Olhando os amigos europeus
fico pensando no que fazer quando de
fato a liberdade temporariamente faltar.
Acho que vou colocar
a leitura em dia, vou arrumar a casa e organizar estantes de livros e papeis,
vou ver os filmes que deixei de ver e que tenham na plataforma, vou escutar música, caminhar no corredor de
casa, falar pelo aplicativo, ligar para
todos que estiverem de plantão e
quiserem fofocar um pouco sobre a falta de
liberdade, vou olhar pela janela e ver a cidade silenciosa. Não haverá o samba
que hoje ainda soa, não sei bem em que local, não haverá o burburinho que a
cidade tem de dia e que eu escuto de casa. Mas os pássaros que passam pela janela continuarão, os periquitos na palmeira também, quem sabe não se animam e aparecem para comer o
girassol que eu coloquei no parapeito, aí eu ficarei feliz se conseguir fotografá-los
e enviarei para todos os amigos e isso
vai virar festa, pois todos os presos em casa se imaginarão como os periquitos
da cidade, que fazem uma imensa
algazarra pela manhã.
Todos também terão tempo de pensar um pouco mais sobre sua
vida, sobre suas escolhas, sobre seu país e seu desgoverno e quem sabe alguns
dos presos não consigam de fato ver a realidade sem a lavagem cerebral que lhes
foi imposta, mas isso somente se
a máquina de fake news não for
alimentada, pois se for, é capaz de tudo
ainda ficar pior depois que liberdade vier.
Mas eu sou otimista,
o tempo vai passar, o vírus vai mudar e se fizermos certo a pandemia passa, como passou
a peste e a gripe espanhola, e eu sinceramente espero que com ela passe também a imbecilidade dos que
nos governam e a cegueira dos que o seguem.
E para todos fica a dica, “O
ensaio sobre a cegueira”.
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