terça-feira, 5 de março de 2019

Pensar e conflitar

De repente percebemos que  o que sentimos não é exclusividade nosso.  Que nosso famoso descontentamento pode ter uma origem muito mais essencial que pensávamos.  Não  era  o homem da vez, nunca foi. Era eu mesmo, eu sempre, eu que  entendo, que necessito aceitar que sou assim, e transformar  tudo isso em algo que, na pior das hipóteses, sirva para alguém ler e se identificar.
Aos 50 descubro que tal sentimento sempre existiu e fez parte de mim. Algo que não sei ao certo explicar, que não sei ao certo como sinto.  Tal como não saber se tem enjoo porque comeu ou porque tem  fome.
Investigo-me incessantemente, numa caça solitária de mim mesma.  Vejo-me  desgarrada de tudo,  numa completa sensação de não se estar de todo em nada.
Lanço-me no abismo do vazio, que eu  mesmo precisei criar.
Com o verbo construo o meu sentir, que não é apenas meu.
Amor,caridade, entrega,  nada me basta. Tudo  não fecha o hiato. O espaço entre a própria  vida e o resto.
Quando não me senti assim? Não sei precisar.
Cada fase tem um nome, J, A, M, P,  G, A, etc e tal. Muitos nomes para um mesmo sentir.
O que tem a ver com os homens?  Talvez nada.
Talvez seja apenas um aspecto parcial da minha subjetividade. Um pouco Clarice, que prepotência, meio Virgínia, meio Katherine. Como saber?
Narro-me no intuito de  desvendar-me.
Por que  constatar   que pensar em A  é desviar do  abismo que me cerca?
Parar e refletir em tudo que não era  e que por ilusão fiz pensar que foi.
Será que me liam como eu era?  Se meu discurso era de retração e minha ação de entrega plena?
Como alguém diz que não quer e constrói uma relação que ultrapassa o campo do amor para ir para um planejamento  de futuro pleno? Assim eu fiz, uma completa contradição. Só não via quem não queria.
E a loucura de não saber o que fazer?  A espera de que a força imposta pelo externo desse à relação o que  seria seu caminho inevitavel , a morte.
A rota de fuga foi dele, e minha foi a  incapacidade de lidar  com a rejeição, mesmo sabendo que ela era imposta por uma condição doentia.
Foi, não cabe mais a mim gerir essa  questão, entrego ao universo e perdoo, perdoo, perdoo, a mim, a ele  e a quem não me fez entender o que comigo e com ele passava.
Mas agradeço,agradeço e agradeço a possibilidade de um amadurecimento .

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