
O que fazer? Não podemos saber. Deixar que a estrela acorde, se de conta ,ou se choque com um asteróide?
Tudo que se diz a ela não escuta. Só te culpa.  Só te cobra. Só te,  e se penaliza.
Nem a van filosofia dá conta  da existência conturbada.
E o que se pode fazer?
Como se pode fazer algo para ajudar? Perguntas sem resposta.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Ajude-me, diz o personagem...



                                           Resultado de imagem para personagem perdido em marte





   Tudo começa com essa palavra, o personagem pós moderno se sente fragilizado, tem medo de  perder ,aí apela para uma lado estratégico das mulheres, o fato de querer  ajudar.  Aí a mulher se sente no dever, ou  imbuída de um certo espírito humanitário diante daquele ser perdido no mundo, e na vida. Ela começa a ajudar o ser que se vitimizou.
     No primeiro parágrafo, que tem uma linha, parece que  o personagem acordou, e que vai mudar sua forma de ver e fazer diferente, começar do zero, deixar para traz o que não valeu a pena  viver  e renascer.
   No segundo parágrafo ele  volta ao modelo antigo, questionando o inquestionável, resistindo, boicotando, fingindo ser o que ele nem  sabe ser. E diante disso, volta no tempo e no discurso, surdo, arrogante, prepotente,paralizado...
Lamentamos esse tipo de personagem ausente de si mesmo e dos outros, pois que só tem a perder, só tem sofrer , felicidade só com a máscara  e olha que não é ainda carnaval.  


EX-pulsão



Resultado de imagem para imagem de expulso
  

Não, não quero ler as páginas dos últimos  3 anos, causa dor como num processo de cura  de um câncer, em quem não quer morrer.
Não lerei, deixarei para posteridade e talvez daqui a 10 anos  tenha coragem de repassar como agora faço remexendo o baú.

 Que  estranha, que louca, quem consegue compreender essa nossa doidivana consciência inconsciente. O amor, o tesão, o carma, a moira, sei lá,  o que nos  faz assim com sentimentos tão enigmáticos que não conseguimos desvendar. Ou se conseguimos não podemos agir, ou não nos movemos. Que  vida é essa?, que coisa é essa?!!! Um susto, um medo talvez seja necessário para  o acordar. 8/11/2017.  

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Remexendo báu

 O Lago


Todo dia  a mesma coisa,  vestindo sua saia rosa,sua blusa de trabalho, trançando o cabelo negro e liso com duas tranças  grossas, colocando seu chapeuzinho coco Rosa Maria saí. Seu destino é o centro da ilha,  numa altitude de 3900,  sofrendo um impacto sobre a cabeça ela  vai até a escola do  vilarejo para saber as ordens do dia. Não só  Rosa Maria todos do lugar agem assim. Moram ali há gerações, cultivam o milho e a batata, base de sua alimentação e também a coca, está imprescindível para viver naquele lugar. Se não mastiga no canto da boca aquela folhinha sem caule, a pressão  age sobre sua cabeça e é insuportável viver.
Por milênios tem sido assim, todavia agora   há diferenças. Nunca a ilha foi tão visitada, nunca  se viu tanta gente diferente, com roupas    coloridas, sem chapéu. Mulheres de  cabelos  curtos e calças.  Eles  buscam a  vista, buscam   ver como somos o que fazemos, o que produzimos. As vezes tem um ou outro que  fica na ilha. Resolve largar a vida e permanecer conosco. Mas não dura muito, pois a altitude nesse lugar    expulsa a quem não está acostumado. A cidade  grande mais próxima é Copacabana, ali encontramos coisas que na ilha não tem. A ilha fica no meio do lago, Lago Titicaca, o lago. Por sua enormidade já se pensou que era mar. Fica entre o Peru e a Bolívia. Já  foi alvo de questões de fronteira, diplomáticas. Mas  continua ali como sempre. 

