segunda-feira, 10 de março de 2025

Margarina, a personagem

 Teve um tempo em que as  famílias  ditas felizes  eram encontradas  nos anúncios de margarina. A vida que aparecia ali  era uma utopia parecida com aquela que  fala do casamento da  princesa com o sapo e q é o inverso, isto é, ela casa com o príncipe e este  vira sapo.

Hoje a coisa  mudou um  pouco. Não são mais os anúncios que  moldam,  pois tudo já  foi moldado lá trás, agora são as  fotos das famílias  reais que  correm atrás daquela  moldura. A rede mostra  tudo,  tudo é feito para o grande álbum do  mundo virtual,  que  sozinho vez por outra é lembrado pela inteligência artificial  que  nos mostra o   que aconteceu anos atrás, para nós reverberarmos de  novo ou não.

Tanto prolegômenos para nada. Ou só para  dizer que alguém a todo momento  muda sua  foto para uma de família feliz, mesmo que tudo que seja colocado tenha um monte de  sujeira e mágoa por debaixo do tapete.

 Mas  então a história da  vida é  na  verdade aquela que nós contamos e recontamos aos  outros e não a que realmente  aconteceu. A cada  tempo relemos as coisas e conforme a maturidade, tiramos um ponto, ou os reinterpretamos.  

Foi assim, foi assado e falamos tudo de novo. Expomos as coisas que relemos, ou simplesmente, continuamos sem nada disso, e quando isso ocorre repetimos. 

Acho que mulheres releem, homens não. O mais recente episódio me faz pensar assim. O rapaz colocou a foto da família margarina no seu perfil de whatsapp, que  coisa linda, emotiva, tão forte e afetiva. A musa inspiradora ele e tal. Memorável a cena. Porque já  foram tantos os amores da vida do sujeito que acho que realmente dessa vez ele se bastou, vai parar, pois que  é tanto pedido de casamento que  chega um momento que esgota. Ele  está  no seu momento paz, é o príncipe que  ainda não virou sapo, será?  

Todavia  a outra pessoa da foto é escaldada.  Sonhou com o amor da  vida que esperou por tantos anos, mas   que parece pisar na bola  e a deixa  dúvidas, quem não tem, caso ou compro uma bicicleta, ela sente  as ausências e  escreve num perfil anônimo que é seguido por ele. Inexplicável. São dois os personagens da  história, um que se sente livre mas que é seguido pela figura que é o motivo de sua aparente insatisfação. Eu vou, não  vou, se eu for,  e se acabar, me tenho,  as vezes uma depre aqui, outra acolá, é minha vida, preciso  falar. Somos  nós humanos assim, ainda mais quando vivemos com sujeitos que  falam sozinhos o tempo todo.  

Então, para um escritor tudo isso são estudos de personagens que vivem aí na vida real e que nós observamos para escrever personagenfs  reais, cheios de  dubiedades, de idiossincrasias e formas. Mas  é assim a vida.

A distância cura, o olhar amadurece. E de fato  o melhor para escrever é observar.   

 

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