Teve um tempo em que as famílias ditas felizes eram encontradas nos anúncios de margarina. A vida que aparecia ali era uma utopia parecida com aquela que fala do casamento da princesa com o sapo e q é o inverso, isto é, ela casa com o príncipe e este vira sapo.
Hoje a coisa mudou um pouco. Não são mais os anúncios que moldam, pois tudo já foi moldado lá trás, agora são as fotos das famílias reais que correm atrás daquela moldura. A rede mostra tudo, tudo é feito para o grande álbum do mundo virtual, que sozinho vez por outra é lembrado pela inteligência artificial que nos mostra o que aconteceu anos atrás, para nós reverberarmos de novo ou não.
Tanto prolegômenos para nada. Ou só para dizer que alguém a todo momento muda sua foto para uma de família feliz, mesmo que tudo que seja colocado tenha um monte de sujeira e mágoa por debaixo do tapete.
Mas então a história da vida é na verdade aquela que nós contamos e recontamos aos outros e não a que realmente aconteceu. A cada tempo relemos as coisas e conforme a maturidade, tiramos um ponto, ou os reinterpretamos.
Foi assim, foi assado e falamos tudo de novo. Expomos as coisas que relemos, ou simplesmente, continuamos sem nada disso, e quando isso ocorre repetimos.
Acho que mulheres releem, homens não. O mais recente episódio me faz pensar assim. O rapaz colocou a foto da família margarina no seu perfil de whatsapp, que coisa linda, emotiva, tão forte e afetiva. A musa inspiradora ele e tal. Memorável a cena. Porque já foram tantos os amores da vida do sujeito que acho que realmente dessa vez ele se bastou, vai parar, pois que é tanto pedido de casamento que chega um momento que esgota. Ele está no seu momento paz, é o príncipe que ainda não virou sapo, será?
Todavia a outra pessoa da foto é escaldada. Sonhou com o amor da vida que esperou por tantos anos, mas que parece pisar na bola e a deixa dúvidas, quem não tem, caso ou compro uma bicicleta, ela sente as ausências e escreve num perfil anônimo que é seguido por ele. Inexplicável. São dois os personagens da história, um que se sente livre mas que é seguido pela figura que é o motivo de sua aparente insatisfação. Eu vou, não vou, se eu for, e se acabar, me tenho, as vezes uma depre aqui, outra acolá, é minha vida, preciso falar. Somos nós humanos assim, ainda mais quando vivemos com sujeitos que falam sozinhos o tempo todo.
Então, para um escritor tudo isso são estudos de personagens que vivem aí na vida real e que nós observamos para escrever personagenfs reais, cheios de dubiedades, de idiossincrasias e formas. Mas é assim a vida.
A distância cura, o olhar amadurece. E de fato o melhor para escrever é observar.
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