terça-feira, 28 de maio de 2019

Onde haja um tobogã .



Vamos  fugir,  ninguém  precisa saber,  vamos  para uma ilha grega, trabalhar num  hostel para pagar a acomodação e a alimentação pelo Workaway,  depois para uma fazenda na Itália e ainda depois para a  Inglaterra e  finalmente Portugal, a passagem  a gente resolve, precisa ter passaporte, mas isso é fácil, agenda  num lugar tranquilo.  As passagens eu resolvo  e a vida a gente inventa. Lá haverá  um tobogã pra  gente escorregar,  vamos brigar certamente, mas vamos falar  qualquer idioma que der, qualquer coisa que puder.  Não temos  o que preparar a não ser   que nos aceitem em tempo para  seis meses,  e que  nos aceitemos  para seis meses, e se  nada der, voltaremos e cada um segue seu rumo.   
Fato é que naquele dia eu tive  curiosidade. Ali estava  escrito,  vamos fugir?   a pergunta me chamou ainda  mais  atenção. Como  assim? Isso é verdadeiro ou falso? Alguém já havia me proposto aquilo?
Era 10 da manhã quando abri meu e-mail, coisa que não costumava  muito fazer, já que todos que comigo falavam tinham Wat zap ou msn.  Mas naquele dia eu abri. Ali vi uma carta, achei estranho o remetente. Era quem eu não queria que fosse. Afinal, já tinha passado tanto tempo daquele término e   incomodava-me receber cartas que me lembrassem  o passado. A última tinha sido  há uns meses, mas eu sequer tive coragem ou saco de  ler, sempre o mesmo reme e reme. Mas eu respeito,  cada um tem seu processo de  cura e eu realmente achava que tudo tinha sido desgastado, tanto que eu já vivia com outra pessoa.
Entretanto, aquela  não era uma carta  comum, era um convite que não podia ser  falado com ninguém, muito menos com quem me rodeava. Eu parei e li, pensei, pensei. Julguei uma brincadeira boba, um exercício  lúdico  que estava alguém fazendo comigo. Mas por que?
Passei dias com aquilo na cabeça sem comentar com ninguém.  Até  que tomei coragem  e  perguntei com uma única pergunta. “É sério?”. E mandei.

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