quarta-feira, 29 de agosto de 2018

A moda antiga

Jurou para si mesmo que aquela seria a última coisa que escreveria ao seu amor.
Passados muitos meses, talvez tivesse enfim a constatação de  que, como tudo, também o amor deveria acabar.
Acabar com o apego,  com a   vontade de recuperar o tempo perdido e todas as promessas abortadas desde o primeiro encontro.
Tudo que ficou por ser feito depois que o resto desse certo. Era o que ele dizia, era o que ela esperava. Eram essas as questões que agora habitavam sua mente sem deixá-la  parar.
Agora ela dizia, num último risco de papel de verdade , a moda antiga, tudo que  era para ser dito olho no olho.
Não,  ela não queria cobrar dele  o que ele não podia dar. Ela queria apenas deixar para ele uma lembrança, uma materialidade de que ela  tentou. Talvez para ele  dizer aos netos,  quando bem velhinho estivesse que ela foi  quem mais  o amou do jeito que ele mesmo não entendia, já que talvez não se julgasse digno disso.
Esse risco de papel seria também para ela o fim de um ciclo, várias vezes  percorrido em sua vida. Jamais entendido,mas percorrido.
Dizia ela que eles agora estavam empatados, quites. 
Ela uma vez terminou uma relação com ele esperando ele a procurar. Eram jovens . A vida começava. Experimentou muitas outras coisas depois dele,   mas lhe faltou tato para entender o que ela mesmo esperava do amor.  E só quebrou a cabeça em relações  que a fizeram sofrer, porque esperava do amor somente aquilo que ele não podia dar.
Ele  que dissera que havia respeitado a vontade  dela quando eram jovens.   Posteriormente,  quando a procurou na maturidade para enfim viverem o amor, ele não estava bem e   agora  pedia para ela partir, para deixá-lo em paz se ainda o amava.
Como ele, na juventude, ela obedeceu o que ele disse.
Entretanto, depois de meses separados ela se arrisca a ter dúvida.  Será que de fato era para ela te respeitado   a fala dele?
Ela acha que não era. Ele não estava bem e sempre que se sentia pressionado falava aquilo como última cartada para  talvez acabar a discussão, pois ele mesmo  nunca  bancou o que dizia.
Mas dessa última vez tudo foi exacerbado.   O esgotamento emocional de ambos  os levou ao métron, a medida última .
Ela explicou a ele porque se segurou. Ele não entendeu.
O que ela quer disso tudo ela não sabe . 
O que ele quer? Também ela não sabe, mas aos olhos  ele não quer mais nada, seus sinais não existem,pois silenciou, talvez tenha virado mesmo a página e ela lhe seja indiferente agora. 
Uma vez ela falou algo rapidamente , não pediu diretamente para ele rever a decisão, mas  ele respondeu que estava deixando ela viver e que estava muito bem. Ela então resolveu sumir.
Mas talvez ele queira  que ela lhe peça para voltar como ele já fez.   Assim ficariam quites.  Ou ele espera ela para justamente negar o pedido.
Ela talvez o pedisse  quando encontrasse com ele.
Mas tem medo de ficar mal depois.  Ela acha que ele ainda se sente culpado, que sua vida não deslanchou por isso ele a quer  longe.  E o tempo vai passando, sedimentando as camadas da vida, colocando terra sobre todos os sentimentos , até que chegará a hora em que olhará e não verão mais o vestígio um do outro. Talvez ele faça isso mais rápido que Ela, talvez já tenha feito, pois está mais acostumado nesse processo. Ela sabe que também fará, quando todas as esperanças se forem, quando tiver tentando tudo o que podia. Para ela a esperança da saúde plena seria o antídoto. Mas ela sabe que isso é quase impossível.

