De repente percebemos que o que sentimos não é exclusividade nosso. Que nosso famoso descontentamento pode ter uma origem muito mais essencial que pensávamos. Não era o homem da vez, nunca foi. Era eu mesmo, eu sempre, eu que entendo, que necessito aceitar que sou assim, e transformar tudo isso em algo que, na pior das hipóteses, sirva para alguém ler e se identificar.
Aos 50 descubro que tal sentimento sempre existiu e fez parte de mim. Algo que não sei ao certo explicar, que não sei ao certo como sinto. Tal como não saber se tem enjoo porque comeu ou porque tem fome.
Investigo-me incessantemente, numa caça solitária de mim mesma. Vejo-me desgarrada de tudo, numa completa sensação de não se estar de todo em nada.
Lanço-me no abismo do vazio, que eu mesmo precisei criar.
Com o verbo construo o meu sentir, que não é apenas meu.
Amor,caridade, entrega, nada me basta. Tudo não fecha o hiato. O espaço entre a própria vida e o resto.
Quando não me senti assim? Não sei precisar.
Cada fase tem um nome, J, A, M, P, G, A, etc e tal. Muitos nomes para um mesmo sentir.
O que tem a ver com os homens? Talvez nada.
Talvez seja apenas um aspecto parcial da minha subjetividade. Um pouco Clarice, que prepotência, meio Virgínia, meio Katherine. Como saber?
Narro-me no intuito de desvendar-me.
Por que constatar que pensar em A é desviar do abismo que me cerca?
Parar e refletir em tudo que não era e que por ilusão fiz pensar que foi.
Será que me liam como eu era? Se meu discurso era de retração e minha ação de entrega plena?
Como alguém diz que não quer e constrói uma relação que ultrapassa o campo do amor para ir para um planejamento de futuro pleno? Assim eu fiz, uma completa contradição. Só não via quem não queria.
E a loucura de não saber o que fazer? A espera de que a força imposta pelo externo desse à relação o que seria seu caminho inevitavel , a morte.
A rota de fuga foi dele, e minha foi a incapacidade de lidar com a rejeição, mesmo sabendo que ela era imposta por uma condição doentia.
Foi, não cabe mais a mim gerir essa questão, entrego ao universo e perdoo, perdoo, perdoo, a mim, a ele e a quem não me fez entender o que comigo e com ele passava.
Mas agradeço,agradeço e agradeço a possibilidade de um amadurecimento .
Blog que traz um pouco de reflexão sobre o momento em que vivemos. Um pouco de riso, um pouco de dor, um pouco de expressão. Também tem alguns textos já publicados em outros lugares. Aproveite a leitura, deixe seu comentário e compartilhe.
terça-feira, 5 de março de 2019
Pensar e conflitar
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