Virgínia começa seu texto: nos momentos de reflexão nesses últimos meses, em que um turbilhão tomou conta de meu relacionamento ,mais por questões externas que internas minhas, embora externas e internas dele, me deparo com voltas esporádicas de fatos do passado que não foram por mim, nem por ele relevadas durante a vida.Digo isso porque tudo que construímos nesses anos recentes foi muito pautado numa idealização de amor do passado. Virginia confessa: cegamente voltei 30 anos para tentar dar sequência a um amor adolescente. Esquecendo que eu não era a mesma, e ele também não deveria ser. Todavia se eu me considero mais dona de mim, se me caçei por 30 anos ,pelo outro não posso responder. Certos conflitos que tinha, não tenho mais. Certas ilusões também não. Mas para isso foi preciso estar atenta ao que vivi.Eu me recordo de escrever como Rahel, personagem de Hanna Arendt, para registrar o que vivia.Fazia isso o tempo todo. Em todos os rompimentos , em todos os momentos. Mais nos de dor que nos de alegria. Na alegria a gente esquece de escrever. Parece que as musas nos deixam em paz. Mas hoje a escrita é como o ar.Punhetação mental, talvez seja. Mas de certa forma faz expurgar e ressignificar.Recebi então um trabalho que comecei a ler,despretensiosamente me deparei com minha história aos 20 anos.Surpresa percebi que aos 20 quase todo mundo vive a mesma coisa. E depois? No roteiro a menina deixa o namorado amando-o, porque ele nunca largaria a outra para ficar com ela.De repente diante desse texto eu vi o desdobramento 30 anos depois.Sapo e príncipe ou o inverso para ser mais precisa. Dá primeira vez não voltamos atrás pois não tive coragem de pedir isso. Orgulhosa ,eu no fundo sabia que tínhamos tudo para viver. E vivemos, cada um ao seu modo. No entanto , a dor daquele momento foi descomunal pois era só causada pela separação. Dor da gravidez de futuro que tínhamos planejado. E do apaixonamento e romantismo que sempre cultivei. Mas passou e nos 2 encontros que a vida proporcionou com 25/ 30 anos não tinha foco mais para aquilo. Embora aos 25 anos de idade tivesse tido a oportunidade de retomar não o quis.Enfim, mas isso é o que foi. Importa ler o hoje de tudo isso.E Virginia me pergunta se tudo foi uma ilusão atemporal, um remake do que ficou embaixo do tapete.Não e sim. Não por um lado,não somos os mesmos e sim porque um desejo existia. Será que esse era o último tempo.? Era toda essa loucura que faltava viver nessa relação? Ela se recusa a achar que sim. Apesar de ser quem mais saiu do habitual para vive -la.A vida estava arrumada, dentro do princípio da impermanência das coisas, independente, coerente, vivendo as coisas ,os dias , movimentando o que queria. A do outro não tenho como falar ,só sei que não estava como a minha, estava estacionada numa acomodação, numa auto punição que ele mesmo não se dava conta, sendo iludido de que havia escolhido aquilo que estava vivendo, dependendo de parentes, sem receber salário, sem nada , fumando a vida em completa alienação. Tanto ,que quando se deu conta ,quis empreender e fomos juntos. Empenho mútuo, deveria ser, mas a visão alienada não se descortinou. E sobreveio os percalços que se arrastaram até o final . O problema era maior que parecia. A mente cria subterfúgios e tem subterrâneos desconhecidos para nós. Se não formos persistentes sucumbimos aos caprichos mentais que nos enganam e nos fazem ver trocada a realidade. O medo e a falta de autoconfiança imperou. Fomos todos abduzidos pelas circunstâncias. Não era a ação que era errada, embora também fosse, era a omissão. E o pior a omissão inconsciente. A letargia, o horizonte obscuro e maquiado. Tudo foi maquiado para esconder a realidade. De longe, Virgínia conta que não via. Nem podia, se do lado ele não via como de longe ela veria. Todavia com sua inércia ele desconsiderava seu poder de persuasão. Ele manipulava Virgínia até sem se dar conta. E ela fazia o que ele queria. Ela foi deixando. Se ela falasse ele invertia o jogo se fazendo de vítima, dizendo que ia embora. E o pior ,como manipulador ele era cruel. Se fazia de vítima e subia nas tamancas.Agora Virgínia consegue ver, e como sempre também em tempo de ausência, consegue se ver.Não como deveria. Ainda acha Virgínia que a história não terminou. Ela sente falta porque ama. Sabe que não tem mais tempo suficiente de vida para esperar o outro cair na real e encarar os fatos. Talvez, a palavra maior da dúvida, o grande rei , nunca saía da sua cabeça. VIRGÍNIA pensa que embora ela não tenha orgulho infantil ou vergonha de pedir, tem medo de receber um não. Já passou por isso antes, por duas vezes ouviu não de seus amores . E não tá disposta a ouvir agora. Mas e o tempo que ,voa e passa atroz... o amanhã que será? E se, E se,E se...Lembra da música cantada por Nana. Resposta do tempo.
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