quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Rodrigueando





Era um dia nublado, a névoa de inverno ocupava toda a paisagem maravilhosa vista de cima.  Domingo de manhã muito cedo, a cidade dormia, o bairro dormia. Ninguém acorda cedo nos lugares boêmios, exceto poucos animais de rua que saem para caçar comida e os trabalhadores que  vem de fora para cumprir seus deveres e esperando  a cidade acordar.
Foi nesse dia que ela, tendo ido dormir cedo na noite anterior,  acordara com as galinhas no domingo. Tomara calmamente seu café com pão requeijão, geleia e leite e resolvera sair para caminhar, antes que  a névoa se dissipasse em chuva. Trocou-se, pois um calça de ginástica, uma blusa da  mesma cor, azul marinho, um tênis branco e um casaco, pois a névoa deixa o frio mais intenso escondendo  qualquer raio de sol. Pegou sua chave e saiu. Carregava junto ao corpo uma pequena sacola com suas chaves, 10 reais e o telefone celular. No rosto os grandes óculos escondiam  os olhos da claridade matutina.
Saiu  do prédio, desceu sua rua,  poucas pessoas, somente ônibus quase vazios trafegavam. Foi andando, passou pelo Largo do Curvelo,  no descampado observou, olhando morro  abaixo, que quase nada se via. O relógio da central não marcava as horas, estava escondido nas nuvens, passou pelo largo dos Guimarães, o cinema fechado, a antiga padaria, o jornaleiro e o posto policial. Seguiu a rua, o Simplesmente, o Mineiro, tudo fechado. Seguia os trilhos do bonde que não passava. Seu ritmo era decidido, com pressa, fazendo  pulsar forte o coração, e o corpo transpirar.
Desce a ladeira, na reta da Monte Alegre já respirava forte, a velocidade da descida impunha a retirada  do casaco. Em frente a uma placa de vendo de um prédio em ruína branca, ela parou.  Junto dela uma outra mulher que levava um pequeno cachorro. Parou chamada pela mulher   que recolhia as fezes do cachorro para colocar no lixo.
No meio da rua o ônibus se aproxima, dessa vez não havia passageiro. O motorista buzina e  a chama convidando-a a entrar. Não conhecia  motorista, jamais o tinha visto. Quem seria? Por que convidava? Pensou em Rodrigues seu noivo, pensou na missa em  que iria ao voltar da  caminhada, pensou na rua e no seu deserto . Olhou para um lado, nada viu, procurou a mulher com o cachorro,  também já haviam sumido. Virou a cabeça procurando outros carros, não os  viu e num movimento rápido atravessou a rua e entrou no ônibus.  Faltava pouco para o ponto final, sentou-se no banco da frente mirando  o motorista que entre uma curva e outra lançava-lhe  desejosos olhares. O ônibus virou a rua Oriente, seguiu reto, desceu a Paula Matos, parou.
Na rua  tudo deserto. O dia amanhecia, a névoa começava a se dissipar. Logo, logo novos ônibus chegariam e os passageiros também.
Saltou, caminhou  até a esquina, deu um ciaozinho tímido e foi. Certamente Rodrigues seu noivo já deveria estar chegando para mais um domingo no parque.             (ECC- O3\07\2011)


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