20/11/2012

Remexendo baú

A morte de Enrique Job Reynes


Quem era Enrique não interessa, mas sim como este morreu. Tem pessoas que morrem triste, outras morrem sonhando, morrem de morte morrida ou de morte matada.
Pero Enrique, nosso personagem,morreu de morte matada, embora estivesse já há tempo no caminho da morte morrida.
Era primavera, quando as chuvas se intensificam nas tardes  quentes que esperam o verão. Enrique saíra cedo de casa para trabalhar. Trabalhava  toda tarde  em seu ofício. Cercado de jovens ele falava sobre o fim, a morte, o fim das representações ou começo delas, o fim da vida, os deslocamentos, o fim do mundo. Compartilhava essas idéias com as pessoas já fazia tempo e suas investigações progrediam. Até que a idéia de fim, sem que isso levasse a um  novo começo, principiou a fazer parte do repertório intercorrente de seu pensamento.
Falava, agia, trabalhava, estudava e a ideia ali, não se movia, não aumentava, nem tampouco diminuía, mas estava ali, a deriva nos entre lugares  de outros pensamentos.
Era um homem reservado, falava pouco, tinha poucos amigos, uma vida serena em detrimento dos pensamentos conflitados que o torturavam. Queria entender os mecanismos das coisas e não as coisas propriamente ditas. Interessava mais aquilo que não era, do que o que era.
Quando a ideia que não se movia começou a fazer parte de seu cotidiano, ele não se preocupava, achava que não pensava o que de fato pensava. Se perguntado sobre a ideia, desconversava porque  não era a sua provocação.
Todavia a ideia estava ali, submersa em outras questões, escondida por sob os papéis, disfarçada em outras palavras, sempre a espreita. Até que naquele dia,  que era de primavera, e  chovia muito, Enrique, depois  de passar na casa de Delmira, sua amante, mas que não faz parte da história, saiu do mundo das representações do fim e fez seu próprio fim. Morte matada para os jornais.
Enrique Job Reynes, que outrora matara Delmira e depois se matara, dá cabo da própria  vida deixando a amante livre para criar a história dos dois. 


Imagem relacionada


Remexendo baú

Não é a Biblioteca de Babel

Meu primeiro livro traz a tona um questionamento antigo, se a realidade é linguagem, nós sempre estamos vivendo de literatura? Para mim parece que sim, ao inventar meu personagem a confusão  que aparece é se tenho o que vivi ou se invento o que vivi.  Os fatos são reais sempre, o que nunca é real  são as interpretações que temos deles. Cada dia  que lemos nossa vida e nossos diários  entramos nos hipertextos diversos que eles propõem , que são nossos  próprios parênteses das coisas que vivemos. Ao entrar nesse simulacro da escrita,  não conseguimos voltar, a vida e a literatura se misturam de uma tal maneira  que não sabemos mais o que foi e o que não foi.
Todavia, seja vida ou literatura a  dor lá está, a velhice, a doença, as perversões, as tristezas e alegrias também,  todavia essas menos criativas que as outras.
Expulsar o que me incomoda pode ser a razão disso tudo. Criar um outro mundo também.
Parece fácil criar uma história que nunca existiu, mas nada é mais complexo porque falta referencial. Só  criamos com o que  ouvimos dizer, com o que lemos, com o que pensamos que vivemos. Só assim, com base nisso tudo é que nos predispomos a falar. 

E quando falamos é  de nós, é  dos outros que também falamos.


Imagem relacionada

domingo, 5 de novembro de 2017

Paz de espírito e relação.

