terça-feira, 5 de março de 2024

Carta aos não leitores.

 

Carta aos não leitores.

 

 Santa  Teresa, 05\03

 

Resolvi mudar o nome  de cartas  ao leitor para “cartas aos não leitores”, pelo obvio motivo de ser mais real e  verdadeiro. Não tenho leitores além de mim  mesmo e minhas aflições que  povoam esses  poucos escritos  bissextos.  Não chego a  tanto, já que fico mais  aperreada que pareço com as  coisas e  aqui é a forma que  tenho de desopilar a  mente e  fazer as reflexões. Não  pago mais  terapeuta.  Agora  a história é comigo.  Hoje  vi um post que falava, “ minha  mente é uma  eterna guerra  civil”, gostei, e é meio assim. Talvez já tenha  sido Guerra  mundial, primeira, segunda, Vietnam, mas  agora é  uma guerra  civil sem  muita  importância, se  é que isso existe. Tenho um pequeno tumulto dentro de  mim que não chega a ser um estalinho frente aos  outros que já tive.  Para  variar, e  mais  ainda agora, percebo em mim uma certa ironia quanto a  mim mesmo, o que pode ser interessante na atual  conjuntura.   Digo ironia porque  cultivo a sensibilidade de  rir de  mim mesmo e das merdas que  faço no tocante às coisas que  mais me  afetam. Sem  dúvida, na parte mais sensível  de um romântico, nem preciso  dizer.  Tempo  vai, tempo vem e tudo fica no mesmo lugar em tempo diferente. E  chego a  conclusão que  quando se  nasce  porta, se  morre porta.  O texto de  Leonardo Boff  fala da  águia e da  galinha, da  essência da  águia que  criada com galinha não sabia  voar, até o dia em que o sol entrou pelos  olhos e  a  coisa toda  veio a tona. Pois é, bonito que só, mas utópico aos olhos de  certas coisas.    Mas na  minha concepção  bem certo, porta e porta, se a porta  não abre, não posso ver o sol para  virar o que  eu quiser. Só  que o responsável pela a abertura da  porta infelizmente sou eu mesmo. Eu  tenho a chave,  mas fiquei acomodada e não usei e a fechadura emperrou.  E  agora  como faço para abrir?  Eu não sei, eu tenho  medo, algo me  prende dentro desse lugar que eu não consigo sair.  Por que?  Porque não quero, diriam alguns.  Por que me aprisionei durante quase  7 anos nessa  situação de  luto eterno, sem possibilitar  sair? E  ainda por cima cheguei  onde cheguei ano passado. Por que sinto tudo que  sinto e que me faz ter raiva de minha postura tão diversa da  grande maioria das pessoas. Qualquer  mulher e  homem já teria tido uma  porrada de  parceiros, mesmo que  só para  fornicar, eu não. Devo ser mesmo muito tapada frente aos  outros, ficar   fiel, fechada em algo que não existe. Se eu queria  provar que não era o que  teria sido dito, eu provei . A  pessoa é  um erro de  fato. Constrói narrativas  que assume como reais, mas que não são. São  pura  ficção de  alguém perdido  que  não se conhece de fato.  Cada   vez sou mais certa  disso, e  mais ainda por não saber  foge.     Ontem eu analisei esse  objeto do meu luto, hoje eu me analiso. O processo é esse, meu não leitor.

Analisei ele para nada, pois que me agradeceu sem nem ao menos ouvir. Patético, um ser que não evolui que não se conhece com mais  de  meio século de vida  e  só se repete inconsequentemente.

Eu fico pensando se  faço o mesmo. Não, não faço. Eu  me acomodei na minha clausura, na minha  solidão, que  não é ruim, na verdade um ser com guerra  civil interna não tem tempo para  solidão.  Pois que  o cérebro arruma sinapses para buscar o que  quer  o tempo todo.      

Eu  desvio e  volto.  Talvez essa  escrita  dure um dia. Ou  um pouco  mais já que  tenho tempo nesse  semestre.  O trabalho não me consome, tenho poucas turmas com o conteúdo pronto e  sabendo o que  fazer. Faço. Mas   me propus a  estudar. E aí  é que  pega. De novo  minha carreira de  formação  surge a  minha  frente. Pareço o cachorro que   roda atrás do rabo  antes de se sentar, pisa, pisa, pisa e pronto.   Que  estranho isso. Vai que  agora  da  certo.  Nunca se  sabe,  pelo sim ou pelo não   estarei com a torcida do flamengo no dia  5 de maio fazendo prova. Sem muito  saco.

Não  sei se isso me incomoda,   tantas  mudanças de profissão que já tive,  que  nem  sei. Reinvenções e  estudos  muitos para  driblar a  vida.  Não é simples, mas  vejo que  vou bem.  Dois  livros feitos, se concluíram dado o tempo que  precisavam. Posso  fazer outra pesquisa,  escrever sobre o que?

Talvez  seja  esse  momento de  finalizações o que esteja  me deixando um pouco assim esquisita. Fecho pós doutorado em cinema, fecho o livro da  família,  fecho,  quase lá  oxalá, a  venda do  barco, fecho aquela  história de amor. E fechada não vai  ter mais espaço para requentar. Será  isso que  me assusta, será  isso que tenho medo.  De fato não  sei.

Que  personagem  esquisita essa!!!





 Trincheira da Guerra Civil Espanhola 

Nenhum comentário:

Postar um comentário