Medos e cidades




Um dia uma pessoa medrosa de carteirinha, que claro não se considerava medrosa, me chamou assim. Na época eu olhava a realidade  em que estávamos inseridos e falava para mim, espera que pode ser que a pessoa esteja certa. Aposta feita e aposta perdida.  Eu sabia que perderia, tive  intuição mas resolvi arriscar.
 Tudo na vida é assim, perde-se e ganha-se com a mesma velocidade. É preciso todavia ter consciência plena  do que se está a fazer. Ter  na mão a rédia,  tirar o que está apodrecido e que te faz mal, sem medo.
Não sou medrosa, posso lidar mal com certos  sentimentos que me parecem  assustar, mas enfrento de  boa cada Leão.  Mas certas vezes entro em ciladas.

domingo, 26 de agosto de 2018

A história contada, mil vezes contada

A história era assim  descrita:
O personagem principal,  um homem, que depois de ter tido inúmeras possibilidades na vida, e ter desperdiçado todas elas,  volta a casa paterna para lá continuar a viver , se  curar de um mal moderno e repensar a vida que estava acostumado a empurrar com a barriga sem ter atitude de domínio.
Todavia  nem tudo era tão simples. A pessoa que por último tentou ajudá-lo foi a primeira que ele fez questão de banir da vida. 
Baniu porque não tinha coragem ou força para ficar e ajudar ou pq se acha um problema para ela. Numa visão distorcida da realidade.
Falou em amizade que  jamais  bancou.   Virou a página, não procura, não dá papo. Age  mal , com quem  mais  o ajudou,   como se fosse o ajudante o  responsável pelo seu  estado agora.
Paira no ar a prepotência, a arrogância de quem acha que sabe tudo, mas que não domina na verdade nada.
Mas que adianta  isso tudo, se todas as constatações  no fundo  levam para o fato de que fará o mesmo de sempre. Colocará sob o tapete e  seguirá adiante.
Enfrentar seus próprios fantasmas é difícil.

sábado, 25 de agosto de 2018

Sei lá, mil coisas...

Dançar a vida, movimentos de círculo que vão e vêm, que se entrelaçam como um 8. Nome de um livro de um escritor francês.
Retomar  questões, possibilidades. Contar  mil vezes a mesma história para si mesmo descobrindo nela as nuances perdidas que fizeram você estacionar.
Memórias e lembranças.
Livro emprestado que precisa ser recuperado que trata das sensações, um romance que traz a tona as possibilidades de entendimento da própria vida.

Maria virou -se para ele e falou como quem despeja o último suspiro de raiva e amor incontido ,"eu te protegi e você me abandonou".
" Protegi de todas as formas, para você sofrer menos, para não ser covarde e fugir outra vez, mas não adiantou,  você  saiu como fez todas as vezes em sua vida diante de qualquer problema, fugiu e largou para trás o rastro para outros resolverem, eu".
Ela, não estava  nervosa, estava equilibrada como se uma luz cálida estivesse sobre ela.
A certeza de ter entendido as coisas a fez  calma.
Continuava seu discurso engasgado na garganta fazia tempo.
" Eu sabia que você estava doente,  avisei a todos sobre isso 3 meses antes, chamei sua atenção vários meses antes,  dei -te remédio, florais que te fizeram suportar um pouco mais. Não a mim, mas às adversidades que foram chegando."
" as dores foram ficando insuportáveis, você bebia, bebia, bebia..."
" Até  que  tudo parou e vc parou , mas não buscou ajuda,  intolerante, agressivo, inconformado e  ainda prepotente. Não aceitava a doença, mesmo depois da perda de controle, e dizia que se tratava porque eu pedia ,e comigo só piorava".
" Acusou a mim por tudo, sem saber do meu esforço para proteger-te,  depois envergonhou-se , mas continuou prepotente.
" Por fim, não aguentou,  não teve mais coragem e fez o que ameaçou fazer sempre, foi embora sem olhar para trás, como sempre fez. Deixou para eu resolver tudo que estava pendente , que fora por você criado.
Jamais perguntou se eu  precisava de apoio moral, pelo menos.
Jamais perguntou se eu estava bem.
Se  você estava bem como dizia estar , como foi tão frio?  " Maria perguntou.
A mente dela clareava-se cada vez mais.
" Se um dia tiveres de verdade  consciência do que fez,  dizendo que amava abandonar sem qualquer apoio, vais ficar ainda mais  dolorido,   se fores inconsequente nunca mais lembrará. Jogará sob o tapete e tudo ficará lá até a próxima topada ".
" Talvez  sua percepção doentia tenha te dito   que   você  ter ido  era o melhor para mim ,  dentro do discurso de ser vc o problema, mas essa percepção foi errada, egoísta e omissa. Nunca disse que você era problema,  o problema era o que você se omitia de fazer, o problema era toda promessa que fez e não cumpriu,  foi o que você deixou para eu resolver  sem me apoiar, deixando-me sozinha tendo que pedir a outros que nada tinham coma história para me socorrer."
" Ainda tentou ser vítima  de todos, como se tivesse razão em ficar magoado comigo,  eu que só fiz o que você pediu, inclusive te deixar ir."

