No teu deserto
O título é belo e é de um romance do Miguel Souza Tavares, um escritor português muito lido por aqui.
Um livro curtinho fala de uma relação em meio ao deserto. Entretanto, o deserto aí tem duplo sentido como tudo na vida tem múltiplas leituras. Um deserto espacial e um deserto existencial.
Agora na maturidade, se é que um dia chegarei nela, estou mais atenta aos sinais. Mas não sei bem de que. Para meu livro ( A heroína de mil fases) escrevo pensando no que nos torna mais maduros e nas agruras de sermos quem somos.
Mas as vezes somos desertos e buscamos algo que nos faça florescer. Embora eu de fato pense que no deserto se juntam mais substâncias para a escrita do que na florescência. Na dureza do sofrimento exposto é que sem poder falar usamos a escrita para nos dizer algo que nem nós sabemos.
Eu não sei nada, falando ontem a uma amiga dizia que não tenho projeção de encontros, nem tenho homens ideais. Acho que de verdade perdi a esperança de me chegar algo. E com isso se fechada já era, mais ainda fiquei. Cansei de me auto iludir, essa é a palavra, porque o movimento é meu, nós nos iludimos a nós mesmos. Contamo-nos histórias que não são na maioria das vezes reais a partir do que vemos. Mas queremos tanto acreditar nelas que acabamos mesmo por crer.
Eu estava aqui a toa esperando a hora de ir para um almoço em que fui convidada e nada a fazer, preguiça de trabalhar na revisão de um texto de vida de outra pessoa. E me deparo com a minha própria vida.
O sentido da vida é viver alguém disse, a missão, será que tem isso? Viramos também empresas de sentimentos, com produtos a dar conta no fim, com metas a seguir, resultados a comparar. Que porra é essa? Para que tanta imposição?
Não vou entrar nessa vibe esquisita, porque já me cobrei muito e não quero mais. Mas que é foda é.
Aí cai numa página de facebook, como muitas que existem, em que não sabemos quem escreve, porque a pessoa quer ser livre para colocar qualquer coisa que pensa. Na verdade são suas angústias existenciais, seus dramas e vontade, sua falta de liberdade, e reclamação com sua própria vida. Ali a pessoa desabafa e não vai encher o saco de quem vive com ela.
Achei uma boa técnica.
Talvez a literatura seja um pouco isso, a arte em geral. Mas tem diferença. Vejo poemas de amor ridículos, como sempre foi qualquer carta de amor, já disse Fernando Pessoa, mas que ali contentam o outro lado da história. O ser que se entende/sente amado e que precisa daquela adrenalina da paixão para ficar vivo.
Será que isso combina com a maturidade. Uns dizem, eu nunca vou desistir de sentir isso e o amor vira uma espécie de droga que vicia e cada tempo a pessoa precisa tentar de novo, pois que a adrenalina acaba e a pessoa quer de novo. E vai trocando de parceiro e se sente só, e não sabe ficar só. Precisa controlar, ser controlado ter alguém para pensar e chamar de seu. Pois sem isso perde o sentido.
Pergunto-me se todos são assim. Não creio. Tem casais que ficam a vida toda, que viram parceiros e se entendem. Mas tem umas pessoas que são tão egoístas que buscam essa adrenalina e vão por aí fazendo vítimas, deixando os outros criarem ilusões.
Falei uma vez para uma pessoa, que ela sempre estragava tudo com essa sua mania de querer adrenalina. Que no fundo, ela não sabia o que era o amor, apenas a paixão. Acho que ela não entendeu.
Eu mesmo não entendo, porque também creio já ter sido assim. Mas depois de tanto sofrer fiquei sem saco. E uma coisa que não tenho é medo de ficar só. Até porque tem muita gente acompanhada que é só.
Meus fantasmas me fazem companhia, minha escrita, minha estranheza e ansiedade.
Viver é muito misterioso, existir então, pior ainda( da máxima, penso logo existo). E tentar entender isso é o top da FODA!
Penso antes de escrever essa palavra. E penso será que alguém vai ler está bosta que escrevo. E de repente quando entrei em uma estatística vejo que se ninguém me lê, porque meus blogs tem minha assinatura, pelo menos entram na página.
Mas eis que o acesso se dá. E examinado o outros e pelos outros talvez eu chegue a mim.
De verdade, nesse esquenta e esfria que nos exige coragem, como diz Guimaraes, tem dia que é mesmo pra jogar o lençol. Que não entendemos porra nenhuma de nada, de porque, de amor, de raiva, de ilusão e se temos nisso tudo alguma ingerência . Muitas vezes acho que não temos. A moira tá sempre ali, para bagunçar tudo o que achávamos que ia para um lado e ela levou para o outro porque quis.