sábado, 10 de agosto de 2024

Feridas inflamadas

Feridas  as vezes  demoram a cicatrizar. O melhor a fazer é não passar a mão, não cutucar, não olhar.
Mexer  em livros e  baús   faz  também certos estragos.  Mas nunca me furtei a passar  por isso. No entanto, com  o tempo,  talvez  fiquemos mais  emotivos e vulneráveis.
Tudo  tem a ver e nada tem também.  
Meu momento me pertence, tenho a sensação de estar numa  roda viva, sem férias, como se o mês de julho tivesse  passado como um  furacão. Forte e sem sentido que  me baste para não entender todo movimento que  se  deu.
Tudo me parece estranho,  até meio tonta  tenho estado. Estudo numa tentativa de  arrumar a  casa e  dar um rumo um pouco mais fixo para  o contexto.
 Sempre  o contexto, o que  não está  muito visível  aos olhos  límpidos e distanciados.
De perto ninguém  é normal, repito tal frase ao longo dos  anos. Ninguém  mesmo, muito menos eu.
O que lemos  do mundo é como  nós  o sentimos. E nossas  ações também são  assim. Sem razão, sem  coesão e muito menos  coerência.
Quando  diziam que  Clarice era e esquisita,  era  apenas a ponta  do iceberg, põe  esquisita  nisso. Todos  somos, e  minha passagem pela  Psicologia  vinte anos  depois me fez ver que   vivemos  mesmo o tempo de esquisitices. Ou  tudo sempre  foi assim e  eu é que não via ao viver no meu mundo cor de azul. Nunca  gostei de  rosa,  tenho  hoje  uma tolerância  maior, mas  ainda me estranho com a  cor.
Vou indo assim,   analisando todas as formas.
Talvez  ainda  escreva  um livro esse ano. Porque é assim,  preciso escrever  um livro sobre uma  personagem  mulher em suas   divagações  na caminhada solitária. Um contraste com outros que  só  caminham junto com alguém. Não é que a personagem será  egoísta. Não, ela  não será, pelo contrário, mas  ela  sabe, entendeu desde muito cedo, que  para ir ver o mundo teria que ir só, pois que  todo mundo que um dia se propôs a ir furou com ela. Ou seja,  todos  sempre   tinham outras  prioridades e   desejos, ou  nunca  conseguiram se  organizar para ir ver o  mundo do lado de  fora  de seu próprio umbigo.
E hoje,  tudo tão   uniformizado. Tudo tão no mesmo padrão, que não existe mais o que  se queira ver.
E assim  começa o texto por um lado, desvia, faz a primeira curva e  vai para outras paragens.    
Nunca    fica  deserto,  ou fica um deserto  como o do atacama, onde por debaixo tem rotas e marcas na areia que   lembram  onde os povos arcaicos  passavam guiados pelas estrelas.
Talvez  tenhamos  perdido esse dom ou o  saber  nos guiarmos pelas  estrelas, talvez  com isso  tenhamos perdido muita coisa que não sei bem o que  era, mas  que numa segunda metade de  vida poderia fazer muito sentido.
Não, não fumei e nem bebi, sou eu sendo eu mesmo. 
    

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