Maria olhava para ele e via ali alguém que teve tudo e  se perdeu. Mas não aceitava que  tinha se perdido para poder se reencontrar. 
Fazia tempo que ela não o via. Ela achava que um dia aquela conversa sairia de dentro dela. Era preciso perdoar,  ela precisava , ele precisava . Ela precisava que ele dissesse, e talvez ele precisasse dizer.
Não queria que ficasse para frente sem passar a limpo aqui tamanha questão.



sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Divagações da personagem

Dava para escrever um livro com tanta coisa a falar, mas ao pensar nisso a personagem se perde no turbilhão de emoções que sua vida sempre foi e está sendo, desde que esse outro personagem  entrou na sua vida depois de muitos anos desaparecido.
Ela não tinha dele qualquer informação. Tampouco se interessava em ter.  Mas imbuída de uma sensação de que devia dar chance a alguém, pois já estava sozinha  a muito tempo, ela se liberou investiu  na doação de amor, generosidade e dinheiro diante das promessas de trabalho dele. Nada aconteceu,  ela não sabia da gravidade da loucura dele e se deixou levar. Ela nunca teve coragem de  tirar tudo que tinha posto na mão dele.  Queria dar a chance a ele. Deu , ele não conseguiu e tão louco estava que ainda sobrou para ela resolver o que ele deixou para trás .
Não sei quantas vezes mais  ela terá que se contar essa história. A real , a verdadeira  vista por seus próprios olhos e sentida  na sua pele marcada.
Mais uma tatuagem para coleção dos amores  frustrados que teve.
O que a faz ainda achar que o ama?Que deveriam ficar ainda juntos.
Ele não está pronto. Não tem trabalho e vive com o que os pais dão.
Não fez um tratamento psicológico sério, não buscou crescer e ser auto-suficiente.
Por que ela ainda acha que o ama? Será isso apenas apego?
É preciso libera-lo de verdade . Deixar ir mesmo. Quase 2 meses sem procura-lo ,  para depois  faze-lo?
Acho que ela está agora a beira de meio século com medo de ficar só. Na verdade, não é medo. Não quer, cansou. Quer dividir com um parceiro a vida.  Não  vai ter filhos, seu tempo passou , nem netos.
E o que esperar?
Viu amigos que  passaram pela crise parecida retomarem relações  e se refazerem.
Mas e ela?
Olha amigos que também separaram e já estão em outra e bem.
Outros que estão sozinhos. 
O que ela quer? Outro relacionamento ou o mesmo. Digo, com a mesma Pessoa.
Mas por que    ela reluta em deixar?. Em aceitar que ele  foi?
O motivo dele ela intui.  Não aguentava mais se sentir responsável  por tudo ter dado errado e tê-la metido na encrenca.
Ela não crê na falta de amor pois dias antes dizia que a amava que queria tá junto.
Só que quase um ano se passou,  a vida do personagem não mudou e ela tem quase que certeza que ele tem pavor de chegar perto , justamente por conta dessa culpa  não expurgada.
Ela também não sabe o que quer.  O viu 3 vezes nesse tempo de um ano. Mto rapidamente.
Teme estar idealizando algo que não é.
Ela queria ter toda certeza do  mundo que o ama e o quer independentemente de qualquer coisa. Mas tem medo  da rejeição.
Amar não é fácil . Ela  fica tonta. Pensa nele o tempo todo. Mas não acha que ele pensa nela. Ela faz tudo que tem que  fazer , pensar nele não limita sua vida , mas...pensa em fazer uma  hipnose, e saber o que foi que  veio a tona tanto tempo depois.  Do que ela teme se livrar ,  pois se ele não a quer,   foi ele que pediu para ir , ele parece bancar o gostosão , e sua atitude com ela parece  ser no sentido de não querer fazer mais mal.  Tipo: estaria melhor sem mim.
Mas ela também é culpada disso. Inúmeras vezes disse a ele que não sabia porque estava junto.   Corrigia depois, dizendo que só amor explicava. Mas sabe que agia  diferente. Isso porque a atormentam os questionamentos impostos do que deveria esperar do amor e de uma relação.
Tudo tá ficando claro. Por que se sentia tão mal? Porque estava em confronto o tempo todo. Estar com ele era como se estivesse fazendo algo errado. Que a violentava aos olhos do mundo.
Talvez não consiga hoje se livrar,  porque tá assumindo a responsabilidade de que  agiu de maneira  contrária ao que sentia, por influência dos outros e ďele próprio. Ou agora é que conseguirá se livrar.
Certo descontentamento,  certo querer sempre mais do amor. Esse que nunca chegou em nenhuma ocasião a toda visão romântica do que sonhou .
Ela sabe que isso se deu várias vezes. Não só com ele mais com outros também.
Mas era jovem. Agora não é mais.  Acho que toda vida sentimental dela vai mudar daqui por diante.
Estará sim, em busca de alguém . Vai fazer por onde.
Ainda terá que   ter com ele uma seria conversa.
Perdoar ele por tê-la buscado e te-la abandonado.  Ela perdeu a grana, ele perdeu a paz de espírito. Ela acha que também ele só se sentirá livre quando  sua culpa e dor passarem.Aí ele terá condições de procura-la.  Mas ela sabe que isso pode ser nunca, ou tarde demais,como ocorreu com sua amiga.
Meio século é Muito.  Tudo vem a tona. 

