segunda-feira, 28 de maio de 2018

Medianeiras

O  filme  MEDIANEIRAS de Gustavo Taretto sobre o qual escreverei para um congresso chama-nos atenção para questões  muito atuais: o excesso de comunicação ou meios de se comunicar e a grande solidão que se instaura apesar desses meios.
Quem encontra seu Wally na cidade que o preserve, pois o momento é crítico .
Talvez pelo excesso de formas de não contato real e de contato virtual apenas,  cada vez as pessoas me parecem mais intolerantes com as outras e não admitem nada que fuja do seu padrão .  Tudo bem que muitas vezes a pessoa tá mal,  passou por uma daquelas porradas explícitas da vida e se coloca como irredutível a qualquer apelo. Mas  como saber? 
Na época do filme existiam os chats , tanto que eles se encontram  ali. E hoje tem os aplicativos. Mas, talvez por falta  histórias para alimentar minha análise , as coisas continuam iguais. A solidão das pessoas  continua a mesma.
Aceitável que vez por outra estejamos fechados para balanço, mas me pergunto por que nos colocamos assim ?  Medo do outro,  medo de escancarar a janela,  medo das cobranças alheias,  vergonha de não dar conta da própria vida. O que será?
No filme 2 casos diversos mas iguais em resultado,   Mariana  4 anos num relacionamento  que termina e ela sente a dor de ter gasto tanto tempo da vida. Mas será que é de fato gastar. Os personagens são jovens, mas tempo vem e vai e os desencontros continuam . Quando se tem menos idade ficamos na expectativa do destino,  quando mais tarde vemos que o destino somos nós quem fazemos. Aí olhamos para trás e haja estrutura para olhar de verdade,  ver os problemas, CORRIGIR-se , e seguir adiante. Isso sozinhos e também acompanhados. Os chamados "tempos ", das relações modernas talvez sejam para isso. Remodelar a máquina, por óleo e botar para funcionar de novo com novo gás.
A questão é que tem muita gente que prefere não ver  sua responsabilidade sobre sua própria vida e se comporta como um vitimizado não faz nada   e segue infeliz. Ou seja, deixa a máquina emperrar e não vai nem para frente nem para trás.
Um outro filme , esse francês que assisti faz pouco tempo ,a questão é parecida.  "Deixe a luz do sol entrar" onde a personagem    mais velha um pouco vai se deparando com uma infelicidade nas relações. Vai testando e apesar  de estar aberta não consegue achar.
O que está acontecendo? Por que tantos desencontros e desencantos?
Será que fazemos parte  de um grupo  fadado a viver a eterna procura?  Ou o eterno retorno do Nietzsche?  Ou mesmo sermos Sísifos que carregamos a pedra até o topo da montanha e quando lá chegamos ela nos escapa e rola montanha abaixo e temos que subir de novo.
Talvez estejamos precisando reavaliar o que é importante .  No filme Medianeiras o rapaz  Martín perde a namorada,  tem síndrome do pânico,  se isola na caverna, seu apartamento caixa de sapato ,  faz terapia e me parece mais aberto que a maioria dos homens que vemos por aqui.
Tudo bem que a Argentina tem uma forte tradição na psicanálise.
Sei que os filmes nos suscitam divagações, questionamentos, as vezes acabamos escrevendo além da conta. Mas que fazer?  A vida é isso mesmo. E viva quem vive se dando conta do que  faz.  Quem não está na engrenagem massificada de trabalhar sem pensar,  ou para apenas fugir.
Medianeiras dá muito toque  para nossa vida e nossas relações na cidade,   enfim  numa quase comédia romântica  nos diz que  temos que nos esforçar   para encontrar  Wally   e mante-lo  o que é mais difícil em tempos de desencontros.

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