domingo, 15 de março de 2020

Quando a liberdade faltar



Olhando os amigos europeus  fico pensando no que fazer quando de  fato a liberdade  temporariamente faltar.
Acho que  vou colocar a leitura em dia, vou arrumar a casa e organizar estantes de livros e papeis, vou ver os filmes que deixei de ver e que tenham na plataforma,  vou escutar música, caminhar no corredor de casa,  falar pelo aplicativo, ligar para todos que estiverem de  plantão e quiserem fofocar um pouco sobre a falta de  liberdade, vou olhar pela janela e ver a cidade silenciosa. Não haverá o samba que hoje ainda soa, não sei bem em que local, não haverá o burburinho que a cidade tem de dia e que eu escuto de casa. Mas os pássaros  que passam pela janela continuarão,  os periquitos  na palmeira também, quem  sabe não se animam e aparecem para comer o girassol que eu coloquei no parapeito, aí eu  ficarei feliz se conseguir fotografá-los e  enviarei para todos os amigos e isso vai virar festa, pois todos  os presos em casa se imaginarão como os periquitos da  cidade, que fazem uma imensa algazarra  pela manhã.
Todos também terão tempo de pensar um pouco mais sobre sua vida, sobre suas escolhas, sobre seu país e seu desgoverno e quem sabe alguns dos presos não consigam de fato ver a realidade sem a lavagem cerebral  que lhes  foi imposta, mas  isso  somente se  a máquina de fake news  não for alimentada, pois se for,  é capaz de tudo ainda ficar pior depois que liberdade vier.
Mas eu sou otimista,  o tempo vai passar, o vírus vai mudar e se  fizermos certo a pandemia passa, como passou a peste e a gripe espanhola,  e  eu sinceramente espero que  com ela passe também a imbecilidade dos que nos governam e a cegueira dos que o seguem.  E para todos  fica a dica, “O ensaio sobre a cegueira”.       


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