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Fabulação criativa

Princípio de vida em que se cria a história que se quer, ou melhor, aquilo que vai além do documentário e da ficção.
Sei -lá,  pode ser tudo e pode ser nada.
O fato é que depois de tanta fala o que sobra mesmo para entendermos as imagens são exatamente as não imagens.
As ausências, o que importa hoje é a história que não foi contada, a pessoa que não estava na self.   Tudo aquilo que  ficou para ser dito e que de repente nunca o será.
O filme é isso, ou é aquilo. O desconexo dos vocábulos nos diz  o Que?
As imagens ausentes nos dizem o Que? 
Na lógica diria se não tem imagens,  não perderei meu tempo pensando sobre isso.
Mas, mas, ...
É muito difícil para quem tá acostumado a não ver o óbvio, que ele ali está.
A ausência da discussão faz pensar  mais do que a própria discussão.
Se aquilo que interpela  pára de interpelar , você de repente começa a ver que   certas interpelações  em vez de te ajudar te atrapalhavam.
Como  não se sentir em conflito se na ausência de algo você sofria e na presença sofria ainda mais , por achar que o que fazia era errado e que vc não deveria gostar do que gostava?
Fico pensando na dor de alguém que ama algo mas que não pode estar com esse algo. E o conflito interno que isso gera.
Conflito interno, querer algo que vc não poderia querer.   Mas a proibição não é endógena e sim exógena.
Simples assim. Você devia ter luz e coragem  de mandar a puta que pariu , todo aquele tem a  solução para a vida dos outros, enquanto a sua própria  vira e mexe é o caos.
Simples assim, meio século é Muito, ou manda a merda agora ou só na outra encarnação. Ciclos usados , ciclos fechados. Se nada se tem,  nada se perde.
Então, o máximo  é continuar o que já está. Sem construção de memórias ou histórias.
Mas e o confronto?  E o rejeito?
Viver é complicado, quero férias.  Não dou conta.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Tudo e um pouco mais- devem ser os astros









