Carta aos não leitores.
Santa Teresa, 05\03
Resolvi mudar o nome
de cartas ao leitor para “cartas
aos não leitores”, pelo obvio motivo de ser mais real e verdadeiro. Não tenho leitores além de mim mesmo e minhas aflições que povoam esses
poucos escritos bissextos. Não chego a
tanto, já que fico mais aperreada
que pareço com as coisas e aqui é a forma que tenho de desopilar a mente e
fazer as reflexões. Não pago
mais terapeuta. Agora
a história é comigo. Hoje vi um post que falava, “ minha mente é uma
eterna guerra civil”, gostei, e é
meio assim. Talvez já tenha sido Guerra mundial, primeira, segunda, Vietnam, mas agora é
uma guerra civil sem muita importância,
se é que isso existe. Tenho um pequeno
tumulto dentro de mim que não chega a
ser um estalinho frente aos outros que
já tive. Para variar, e
mais ainda agora, percebo em mim
uma certa ironia quanto a mim mesmo, o
que pode ser interessante na atual
conjuntura. Digo ironia porque cultivo a sensibilidade de rir de
mim mesmo e das merdas que faço
no tocante às coisas que mais me afetam. Sem
dúvida, na parte mais sensível de
um romântico, nem preciso dizer. Tempo
vai, tempo vem e tudo fica no mesmo lugar em tempo diferente. E chego a
conclusão que quando se nasce
porta, se morre porta. O texto de
Leonardo Boff fala da águia e da
galinha, da essência da águia que
criada com galinha não sabia
voar, até o dia em que o sol entrou pelos olhos e
a coisa toda veio a tona. Pois é, bonito que só, mas utópico
aos olhos de certas coisas. Mas
na minha concepção bem certo, porta e porta, se a porta não abre, não posso ver o sol para virar o que
eu quiser. Só que o responsável pela
a abertura da porta infelizmente sou eu
mesmo. Eu tenho a chave, mas fiquei acomodada e não usei e a fechadura
emperrou. E agora
como faço para abrir? Eu não sei,
eu tenho medo, algo me prende dentro desse lugar que eu não consigo
sair. Por que? Porque não quero, diriam alguns. Por que me aprisionei durante quase 7 anos nessa
situação de luto eterno, sem
possibilitar sair? E ainda por cima cheguei onde cheguei ano passado. Por que sinto tudo
que sinto e que me faz ter raiva de
minha postura tão diversa da grande
maioria das pessoas. Qualquer mulher
e homem já teria tido uma porrada de
parceiros, mesmo que só para fornicar, eu não. Devo ser mesmo muito tapada
frente aos outros, ficar fiel, fechada em algo que não existe. Se eu
queria provar que não era o que teria sido dito, eu provei . A pessoa é
um erro de fato. Constrói
narrativas que assume como reais, mas
que não são. São pura ficção de
alguém perdido que não se conhece de fato. Cada vez sou mais certa disso, e
mais ainda por não saber foge. Ontem eu
analisei esse objeto do meu luto, hoje
eu me analiso. O processo é esse, meu não leitor.
Analisei ele para nada, pois que me agradeceu sem nem ao
menos ouvir. Patético, um ser que não evolui que não se conhece com mais de meio
século de vida e só se repete inconsequentemente.
Eu fico pensando se
faço o mesmo. Não, não faço. Eu me acomodei na minha clausura, na minha solidão, que
não é ruim, na verdade um ser com guerra
civil interna não tem tempo para
solidão. Pois que o cérebro arruma sinapses para buscar o
que quer
o tempo todo.
Eu desvio e volto.
Talvez essa escrita dure um dia. Ou um pouco
mais já que tenho tempo
nesse semestre. O trabalho não me consome, tenho poucas turmas
com o conteúdo pronto e sabendo o
que fazer. Faço. Mas me propus a
estudar. E aí é que pega. De novo
minha carreira de formação surge a
minha frente. Pareço o cachorro
que roda atrás do rabo antes de se sentar, pisa, pisa, pisa e pronto. Que estranho isso. Vai que agora
da certo. Nunca se
sabe, pelo sim ou pelo não estarei
com a torcida do flamengo no dia 5 de
maio fazendo prova. Sem muito saco.
Não sei se isso me
incomoda, tantas mudanças de profissão que já tive, que nem sei. Reinvenções e estudos
muitos para driblar a vida. Não
é simples, mas vejo que vou bem.
Dois livros feitos, se concluíram
dado o tempo que precisavam. Posso fazer outra pesquisa, escrever sobre o que?
Talvez seja esse
momento de finalizações o que
esteja me deixando um pouco assim
esquisita. Fecho pós doutorado em cinema, fecho o livro da família,
fecho, quase lá oxalá, a
venda do barco, fecho aquela história de amor. E fechada não vai ter mais espaço para requentar. Será isso que
me assusta, será isso que tenho
medo. De fato não sei.
Que personagem esquisita essa!!!
Trincheira da Guerra Civil Espanhola
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