segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

No meu deserto








Fico  pensando em qual dos  desertos me insiro.   E  se    certas dores me são  boas  exatamente para  fazer o que agora faço, transcrever os  sentimentos, dar-lhes palavras que os constituam com a chancela de ser  sentimento.

Meu deserto é diverso do teu. Aliás você desconhece o deserto  porque não tolera nem de longe  vê-lo quanto mais  senti-lo.  E se não o sente não entende o que eu digo. Não falo de  dor no deserto, falo do quanto a sua aridez pode ser benéfica para eu entendê-lo.

 No meu  deserto eu aprendi a ver o que não via. Acho que  finalmente consegui entender  aquela pessoa que se sente no  deserto que não é como o meu, porque  ao contrário de  mim ela  fala, fala, fala, aí nada sobra para a escrita.

Então, mais uma  fase  da heroína.  Não sei dizer em que  fase estava.

Sete anos, parece  cabalístico   esse todo de ano.  Passou tão rápido,  com  um  recaída  esquisita. Que  não foi bem  recaída.  Foi como que um tropeço em um processo de  luto, que  não  foi bem elaborado.  E  o mais engraçado nisso tudo, é que sem falar para ninguém e para mim mesmo, tudo parece dentro da mesma estrutura no conjunto do sentir.

Eu reconheci que me deixei levar de novo.  Não sei dizer não. Não sei me impor, não sei nada.  Não digo que sou vazia, sou cheia. Mas não entendo. Nossa interpretação é o que percebemos do outro e não ele propriamente dito.       

No teu deserto

 No teu deserto



O título é belo e é de um romance do Miguel Souza Tavares, um escritor português muito lido por aqui.

Um  livro curtinho fala de uma relação em meio ao deserto. Entretanto, o deserto aí tem duplo sentido como tudo na vida tem múltiplas leituras. Um deserto espacial e um deserto existencial.

Agora na maturidade, se é que um dia chegarei nela, estou mais atenta aos sinais. Mas não sei bem de que. Para meu livro ( A heroína de mil fases) escrevo pensando no que nos torna mais maduros e nas agruras de sermos quem somos. 

Mas as vezes somos desertos e buscamos algo que nos faça florescer. Embora eu de fato pense que no deserto se juntam mais substâncias para a escrita do que na florescência. Na dureza do sofrimento  exposto é que  sem poder falar usamos a escrita para nos dizer algo que nem nós sabemos.

Eu não sei nada,  falando ontem a uma amiga dizia que  não tenho projeção de  encontros, nem tenho homens ideais. Acho que de verdade perdi  a esperança de  me chegar  algo.  E com isso se fechada já era, mais ainda  fiquei. Cansei de me auto iludir, essa  é a palavra, porque o movimento é meu,  nós  nos iludimos a nós  mesmos. Contamo-nos histórias que não são na maioria das  vezes reais  a partir do que  vemos.  Mas  queremos tanto acreditar nelas que acabamos mesmo por crer.

Eu estava aqui  a toa  esperando a hora de ir para um almoço em que  fui convidada e nada a fazer, preguiça de  trabalhar na revisão de um texto de vida de outra pessoa. E me deparo com a minha  própria  vida. 

O sentido da  vida é viver alguém disse, a missão,  será que  tem isso?  Viramos  também  empresas de  sentimentos, com produtos  a dar conta no fim, com metas a seguir,  resultados a  comparar. Que porra é essa?   Para  que  tanta  imposição?

Não  vou entrar nessa  vibe esquisita, porque  já  me cobrei muito e não quero mais. Mas que é foda  é.

Aí cai numa  página de facebook, como  muitas que existem, em que  não sabemos quem  escreve,  porque a  pessoa quer ser livre para colocar qualquer coisa que  pensa. Na verdade são suas angústias existenciais,  seus dramas e  vontade,  sua falta de liberdade, e reclamação com sua  própria vida. Ali a pessoa  desabafa e não  vai encher o saco de quem vive com ela.

Achei uma boa técnica.

Talvez  a literatura seja um pouco isso, a arte em geral. Mas tem diferença. Vejo poemas de amor ridículos, como sempre  foi qualquer carta de amor, já disse  Fernando Pessoa, mas que ali contentam o outro lado da  história. O ser que  se entende/sente amado e que precisa daquela adrenalina da  paixão para ficar  vivo.

Será que isso combina com a maturidade.  Uns dizem, eu nunca vou desistir de sentir isso e o amor vira uma espécie de droga que vicia e cada  tempo  a pessoa precisa tentar de novo, pois que a  adrenalina acaba e  a pessoa quer de  novo. E vai  trocando de parceiro e se  sente só,  e não sabe ficar só. Precisa controlar, ser controlado ter alguém para pensar e chamar de seu.  Pois sem isso perde o sentido.

Pergunto-me se  todos são assim.  Não creio. Tem casais que  ficam a vida toda, que viram parceiros e  se entendem. Mas tem  umas  pessoas que são tão egoístas que buscam essa adrenalina e  vão por aí fazendo vítimas, deixando os outros criarem ilusões.

Falei uma vez para  uma pessoa, que ela  sempre estragava tudo com essa sua mania de querer adrenalina. Que no fundo, ela  não sabia  o que era o amor, apenas a paixão. Acho que ela   não entendeu.

Eu mesmo não entendo, porque também creio já ter sido assim.  Mas depois de  tanto sofrer fiquei sem saco.  E uma coisa que não tenho é medo de  ficar só. Até  porque tem muita gente acompanhada que é só. 

Meus fantasmas  me fazem companhia, minha  escrita,  minha estranheza  e ansiedade.

Viver é muito misterioso, existir então, pior ainda( da máxima, penso logo existo). E tentar entender isso é  o top da  FODA!  

Penso antes de  escrever essa palavra. E  penso será que alguém vai ler está bosta que escrevo. E de repente quando entrei em uma estatística vejo que se  ninguém me lê, porque meus  blogs tem  minha assinatura, pelo menos entram na  página.

Mas eis que o acesso se dá. E examinado o outros e pelos outros talvez eu chegue a  mim.

De verdade, nesse esquenta e esfria que nos exige coragem, como diz  Guimaraes,   tem dia que é mesmo pra jogar  o lençol. Que não entendemos porra nenhuma de nada, de porque, de amor, de raiva,  de ilusão e se temos nisso tudo alguma ingerência . Muitas  vezes acho que não temos. A moira tá  sempre ali, para bagunçar tudo o  que  achávamos que ia para um lado e ela levou para o outro porque quis.      












domingo, 16 de fevereiro de 2025

O que passa

Aquilo que não se fala, o que não sabemos ou supomos  pode virar alvo de  nossa escrita e invenção.
Uma janela e um corpo que passa,  não cai. Passa apenas sem que se defina de quem , ou quem , ou  o que.
Homem, mulher,  os dois. Não dá para saber.
A luz, a distância turvam a  definição da imagem para a interpretação.
O coração dispara,  É ou não é, como assim.
Razões que a própria razão desconfia  num emaranhado de perguntas e autocensura.
Não sei porque isso ocorre.  Jamais eu saiba o sentido disso tudo que passamos.
O que move, o que fica é vai.
Não creio que um dia algo será  esclarecido.  Até porque para o ser envolvido tudo já foi, está bem. Sempre esteve e onça não se cutuca com vara curta. 
Começo a ter dúvidas se estar aqui é de fato uma boa, para o hoje e o futuro.  Mas preciso. Pelo  menos enfrento esse leão que me come sempre as entranhas.