Imagem relacionada




 Sol no meu mapa, vênus no meu mapa  e tudo muito complexo.
Ontem eu escrevia em papel, hoje volto ao digital para ter mais facilidade e  possibilidades.
Enfrentar reuniões nunca foi o forte, não deve ser de ninguém, ainda mais quando a reunião é para te  dizer, estamos fudidos e meio e nada nos será pago por isso.
Ou seja, puta e putos já somos  faz tempo e ainda sem pagamento condizente.
Saio com a cabeça quente tenho vontade de dividir os dilemas com alguém que ouça e que fale que tudo vai melhorar no país, mas esse alguém não existe.  Nem  no real nem na ficção.
Minha impossibilidade de criar um personagem que de conta de  me ouvir é a constatação mais árdua.
 Folheio páginas do facebook, ou melhor, passo a timeline e nada sobrevive a mediocridade do momento.
Onde vamos parar? leio uma matéria  sobre morar em Portugal e me  decepciono com a falta de cordialidade e falta de   noção das pessoas que comentam. Caralho, onde vamos parar? As pessoas perderam o senso.  Saem agredindo quem não conhecem e se julgam as corretíssimas do pedaço.
O que será da humanidade? Será que teremos que viver uma nova hecatombe para começar do zero?
Estou desesperançosa, minha vontade é de ficar em casa e não mais sair.
 Penso em plano B, C, D, E ,  porra! eu tenho dois empregos e  estou assim , imagino quem não tem nenhum?
 O que fizeram com o país em 2 anos ? E ainda tem gente que diz que isso é fruto dos 12 de prosperidade.
Pergunto-me  como alguém ainda consegue pensar assim. Ora, estávamos bem, até que  resolvem tirar uma presidente eleita e  colocar essa múmia comprometida até o fio de cabelo. Mas cadê o povo,  esse que dorme, esse que trabalha duro para se manter vivo e dar riqueza para uma elite que só extorque. 

Problemas do país misturados aos meus de toda ordem.
Não eu não tenho problemas, será isso a negação, se todos tem eu devo ter.
Liberei-me da  terapia pelo simples fato de não ter como pagar e  por achar que  estava algo emperrado no propósito a que se devia.
E também quase 10 anos é muito para eu continuar com as mesmas coisas de sempre.
O que descobri é o que agora verei, porque no curso talvez nada se veja de verdade.
O fato é que  meio século é muito, e sentir meio século como se tivesse as mesmas coisas de 30  ou 20, é porque tem algo errado.

Descobrir a  mim e descobrir o que farei , por diante. Diante da privada que se tornou  a área de trabalho, resta fazer algo que  possa realmente me  fazer a subsistência.
Desapego,  exercito, mas não é por isso que vou perder o que posso manter, pois se não terei que comprar de novo.
Desapegar não é destruir o que se tem,  para ter que comprar outra vez, isso para  mim é burrice.
Tenho um barco que preciso vender  para investir em outra coisa.
Esse filho trabalhoso, motivo de brigas e desilusões já cumpriu sua função na minha vida, precisa partir. Já me mostrou que  não adianta  querer ajudar quem não  quer de verdade . Me mostrou que tem pessoas falsas demais no mundo, pessoas que usam as outras desmedidamente para seu próprio  bem e nada sentem por isso, que tem pessoas que são tão frágeis, que  desmoronam  com um sopro e até com um beijo que  visava fortalecê-la,  tem pessoas que  querem sair de onde se encontram mas estão tão adoecidas, sem se dar conta, que não conseguem e fogem deixando para trás todo um lastro de  coisas pendentes, que não conseguiram jamais esquecer.
As vezes  eu esqueço que tenho essa história, que tenho esse objeto grande e valioso que só me dá despesa.
Queria acordar um dia e lembrar que ele foi vendido  e sumiu.
Queria acordar um dia e  ver que tudo cresceu, que minha profissão foi valorizada e eu não ganho hoje o mesmo que a 18 anos atrás.
Queria acordar sem ter que começar a pensar numa outra alternativa para ganhar a  vida, pois que essa está se findando.
E aí o que fazer?

