Tenho pena, tenho pena das cidades que se desfazem no tempo.
Desde criança queria ser viajante. Alguém
que perambula pelos lugares mais diversos observando, vendo, sentindo
sua energia. Agradava-me pensar no ser nômade, em busca de comida e sensações.
Talvez um Flanêur ou um Marco Pólo desbravando os espaços perdidos. Cidades da
imaginação, invisíveis e visíveis, todas
querendo se mostrar para o descobridor.
No entanto esse descobridor o que busca , não sabe. Riquezas,
fortuna, cultura, amor, o que? Quando chega
na cidade nova, lembra de imediato da sua, como diz o poeta lembra “ do
rastro de sua cidade no tempo”, mas quando volta à sua cidade o que vê não é mais o que lembrava, é
uma outra cidade,deformada por seus moradores, cidade que não quis
envelhecer, e que se transforma monstruosamente.
As casas são outras, os moradores são outros, as praças
desapareceram, as pedras foram trocadas, ou morros ocupados desregradamente.
Procura-se uma cidade. Aquela da lembrança das fotos no
solar. Da lembrança dos moradores
antigos, aquela que lutava para aparecer
e que sobrevivia ao progresso
desenfreado que não leva a nada.
Mangaratiba...
Seu rastro no tempo amarelou, ficou drumondianamente, pregado na parede das casas, ou no museu do
solar.
Suas praças
deram lugar aos carros, um estacionamento. Carro vale mais que gente sentada sob a
arvore pegando fresca. Seu trem também foi comido pelos carros. Sua mata de
contorno vai sendo arrancada pelos invasores
que não se importam com a sua beleza. As fachadas, AH! As fachadas,
letreiros enormes apagam suas datas de nascimento, seus desenhos de estuque,
sua estatuas de enfeite, até a igreja de Nossa Senhora da Guia agora tem
galhardete na frente, enfeiando seus últimos azulejos portugueses, colocados na
sua construção .
Onde está minha
cidade, onde está minha igrejinha branca e dourada, que se identificava com
todos que tinham pelo menos 100 anos.
Minha cidade sumiu,
não foi inundada pelas águas, foi inundada por uma onda feia, que
descaracteriza, que se desmaterializa da
memória em busca do lucro.
Não mais a
reconheço. Percorro por meia hora suas ruas. Na pressa de tirar ainda
fotos do pouco que restou da cidade antiga. Pior que derrubar é
arrancar os pedaços, a morte é lenta, dolorosa. Quando matam de vez,
como fizeram com São João Marcos, a
lembrança que fica deleita a memória dos
vivos. Mas quando transformam a cidade
num Frankstein não tem jeito. Só mesmo apelando para a Senhora da Guia. Tenha
piedade de Mangaratiba. 22\01\2013
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