quinta-feira, 28 de março de 2019

Vocativo









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Paro  a minha escrita na  hora de colocar um chamamento. Aquela palavrinha no início da carta que invoca a pessoa a saber que é para ela aquela missiva.
Quando adolescente trocávamos cartas com amigos distantes, hoje, quem mais faz isso? Eu e amigas escrevíamos coletivamente falando do que havia acontecido no período de   afastamento. Nada demais.
Aprendi mesmo a escrever  diários e cartas com gosto depois da leitura de Rael, livro da filósofa Hannah Arendt. Ali foi um  impulso que jamais me esquecerei, pois me dei conta de que  o que eu já  escrevia  podia para alguém fazer algum sentido. Não sei de onde tirei isso, mas acho que acredito.
Carta é, ou não é literatura? Como dimensionar o que é, ou não? Certamente  eu me repito exaustivamente em tudo que escrevo. Se repito o que sinto, que dirá o que escrevo. Um monte de sensações  variadas e iguais ao mesmo tempo. Cada época tem seu trunfo, um nome, uma voz, um corpo que vacila, um cheiro, uma vontade. Tudo que talvez  já tenha sumido de minha visão míope e distorcida.
Entretanto quando me ponho nessa frente de batalha, pois isso que faço é  uma guerra, não sei explicar. Tempo: não é uma guerra escrever e pensar o que escrevo, guerra é sentir isso que não entendo e que não consigo me livrar. Vai me livrar uma hora, sempre foi assim, mas  não tenho mais ilusão de que na  vida será algo diverso do que já  foi.
Não espero de mim mesma qualquer milagre,  muda-se  quando se quer, diz o ditado. Mas  é estranho. Sei que podemos condicionar o pensamento para mudar o foco  e eu quero, mas  tem um lado de mim que  é presença e o outro que é vazio,um que se move e outro que paralisa, um que chora e outro que ri, um que tem raiva e outro que chora a falta. ~
Não sei se acredito na moira, destino ou qualquer  coisa  desse tipo. Essa dependência de algo que não sei o que é. E sem saber  vou existindo, resistindo.          

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