Tenho saudade de um mundo luminoso e alegre de possibilidades sem fim, de raios de luz quentinhos sobre as nossas cabeças.
Sei que misturei  tudo, mas é assim que me sinto, um misto de tudo, algo achatada em tudo, um rolo compressor me  pegou pelo caminho.          
   


              

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Certos fins!!

Tudo tem fim nessa vida. Somos seres com prazo de validade, como todo o resto que nos cerca.
Entretanto, essa constatação que é a mais natural desde o momento de nosso nascimento, ainda nos choca.
Sofremos com ela, sofremos quando a vida acaba e quando temos  que dar fim a alguma coisa.
Isso porque  sabemos, na essência de nosso ser, de nossa finitude e ficamos a vida buscando algo que utopicamente  poderia ser eterno.
Os amores que temos, as relações de amor, amizade e até mesmo de trabalho.
Alguém poderia  até dizer que a sensação de impermanência não existe porque tem um trabalho  fixo estatal, ou fez um concurso e jamais será demitido. Mas a vida não é assim. Pois que as  vezes  enjoamos dessa utópica permanência eterna.
O que é claro então nesse processo que é a vida? É que ela é mesmo processo inacabado, que não vai ter nunca sentença,  quanto mais coisa julgada.
Cada pessoa tem seu próprio processo para tudo. Isso é único para cada um de nós que nascemos.
Se nos encontramos com alguém pelo caminho temos sempre que saber  que esse alguém somente é parte de um momento. As vezes os momentos vem e vão,  vem e de novo vão. Pessoas que digamos nos são intermitentes ao longo do processo. Até que se vão de vez. Aí  , a princípio, só restará a lembrança de algo que se viveu junto.
O caminho nesse sentido de interação e conhecimento do processo é por vezes doloroso. E quanto   MAIS nos debatemos mais ele dói.
Certas vezes é melhor ficar quieto e ver o processo andando sozinho de acordo com as voltas da terra. MAS talvez essa não seja a melhor forma , pois que a omissão pode nos machucar ainda mais.
Tem gente que sabe exatamente como quer seu processo . Eu os invejo, nunca sei o que quero  , embora saiba o que não quero.
Os ciclos  de nosso processo são interessantes por vezes. Não que tudo se revire do nada. Mas quanto mais omissos somos , mais a reviravolta nos atinge.
Não creio que saber dar fim  às coisas seja o mais importante. As vezes  ter conhecimento da coisa importa mais.
Essa sociedade nos cobra sempre terminar, não perder tempo, tudo numa busca incessante de lucro/benefício em todos os aspectos. Estar com alguém problemático é perder tempo, estar problemático é perder tempo. Mas que tempo é esse? O tempo  para a única sentença certa, que não sabemos quando vem. Acho que não é por aí. Vamos viver o que tivermos e quisermos viver. Estar consciente desse processo é melhor . Ajuda a não sermos ludibriados por nós mesmos.
De resto, é tudo suposição.

