Era um dia nublado, a névoa de inverno ocupava toda a
paisagem maravilhosa vista de cima.
Domingo de manhã muito cedo, a cidade dormia, o bairro dormia. Ninguém
acorda cedo nos lugares boêmios, exceto poucos animais de rua que saem para caçar
comida e os trabalhadores que vem de
fora para cumprir seus deveres e esperando
a cidade acordar.
Foi nesse dia que ela, tendo ido dormir cedo na noite
anterior, acordara com as galinhas no
domingo. Tomara calmamente seu café com pão requeijão, geleia e leite e
resolvera sair para caminhar, antes que a
névoa se dissipasse em chuva. Trocou-se, pois um calça de ginástica, uma blusa
da mesma cor, azul marinho, um tênis
branco e um casaco, pois a névoa deixa o frio mais intenso escondendo qualquer raio de sol. Pegou sua chave e saiu.
Carregava junto ao corpo uma pequena sacola com suas chaves, 10 reais e o
telefone celular. No rosto os grandes óculos escondiam os olhos da claridade matutina.
Saiu do
prédio, desceu sua rua, poucas pessoas,
somente ônibus quase vazios trafegavam. Foi andando, passou pelo Largo do
Curvelo, no descampado observou, olhando
morro abaixo, que quase nada se via. O
relógio da central não marcava as horas, estava escondido nas nuvens, passou
pelo largo dos Guimarães, o cinema fechado, a antiga padaria, o jornaleiro e o
posto policial. Seguiu a rua, o Simplesmente, o Mineiro, tudo fechado. Seguia
os trilhos do bonde que não passava. Seu ritmo era decidido, com pressa,
fazendo pulsar forte o coração, e o corpo
transpirar.
Desce a ladeira, na reta da Monte Alegre já respirava
forte, a velocidade da descida impunha a retirada do casaco. Em frente a uma placa de vendo de
um prédio em ruína branca, ela parou.
Junto dela uma outra mulher que levava um pequeno cachorro. Parou
chamada pela mulher que recolhia as
fezes do cachorro para colocar no lixo.
No meio da rua o ônibus se aproxima, dessa vez não
havia passageiro. O motorista buzina e a
chama convidando-a a entrar. Não conhecia
motorista, jamais o tinha visto. Quem seria? Por que convidava? Pensou
em Rodrigues seu noivo, pensou na missa em
que iria ao voltar da caminhada,
pensou na rua e no seu deserto . Olhou para um lado, nada viu, procurou a
mulher com o cachorro, também já haviam
sumido. Virou a cabeça procurando outros carros, não os viu e num movimento rápido atravessou a rua e
entrou no ônibus. Faltava pouco para o
ponto final, sentou-se no banco da frente mirando o motorista que entre uma curva e outra
lançava-lhe desejosos olhares. O ônibus
virou a rua Oriente, seguiu reto, desceu a Paula Matos, parou.
Na rua tudo
deserto. O dia amanhecia, a névoa começava a se dissipar. Logo, logo novos
ônibus chegariam e os passageiros também.
Saltou, caminhou
até a esquina, deu um ciaozinho tímido e foi. Certamente Rodrigues seu
noivo já deveria estar chegando para mais um domingo no parque. (ECC- O3\07\2011)
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