"Hoje é domingo pé de cachimbo..." Já faz tempo  que a  brincadeira de criança não é dita. E de repente você descobre que a tal maturidade chegou,  que você já faz parte do grupo que não sairá vivo dos  "enta".  Graças damos, por ter chegado a eles e não ter sucumbido a qualquer drama e tudo mais que envolve a vida.
Damos graças por estar com saúde, por ter planos,  por ter família e amigos,filhos ou não,  sobrinhos,  irmãos , pais e parceiros.
Tudo que realmente importa na vida, as coisas que escolhemos dar prioridade.  E principalmente ter alegria de viver.
A maturidade nos  traz certa paz, de que  vale a pena estar vivo e gostar da vida.  Todavia isso só acontece para quem tem  conhecimento de si mesmo.  Esse conhecimento mesmo que principiante nos dá  a segurança em relação a nós mesmos e aos outros e mesmo quando nos envolvemos com quem não se encontra no mesmo estágio, conseguimos ver  como é bom amadurecer.  Envelhecer é outro papo.
Todavia as vezes que topamos com pessoas da nossa idade  ,que não encontram essa mesma paz  ,de dentro do  ser ,ficamos um pouco constrangidos.
Isso porque,    tal paz depende sempre de nossa disposição para procura-la. E saber que ela vem de dentro para fora, é o que nos ajuda.
Quando eu tinha 20 anos, 25, 30,   me debulhava em lágrimas tentando entender os porquês da  existência, da divisão social, de tudo. Hoje querer saber isso em nada vai mudar o que sinto e o que acho que tenho que fazer.
Nunca saberemos mesmo, então   o melhor é fazer o que acho que devo.
Ser feliz em estar em paz comigo mesmo e o mundo ,já é a energia que  preciso.  Ter responsabilidade comigo mesmo e onde atuo já me ajuda a ser. E assim vamos vivendo.
Mas sei que antes não era assim.
Muita leitura me ajudou,  mesmo sem saber o que eu estava lendo ,eu lia.
Muito ensinamento dos gurus, muita busca pessoal e curiosidade.
Tudo isso me ajudou.  Lógico que tenho dúvidas, tenho insegurança, as vezes não sei  o que fazer ou como.  Mas isso é o que é a vida.  Se comprassemos a solução no mercado seria chato.
Mas só a maturidade faz sentir assim.
E com isso não tem solidão.   Estando em paz consigo mesmo não existe solidão. Podemos ter tesão, vontade de abraçar o outro e se misturar a ele corporalmente,  mas não necessita-lo espiritualmente, porque como diz Manuel Bandeira os corpos se entenden as almas não.   As almas foram feitas plenas  ,por isso qualquer outra alma é parceria e não necessidade de fundir.
Almas parceiras podem ficar juntas toda vida. Mas elas são plenas também sós.
Sem relação de dependência, sem relação de opressão ou qualquer outra que não seja a parceria voluntária.
Mas entender isso custa, ainda mais em certos tipos de sociedade.
Mas seguimos tentando,  driblando  na vida para alcançar a verdadeiro paz, o estado de graça verdadeiro.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Quando ela se dá conta?

Naquele dia ela recebeu uma mensagem dele dizendo que ela estava diferente.
Ela pensou,  pensou, respondeu qualquer banalidade pois não estava ainda preparada para encarar os fatos como eram.
Pensou ainda com seus botões na possibilidade dele se resgatar,prestar atenção em algo que estava deixando passar,  como por exemplo além de sua vida, a relação que tinham.
Mas talvez ele não se desse conta de que tudo se esvai pelo entre dedos da mão aberta ou fechada.
Mas ela estava incomodada,  se pelo menos ele fizesse algo que ela gostasse, uhn!! Por exemplo massagem. 
Mas...mas ele não fazia. Ela pedia,  e quando isso acontecia ele falava: Eu  também to precisando e nunca fazia. Ela fazia nele. A mulher sempre   acaba deixando de lado seu desejo e  fazendo o do outro.
E assim a caminhada ia sendo feita. Toda vez, além de não fazer o que ela gostava ele também não se esforçava para agradar.
A fala mais habitual era:não estou bem. Nunca estava, quando o que se discutia era o q ela cobrava, que não era nada de mal.
Mas ela ainda insistia.  Acho que amava o amor não amava ele.
O que ele  era tinha ficado  na pista,  sem empenho ele só definhava e não se dava conta de que precisava mudar,mudar com tudo e mudar com ela.
Ela já estava literalmente de saco cheio de infantilidades e falta de tudo.