domingo, 5 de agosto de 2018

Tempo, deixar ir, mágoas, fechar gavetas do passado, tudo passa

Sinto uma imensa preguiça de voltar aos meus cadernos. Talvez esteja sucumbindo à modernidade dos meios e eles  começam a se  ajustar a mim  fazendo parte prolongada de mim mesmo. Como viver hoje sem escrever e sem celular?
Passo os dias pensando e escrevendo. Viajar me dá a nítida sensação de que escrevo para viver. Através do ato contínuo de pensar a escrita,  vou me escrevendo e  construindo minha história que é diferente da de outras pessoas.
Conheço poucas pessoas que precisam tanto quanto eu colocar na retórica ou no discurso escrito aquilo que sentem. Não sou uma escritora,  pois que assim considero aquelas e aqueles que criam mundos semi-existentes, inventados.
Eu transcrevo. Eu faço  a mímesis  platônica, copio a realidade em suas filigranas,  para dela tentar dar conta do que vivo e sinto.
Somente o tempo com sua  carga de anestesia , entendimento e aceitação é o remédio para certos males ou certos acontecimentos.  Por mais que tentemos, determinadas coisas precisam ser deixadas de lado depois de  elaboradas por nós.  Eu creio que mesmo quase um ano depois, faltando 4 meses para isso, ainda não dei conta  de entender e aceitar  o que se constitui hoje a vida de novo separada.
No princípio é o alívio de todo um peso absurdo  de não  conseguir fazer a pessoa ver que precisava se tratar.  A negativa da pessoa e o meu olhar  apiedado sobre ela, só fez que piorasse a situação.  Tudo que eu fazia para ajudar  jamais foi suficiente para o mesmo. Todo amor dispensado , toda compreensão disponível e abnegada não adiantou para que ele acordasse.
Não acordou, pois creio de verdade que se estivesse acordado a ação seria outra. Seria a de buscar mudar e se curar tendo em vista a  reconstrução da relação,do amor e de si mesmo. Mas  não,  ele não deu conta de fazer nada disso. Envergonhado ao extremo, optou por extinguir o meu olhar, a minha presença e tudo que ela representava para  ele. Eu ali ao seu lado era a contundente  prova de sua doença e de seus erros, de sua fraqueza e escolhas erradas. Não era eu nada disso na verdade. Mas eu representava o espelho e olhar o  meu empenho , doação e gentileza para com ele, o fazia sentir culpado por  não ter feito o que  tinha  prometido e combinado comigo.
Eu passei ser o algoz. Me viu com raiva pois eu mostrava, na mente dele, que ele  foi mal.
Optou por me deixar. Deve ter sentido um alívio. Mas sua vida não mudou por isso.  E eu duvido que consiga  ter paz  ao lembrar que eu  estou pagando as suas penitências. Se consegue  é porque  realmente é falho de  tudo.
Pago eu a penitência por ter me deixado envolver e ter querido resolver a vida dele.
Ter dado condições para ele sair do subemprego e ser um empresário como ele mesmo se intitulou.
Todavia a falta de auto conhecimento era tão grande que ele se perdeu dentro de si mesmo e levou tudo para o ralo.
50 anos e idade mental de 20.  Ilusões de 20, medos de 20 ,de alguém que nunca se deixou amadurecer e crescer.
Chorava quando o crescimento lhe batia a porta. Tantas vezes confundiu sua crise interna com o relacionamento. Se sentiu menor, sem potência, mas não reagiu. Sua omissão e inércia  o derrotaram.
Ouvidos fechados para a razão.  Ouvidos fechados para o que eu dizia e olhos fechados para a  realidade. DOENTE eu não consigo ver outra possibilidade. Ele não é mau caráter , nem cafajeste. Por isso sofria.
Me deixar era a única forma de não mais se confrontar com tudo isso.
Optou pelo mais fácil, talvez sem ter que enfrentar a todos .
Vergonha. Orgulho. Tudo junto. Se me amava como dizia, devia ter tentado. Mas a doença o enfraqueceu  ainda mais.
Sem ter com quem brigar  eu virei o saco de pancada.
Não  estou  de vítima. Isto  é um relato de entendimento. Sim , eu o aceitaria. Mas resta ainda em mim a mágoa.  E toda vez  que  preciso me desdobrar para acertar  o remanescente disso tudo, explodo em ira.  Me sinto tão violentada, injustiçada, sozinha e penalizada.  Eu, como uma mãe com um filho, fui abandonada por ele tendo que recorrer a outros para me ajudar. Oxalá esse outro existe. Mas o custo é todo meu.
Sem recuperação do prejuízo,  eu tenho ciência mas não é isso o mais importante. Dinheiro vai e vem.  A mágoa é pelo abandono. Eu não o abandonei, estive ali todo tempo, dei meu colo e força e ele na primeira chance o fez. Partindo talvez do princípio de que eu estivesse melhor sem ele do que com ele. Pensamento cômodo para se retirar achando que tá fazendo o bem. Assim se  desculpa para si mesmo.
Acho que eu entendi , mas não aceitei ainda. Sinto raiva  disso tudo. Aceitarei quando ficar indiferente a mim tais sentimentos.
Ainda sonho e peço a volta de um amor.
Tenho medo de também estar iludida com essa possibilidade de amor. Mas fico parada. Inerte. Esperando o tempo passar e talvez apagar,  talvez.
Se nada na vida dele mudar , dificilmente conseguirá ver as coisas. Dificilmente assumirá sua responsabilidade diante de tudo que passou e que me fez passar.
Eu estou bem e ficarei  melhor conforme a indiferença for chegando.
O peso da manutenção ainda me assola e é o pior que restou. Quisera ter me livrado disso antes. Tenho minha parcela de culpa. Acho que amo ainda. Mas sinto  sua fraqueza em ter me deixado com o pepino na mão. Pepino que constituí para ele.  Ou seja, difícil ele estar em paz sabendo como estou.
Mas  tudo passa, passará.  E é preciso  entender e aceitar e vender, para ir mais rápido. Seja para onde for.

