Em casa, buscando livros que ajudem na minha pesquisa,vem sempre a mesma pergunta, será a que
imagem da pandemia será aquela que muitos filmes nos fizeram crer? Será que
tanta gente é assim tão visionária a ponto de
escrever em um mês livros e mais um monte de estratégias de como fazer nesse momento, ou tudo não
passa de um povo que só quer se aproveitar da
situação e ganhar um troco a mais.
Nada contra, cada um que se guie e
faça o que seu ego mandar, e publique
o que quiser e como quiser, tanto faz desde que não estrague a massa mais do que ela já está estragada.
Não, não tenho visão pessimista,
mas aqui da minha janela toda vez que olho
fico imaginando aquelas cenas de filmes
onde se tem uma terra pós tudo
completamente devastada por alguma hecatombe,
guerra, meteoro, e o ser humano lutando para sobreviver e deixando
aflorar a sua mais cruel e dolorosa feição, do ódio, do lucro, do egoísmo.
Hollywood está cheia de exemplos, não vou pagar para vê-los nesse
momento, mas é a imagem do “Ensaio sobre
a cegueira” a que mais me vem a
cabeça, o livro é de José Saramago e o
filme do Fernando Meireles. Pensando no
filme, vejo que estamos ainda no início,
na contaminação. E ela é que vai definir quem fica e quem vai. Lá a morbidade do vírus não é tão grande, todos ficam cegos, mas ficar
cego não mata. Aqui a contaminação
também é aterrorizante, mas com o agravante de
que o vírus hoje, além de ser transmitido com super velocidade,
também mata, mata a todos sem poupar classes, gêneros, credos, raças,
idades.
Algo assim com tamanha letalidade
a ficção não conseguiu fazer, ultrapassa
a nossa capacidade de criação
fazer algo que pode nos exterminar, sem que tenhamos um salvador, e talvez por isso, por não conseguir
racionalmente dar conta de entender e expressar não consigamos criar. “Melancolia”, filme de Lars von Trier, talvez
seja o que melhor relate o embate onde não sobrará ninguém para contar.
Mas o que
faz a ficção nesse momento? Faz pensar a realidade. Do alto do meu
morro, numa posição privilegiada vejo a cidade e escuto, não me atrevo a sair,
nem notícias tenho visto. Mas
hoje, sábado, o barulho é maior que de ontem.
Parece que tem gente que ainda não se tocou, ou que num ato inconsequente desafia o poder do vírus. Mas também, os exemplos de cima, não censuram o exercício
de egoísmo, pelo contrário, até o estimulam.
Faz algum tempo que as sociedades vem vendo crescer certos tipos
e tribos que desconsideram completamente o que é humanidade. Discursos de tal
forma podres que nem tenho palavras para
adjetivar, além de podre mesmo. Algo que
é tóxico para a espécie e para o
planeta, que não serve para nada, e o pior, um discurso que infelizmente agrega
gente que se pensa do bem, gente
que sequer pensa no porquê da sua indignação, usam uma palavra chave, ‘corrupção’, para
fundar a sua filiação a esse discurso, essa mesma palavra cuja ação continua aí, e que é
corrente em muitos que defendem a sua extinção. Eu tinha vontade de entrar em certas cabeças para ver qual foi o chip que foi ali implantado, pois sem dúvida a
ação é digna de um filme arrebatador que no momento me foge a
racionalidade.
Alguém um dia falou, uma mentira
repetida mil vezes vira uma verdade(
frase batida), e assim foi o que aconteceu nos vários momentos
da humanidade, toda história contada é contada a partir de quem estava ali no
poder para contá-la, e mesmo quando ela fica sujeita a uma revisão, a mentira
introjetada é difícil de sair.
Acho que vivemos uma situação assim, e quanto maior a ignorância
geral, mais cruel o processo de desinfecção de retirada do vírus. Vejo que socialmente a maneira como certo vírus entrou nossa sociedade é muito semelhante ao percurso
do vírus visto na biologia, ele chega,
se instala, vai desconstruindo toda
estrutura social organizada, contamina
tudo, promove um desmonte ,se
muda, camufla e vai embora, parece
outra ficção, aquele filme onde os alienígenas vem pegar toda a nossa energia, pois acham que diante
do que vêem isso aqui não tem resgate, e
não temos, pelo menos aqui, nesse
momento, alguém que nos de esperança. Mas
aí, como que diante do inominável, pequenos atos de esperança começam a ser
vistos. A sociedade sem esperar por um Messias falso começa a entender que o discurso era falso, que os planos não
existiam, que tudo não passou de uma enganação e começa reagir, a se
transformar. Vivemos um momento que ficará na história da humanidade,
estamos frente a frente com o acontecimento do século, que embora não saibamos como terminará será um divisor de
águas, se quisermos, para esquecermos
de muita coisa que fazíamos errado e que
precisaremos modificar, que
a humanidade tenha olhos para se ver e
crescer, sabendo que do jeito que está
não dá mais para ficar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário