Antônia era minha avó, dizia que mulheres são seres que ouvem e o que ouvem reverbera no tempo de sua existência.
Penélope até hoje se lembra de ter escutado de seu amado que ela era excessivamente carinhosa e ele naquele momento de surto de liberdade não aguentava aquilo.
Acho que Ulisses bateu tanto a cabeça por aí , que mais tarde queria que Penélope fosse sua provedora em vez de ser sua mulher já que ela tinha tão bem administrado os bens em 20 anos de ausência.
Ouvindo outras mulheres Penélope se ressente de Ulisses , que se a princípio aceita a maneira que tinham combinado, cada um no seu reinado, quando perde seu reinado ele quer impor a Penélope que mude o jogo. Só que quer mudar o jogo e nada faz para mostrar a ela como se pode jogar.
Ulisses parece um menino mimado, não sabe jogar e quer descer para o play. Guarda na mente todos os paradigmas familiares, mas não vê que mudaram com o tempo. E nem sua própria vida o faz olhar , ver que as coisas mudaram.
Que Ulisses não quer o modelo arcaico ,a arqueologia já provou, todavia por que ele insiste em retomar um modelo que sabe desgastado? Pois ele mesmo não dá conta de cumprir , mesmo depois de vários casamentos em 20 anos.
Penélope chama a isso infantilidade, teimosia. O novo modelo pode ser muito melhor se Ulisses aceitar.
Penélope cada vez tem mais certeza disso. Todas as pessoas que assim fizeram são mais felizes.
Esse modelo não quer dizer que haja um abandono do outro ser, ao contrário, cada um fica dentro de uma cumplicidade muito maior. São amigos, amantes, sem desgaste do dia a dia. Mas se o outro precisar sempre se estará lá. Sem brigas, ansioso pelo encontro.
Todos que optaram por isso tem relações muito mais duradouras , sem desgaste, sem que a dureza da rotina os massacre.
A maioria das mulheres que Penélope tem conhecimento, mulheres próximas de sua condição fazem assim. E acham melhor, pois na história cabia a elas sempre o ônus maior de obrigações e deveres. Assim é mais fácil curtir e cada um continua no seu quadrado com sua individualidade e obrigações pessoais.
Se o filho já tá criado e não necessita-se de duas pessoas o tempo todo juntas, por que não experienciar outro modo? Cada um respeitando o outro. E se um dia a junção se fizer primordial assim se faz.
Penélope então se questiona se Ulisses quer uma mulher ou uma mãe provedora. Mas isso ele já tem, Eritreia, para que outra?
Com tudo isso, ele mais uma vez rompe o jogo. Não sabe jogar, embora tenha descido para o play.
Mas ele não quer respeitar a regra, é intolerante, faz -se de vítima da história para todo mundo e é claro que não foi.
Foi astuto com quem não devia, manipulador de desejos e sentimentos pueris de Penélope e agora posa de coitado.
Ulisses sabe que se deixou envolver pelo que outros falaram. Tem vergonha e orgulho que não aprendeu a conter, e não aprendeu a ser humilde e ter gratidão.
Assim é que Ulisses se coloca. Está livre para a eternidade ou para qualquer outra que passe e ele vá atrás.
A questão então é de Penélope: ela que fez tudo para espera-lo, que se entregou e investiu tudo, e agora? Sente dor, sente-se usada se o que pensa for confirmado.
Se já pensa é talvez porque já sente. Depois de tudo que se dispuseram a fazer, ela ainda fica com essa parte.
Estava enlouquecida, com todos esses pensamentos. Aí vê uma msg apagada, como num instantâneo, solta a força de tudo que estava pensando. "Penso em vc Ulisses, sem orgulho , vergonha ou pudor" a vida é uma só.
Lógico que Ulisses não respondeu. Não tem como. Não sabe ... É o tempo e suas imperfeições, dúvidas, mágoas e perdas.
Blog que traz um pouco de reflexão sobre o momento em que vivemos. Um pouco de riso, um pouco de dor, um pouco de expressão. Também tem alguns textos já publicados em outros lugares. Aproveite a leitura, deixe seu comentário e compartilhe.
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
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