Pousada Piquara

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

O descarte

Atenta a  quase tudo Maria ouve, escuta, racionaliza tudo e segue. MAS as  emoções nem sempre a deixam ir em paz e vira e mexe ela revive as angústias de um passado recente.
Maria sabe que é preciso largar o velho para o novo surgir. Movimentar as energias  para elas  fluirem e ela faz, mas se debate com algumas situações que a fazem retroceder.
Maria   acha que limpar a gaveta é bom, todavia tem objetos que não são tão simples de se desfazer. Ela tenta, tenta, tenta , mas  eles insistem em ficar e além de ficar ainda lhe causam prejuízo. Seria tão fácil se fosse algo levinho, algo que não  necessitasse  de manutenção, de vigilância, de calafetação, fácil seria se pudesse abrir a lixeira e jogar, mas ali está um passado recente que insiste em torturar Maria. Como jogar no lixo algo tão caro em valor nos dias de hoje, seria jogar no lixo toda uma vida de trabalho, um montante   que hoje e não tem como recuperar. Hoje seu trabalho não rende igual, está quase sendo mandada embora, não ganha suficiente para se manter e tudo que ganha  tem que colocar no objeto para que ele não pereça.
Que pode fazer, Maria pergunta.
Ela busca alternativas. Sabe que diante desse  fato só resta esperar. Sabe também que sua sede de ajudar resultou  nessa complexidade. A pessoa que ela ajudou a deixou achando que fazia o bem para Maria  e para ela própria. Foi tão egoísta que jamais teve coragem de perguntar a Maria se precisava de ajuda para resolver os problemas que deixou.
A pessoa que teve parceria de Maria não soube ser parceira . A abandonou olhando apenas a si mesmo.
Mas a vida dá volta. Qual sossego ela vai ter enquanto Maria estiver penando para resolver o descaso de quem ela ajudou.
O eterno retorno das coisas.  Deixar ir é fácil , por inúmeras vezes Maria falou. Mas não foi ouvida, a ela não foi dada atenção.
Doenças existem e se não tratadas persistem. MAS é preciso que ao abrir a gaveta do passado para deixá-lo ir tenhamos a consciência do que de fato fizemos , para ele não voltar e nos maltratar.  Porque ele volta e  a dor que provoca é   sem remédio.
Maria tem pena, queria que a pessoa ficasse bem e isso seria que ela tivesse z consciência de tudo é não apenas se eximisse de tudo.
Deixa ir, Maria  roga aos céus por favor leve de mim esse passado.