Remexendo baú 2





Resultado de imagem para bau velho


Personagem



Compor um personagem não é fácil. É preciso que o conheçamos primeiro para depois falar dele. Ele deve  um existência em nós mesmos para depois criar vida. Deve ter um que de  misticismo, um que de desconhecimento também. Deve jogar tênis, e ser enigmático. Tem que se deixar penetrar e ser intangível ao mesmo tempo. Tem que gostar de livros e amar as mulheres, mas também judiar delas. Deve ser egoísta, se sentir o máximo e se sentir um merda. Deve lembrar os personagens do Canetti, e ser rude como os de Borges. Deve amar  os jardins, e viver  na torre para admira-lo de cima onde ele é mais bonito.
Deve querer  sair, querendo ficar, chegar querendo sair, gritar querendo calar.      
Meus personagens são assim,  reflexo de um  mundo conturbado, de uma garganta asfixiada, de um desejo reprimido, eles são sempre desejantes na  vida e na literatura. Constroem seu mundo para si mesmo e não permitem que  ninguém entre, quando alguém ameaça entrar, eles reagem. Uma rebelião de personagens,  todos correndo  desesperados a procura de autores que nem sempre querem existir. 6/11/2009


Série Remexendo o baú

O processo enésimo

Mais uma vez a denúncia foi feita, diante disso só resta apurar, verificar se  as provas feitas condizem com todo resto para depois ter um julgamento. O crime é o de sempre, erro na escolha  do personagem, dolo no envolvimento, achando que ele ia mudar,  ilusão em não ver o que as coisas são,ou visão  deturpada  pela fantasia do amor.
 O processo é longo, várias medidas interlocutórias, vários recursos, vários advogados  contra, todos advogam contra o desejo ,até mesmo o objeto desejado, que sumiu, não tem endereço fixo, não dá para ser citado. A ré  fica sozinha, ela e sua loucura de imaginar que algo poderia ser diferente do que foi.
Cada  dia de audiência uma pergunta diferente, um depoimento novo, questões que nunca vieram a tona. O que se escreve é diverso do que se fala. Parece que a ré tem dupla personalidade, escreve na dor tentando elaborá-la, racionalizá-la, mas tudo é em vão, com mil desdobramentos a dor permanece. Está fadada a ficar até que seja substituída por outra.
A ré tem momentos  insanos, tem horas que não sabe quem  ela é, se é ela ou outra. Se  auto-flagela por ter cedido, por ter investido. Tem os olhos fixos, tem a  face triste,  e a tez escura nos cantos dos olhos de tanto chorar.
Chorar não adianta, arrepender-se também não, o tempo não volta para desfazer o crime.
Sente culpa, muita culpa por ter investido em algo que sabia errado. Desde sempre foi assim, era errado pelo impedimento do casamento, depois foi errado pelo impedimento psicológico. Mas a ré, teimosa, achou que conseguiria separar,  como o desejado,  todas as partes. Não conseguiu. E ainda  foi agravado o crime pelo fato da ré dizer ao desejado que o desejava. Desejados não podem ser informados da verdade, devem adormecer na ingenuidade da criança, ou do intelectual diante da vida. No entanto, a ré o avisou, por isso foi denunciada e também por isso sofrerá a sanção.
Por se reincidente e já ter vivido muito  a ré pode, nesse caso, ter  alguns benefícios, como por exemplo,  a pena pode ser cumprida em menos tempo, mas isso é beneficio que não depende dela, mas da vida.          

O juiz julga: pena de reclusão, regime fechado, luto, dor com torturas psicológicas,dor pela falta de esperança, em saber que jamais será como imaginou. Frustração, a maior de todas.  Tudo é o que parece ser, nada é diferente. A  imagem que o desejado faz de sim mesmo é a que ele revela em todos os tempos, só acontece diferente nos filmes e nos livros.  A literatura e o cinema inventaram o final feliz, aos mortais cabe viver o final infeliz. 10/11/2009 

Resultado de imagem para menina do divertidamente