domingo, 5 de agosto de 2018

Tempo, deixar ir, mágoas, fechar gavetas do passado, tudo passa

Sinto uma imensa preguiça de voltar aos meus cadernos. Talvez esteja sucumbindo à modernidade dos meios e eles  começam a se  ajustar a mim  fazendo parte prolongada de mim mesmo. Como viver hoje sem escrever e sem celular?
Passo os dias pensando e escrevendo. Viajar me dá a nítida sensação de que escrevo para viver. Através do ato contínuo de pensar a escrita,  vou me escrevendo e  construindo minha história que é diferente da de outras pessoas.
Conheço poucas pessoas que precisam tanto quanto eu colocar na retórica ou no discurso escrito aquilo que sentem. Não sou uma escritora,  pois que assim considero aquelas e aqueles que criam mundos semi-existentes, inventados.
Eu transcrevo. Eu faço  a mímesis  platônica, copio a realidade em suas filigranas,  para dela tentar dar conta do que vivo e sinto.
Somente o tempo com sua  carga de anestesia , entendimento e aceitação é o remédio para certos males ou certos acontecimentos.  Por mais que tentemos, determinadas coisas precisam ser deixadas de lado depois de  elaboradas por nós.  Eu creio que mesmo quase um ano depois, faltando 4 meses para isso, ainda não dei conta  de entender e aceitar  o que se constitui hoje a vida de novo separada.
No princípio é o alívio de todo um peso absurdo  de não  conseguir fazer a pessoa ver que precisava se tratar.  A negativa da pessoa e o meu olhar  apiedado sobre ela, só fez que piorasse a situação.  Tudo que eu fazia para ajudar  jamais foi suficiente para o mesmo. Todo amor dispensado , toda compreensão disponível e abnegada não adiantou para que ele acordasse.
Não acordou, pois creio de verdade que se estivesse acordado a ação seria outra. Seria a de buscar mudar e se curar tendo em vista a  reconstrução da relação,do amor e de si mesmo. Mas  não,  ele não deu conta de fazer nada disso. Envergonhado ao extremo, optou por extinguir o meu olhar, a minha presença e tudo que ela representava para  ele. Eu ali ao seu lado era a contundente  prova de sua doença e de seus erros, de sua fraqueza e escolhas erradas. Não era eu nada disso na verdade. Mas eu representava o espelho e olhar o  meu empenho , doação e gentileza para com ele, o fazia sentir culpado por  não ter feito o que  tinha  prometido e combinado comigo.
Eu passei ser o algoz. Me viu com raiva pois eu mostrava, na mente dele, que ele  foi mal.
Optou por me deixar. Deve ter sentido um alívio. Mas sua vida não mudou por isso.  E eu duvido que consiga  ter paz  ao lembrar que eu  estou pagando as suas penitências. Se consegue  é porque  realmente é falho de  tudo.
Pago eu a penitência por ter me deixado envolver e ter querido resolver a vida dele.
Ter dado condições para ele sair do subemprego e ser um empresário como ele mesmo se intitulou.
Todavia a falta de auto conhecimento era tão grande que ele se perdeu dentro de si mesmo e levou tudo para o ralo.
50 anos e idade mental de 20.  Ilusões de 20, medos de 20 ,de alguém que nunca se deixou amadurecer e crescer.
Chorava quando o crescimento lhe batia a porta. Tantas vezes confundiu sua crise interna com o relacionamento. Se sentiu menor, sem potência, mas não reagiu. Sua omissão e inércia  o derrotaram.
Ouvidos fechados para a razão.  Ouvidos fechados para o que eu dizia e olhos fechados para a  realidade. DOENTE eu não consigo ver outra possibilidade. Ele não é mau caráter , nem cafajeste. Por isso sofria.
Me deixar era a única forma de não mais se confrontar com tudo isso.
Optou pelo mais fácil, talvez sem ter que enfrentar a todos .
Vergonha. Orgulho. Tudo junto. Se me amava como dizia, devia ter tentado. Mas a doença o enfraqueceu  ainda mais.
Sem ter com quem brigar  eu virei o saco de pancada.
Não  estou  de vítima. Isto  é um relato de entendimento. Sim , eu o aceitaria. Mas resta ainda em mim a mágoa.  E toda vez  que  preciso me desdobrar para acertar  o remanescente disso tudo, explodo em ira.  Me sinto tão violentada, injustiçada, sozinha e penalizada.  Eu, como uma mãe com um filho, fui abandonada por ele tendo que recorrer a outros para me ajudar. Oxalá esse outro existe. Mas o custo é todo meu.
Sem recuperação do prejuízo,  eu tenho ciência mas não é isso o mais importante. Dinheiro vai e vem.  A mágoa é pelo abandono. Eu não o abandonei, estive ali todo tempo, dei meu colo e força e ele na primeira chance o fez. Partindo talvez do princípio de que eu estivesse melhor sem ele do que com ele. Pensamento cômodo para se retirar achando que tá fazendo o bem. Assim se  desculpa para si mesmo.
Acho que eu entendi , mas não aceitei ainda. Sinto raiva  disso tudo. Aceitarei quando ficar indiferente a mim tais sentimentos.
Ainda sonho e peço a volta de um amor.
Tenho medo de também estar iludida com essa possibilidade de amor. Mas fico parada. Inerte. Esperando o tempo passar e talvez apagar,  talvez.
Se nada na vida dele mudar , dificilmente conseguirá ver as coisas. Dificilmente assumirá sua responsabilidade diante de tudo que passou e que me fez passar.
Eu estou bem e ficarei  melhor conforme a indiferença for chegando.
O peso da manutenção ainda me assola e é o pior que restou. Quisera ter me livrado disso antes. Tenho minha parcela de culpa. Acho que amo ainda. Mas sinto  sua fraqueza em ter me deixado com o pepino na mão. Pepino que constituí para ele.  Ou seja, difícil ele estar em paz sabendo como estou.
Mas  tudo passa, passará.  E é preciso  entender e aceitar e vender, para ir mais rápido. Seja para onde for.

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