O processo enésimo
Mais uma vez a
denúncia foi feita, diante disso só resta apurar, verificar se as provas feitas condizem com todo resto para
depois ter um julgamento. O crime é o de sempre, erro na escolha do personagem, dolo no envolvimento, achando
que ele ia mudar, ilusão em não ver o
que as coisas são,ou visão deturpada pela fantasia do amor.
O processo é longo, várias medidas
interlocutórias, vários recursos, vários advogados contra, todos advogam contra o desejo ,até
mesmo o objeto desejado, que sumiu, não tem endereço fixo, não dá para ser
citado. A ré fica sozinha, ela e sua
loucura de imaginar que algo poderia ser diferente do que foi.
Cada dia de audiência uma pergunta diferente, um
depoimento novo, questões que nunca vieram a tona. O que se escreve é diverso
do que se fala. Parece que a ré tem dupla personalidade, escreve na dor
tentando elaborá-la, racionalizá-la, mas tudo é em vão, com mil desdobramentos
a dor permanece. Está fadada a ficar até que seja substituída por outra.
A ré tem
momentos insanos, tem horas que não sabe
quem ela é, se é ela ou outra. Se auto-flagela por ter cedido, por ter
investido. Tem os olhos fixos, tem a
face triste, e a tez escura nos
cantos dos olhos de tanto chorar.
Chorar não adianta,
arrepender-se também não, o tempo não volta para desfazer o crime.
Sente culpa, muita
culpa por ter investido em algo que sabia errado. Desde sempre foi assim, era
errado pelo impedimento do casamento, depois foi errado pelo impedimento
psicológico. Mas a ré, teimosa, achou que conseguiria separar, como o desejado, todas as partes. Não conseguiu. E ainda foi agravado o crime pelo fato da ré dizer ao
desejado que o desejava. Desejados não podem ser informados da verdade, devem
adormecer na ingenuidade da criança, ou do intelectual diante da vida. No
entanto, a ré o avisou, por isso foi denunciada e também por isso sofrerá a
sanção.
Por se reincidente e
já ter vivido muito a ré pode, nesse
caso, ter alguns benefícios, como por
exemplo, a pena pode ser cumprida em
menos tempo, mas isso é beneficio que não depende dela, mas da vida.
O juiz julga: pena de
reclusão, regime fechado, luto, dor com torturas psicológicas,dor pela falta de
esperança, em saber que jamais será como imaginou. Frustração, a maior de
todas. Tudo é o que parece ser, nada é
diferente. A imagem que o desejado faz
de sim mesmo é a que ele revela em todos os tempos, só acontece diferente nos
filmes e nos livros. A literatura e o
cinema inventaram o final feliz, aos mortais cabe viver o final infeliz.
10/11/2009
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