Paro a minha escrita na hora de colocar um chamamento. Aquela
palavrinha no início da carta que invoca a pessoa a saber que é para ela aquela
missiva.
Quando adolescente trocávamos cartas
com amigos distantes, hoje, quem mais faz isso? Eu e amigas escrevíamos coletivamente
falando do que havia acontecido no período de afastamento.
Nada demais.
Aprendi mesmo a escrever diários e cartas com gosto depois da leitura
de Rael, livro da filósofa Hannah Arendt. Ali foi um impulso que jamais me esquecerei, pois me dei
conta de que o que eu já escrevia
podia para alguém fazer algum sentido. Não sei de onde tirei isso, mas
acho que acredito.
Carta é, ou não é literatura? Como
dimensionar o que é, ou não? Certamente
eu me repito exaustivamente em tudo que escrevo. Se repito o que sinto, que dirá o que escrevo. Um monte de sensações variadas e iguais ao mesmo tempo. Cada época tem
seu trunfo, um nome, uma voz, um corpo que vacila, um cheiro, uma vontade. Tudo
que talvez já tenha sumido de minha
visão míope e distorcida.
Entretanto quando me ponho nessa
frente de batalha, pois isso que faço é uma guerra, não sei explicar. Tempo: não é uma
guerra escrever e pensar o que escrevo, guerra é sentir isso que não entendo e
que não consigo me livrar. Vai me livrar uma hora, sempre foi assim, mas não tenho mais ilusão de que na vida será algo diverso do que já foi.
Não espero de mim mesma qualquer
milagre, muda-se quando se quer, diz o ditado. Mas é estranho. Sei que podemos condicionar o pensamento
para mudar o foco e eu quero, mas tem um lado de mim que é presença e o outro que é vazio,um que se
move e outro que paralisa, um que chora e outro que ri, um que tem raiva e outro
que chora a falta. ~
Não sei se acredito na moira, destino ou qualquer coisa desse tipo. Essa dependência de algo que não
sei o que é. E sem saber vou existindo,
resistindo.
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