A lasanha é um prato italiano que normalmente de faz para muita gente. Porque demanda muito trabalho e não é como uma pasta convencional que você faz um prato e acabou.
Faz-se o molho vermelho com passata italiana, o branco com noz moscada e a massa que eu comprei fora da cidade de uma marca que não vi nos supermercados daqui. Uma massa dura, mas que cozinha no molho, é finíssima , espero que boa.
Enfim passado o trabalho vai ao forno e esperamos o sabor final com o vinho.
Eu chamei a família, mas nem sempre é possível as pessoas se desenrolarem de seus problemas crônicos para saborear uma lasanha em minha casa.
Então comerei sozinha, porque confesso que aprendi muita coisa nesse contexto da solidão, que não é solidão.
Comer sozinha, cozinhar para mim é prazer, faço o que quero, abro o vinho se vou beber e desfruto da minha própria companhia, no domingo ou dia qualquer.
Não que ter outros me seja ruim, mas não ter também dá no mesmo.
Corrijo um texto de alguém que sofre de solidão, e vejo como a limitação é dolorida para as pessoas. A limitação física, nem conto, mas a psicológica é ainda pior. As pessoas não se tocam que se destroem e aos outros também. Chantagens emocionais estão no grupo da pior espécie e há que se ter cuidado, mesmo para sem querer, não faze-las.
Mãe são mestres nesse quesito. Vejo claro esse contexto no texto e na vida. Deve ser por ter parido se sentem nesse direito de exigência. Não pari, não sei da dor nem do prazer desse ato. Mas sei que as vezes elas extrapolam.
Mas a lasanha está no fogo, e já cheira. Eu queria marca-la nesse dia ímpar de estado de atenção na cidade e no Estado depois de tanta chuva. Já fiz outras, mas não só para mim. Para todos.
E a vida vai seguindo sem que tenhamos dela qualquer controle e apenas coragem para aceitar e mudar o que se pode Embora pouco se possa no sistema atual.
Acho que chega um momento em que tudo parece meio anestesiado e apenas esperamos o encaminhamento. Ganhar o mundo já não é nossa função, revolução não podemos fazer, sobreviver é o que fazemos. A diferença é se pensamos como ou não. Se rimos ou choramos com o que a moira, sempre ela, nos reserva. Eu não sei do amanhã, nem do profissional nem do emocional, vou, deixo a moira levar. Posso estar aqui ou em outro lugar, tanto faz, serei sempre eu. Porque talvez eu tenha me encontrado e tenha me permitido viver o que sou, essa miscelânia de desejos e vontades, essa cabeça que conjectura possibilidades e reflete, que não tem saco para alienação porque essa é pobre de espírito e isso me incomoda. Enfim esse ser que tem vontade de lasanha e vinho hoje.