quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Série Remexendo o baú

O processo enésimo

Mais uma vez a denúncia foi feita, diante disso só resta apurar, verificar se  as provas feitas condizem com todo resto para depois ter um julgamento. O crime é o de sempre, erro na escolha  do personagem, dolo no envolvimento, achando que ele ia mudar,  ilusão em não ver o que as coisas são,ou visão  deturpada  pela fantasia do amor.
 O processo é longo, várias medidas interlocutórias, vários recursos, vários advogados  contra, todos advogam contra o desejo ,até mesmo o objeto desejado, que sumiu, não tem endereço fixo, não dá para ser citado. A ré  fica sozinha, ela e sua loucura de imaginar que algo poderia ser diferente do que foi.
Cada  dia de audiência uma pergunta diferente, um depoimento novo, questões que nunca vieram a tona. O que se escreve é diverso do que se fala. Parece que a ré tem dupla personalidade, escreve na dor tentando elaborá-la, racionalizá-la, mas tudo é em vão, com mil desdobramentos a dor permanece. Está fadada a ficar até que seja substituída por outra.
A ré tem momentos  insanos, tem horas que não sabe quem  ela é, se é ela ou outra. Se  auto-flagela por ter cedido, por ter investido. Tem os olhos fixos, tem a  face triste,  e a tez escura nos cantos dos olhos de tanto chorar.
Chorar não adianta, arrepender-se também não, o tempo não volta para desfazer o crime.
Sente culpa, muita culpa por ter investido em algo que sabia errado. Desde sempre foi assim, era errado pelo impedimento do casamento, depois foi errado pelo impedimento psicológico. Mas a ré, teimosa, achou que conseguiria separar,  como o desejado,  todas as partes. Não conseguiu. E ainda  foi agravado o crime pelo fato da ré dizer ao desejado que o desejava. Desejados não podem ser informados da verdade, devem adormecer na ingenuidade da criança, ou do intelectual diante da vida. No entanto, a ré o avisou, por isso foi denunciada e também por isso sofrerá a sanção.
Por se reincidente e já ter vivido muito  a ré pode, nesse caso, ter  alguns benefícios, como por exemplo,  a pena pode ser cumprida em menos tempo, mas isso é beneficio que não depende dela, mas da vida.          

O juiz julga: pena de reclusão, regime fechado, luto, dor com torturas psicológicas,dor pela falta de esperança, em saber que jamais será como imaginou. Frustração, a maior de todas.  Tudo é o que parece ser, nada é diferente. A  imagem que o desejado faz de sim mesmo é a que ele revela em todos os tempos, só acontece diferente nos filmes e nos livros.  A literatura e o cinema inventaram o final feliz, aos mortais cabe viver o final infeliz. 10/11/2009 

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