“No mundo do eterno retorno, todos
os gestos têm o peso de uma insustentável responsabilidade”.
Acho que a frase é do Milan Kundera
na “Insustentável leveza do ser”, livro que eu deveria reler, pois creio que
quando li não tinha idade suficiente para tal.
Literatura é assim, vez por outra você precisa voltar e ressignificar tal como a vida, tal como devemos fazer a
cada época da existência.
Pergunto-me pelo conceito de Nietzsche
do eterno retorno, e quem sou eu para falar disso? NADA!!! Definitivamente NINGUÉM
e isso não é dito como foi por Ulisses para se livrar do Ciclope. Embora
eu tenha de sobra “ necessidade, vontade” de me livrar de algumas coisas
e situações.
Meu “bateau” não está bêbado, rimbaudianamente, mas me dá
muito trabalho, muita angústia à existência, é meu filho que ficou e que necessita ir com todo o resto, para que só
algum sentimento fique de memória e lembrança .
Ele precisa ir, mesmo que seja
para depois outra coisa voltar.
O que me foi deixado para resolver
é que é uma pedra, noite e dia, no meu sapatinho vermelhinho de verniz.
E quando entra uma pedra a mais
nesse sapatinho eu grito, pulo esperneio, não sei o que fazer. Tenho que me livrar desse bateau, mas ele é
faceiro, não quer ir aportar em outro porto. Por que? Por que? Por que? Eu berro como um animal machucado.
Acho também, que quem o deixou deve estar do mesmo jeito, por mais
que se fuja, que se baste e se envolva em outras coisas, esse bateau sempre virá à tona, seguido de tudo que ele
representou.
O bateau não sou eu, podem me confundir, podem achar que eu fazia parte daquilo, mas eu não fazia. Eu era extra,
de fora e enquanto não se “desconfundirem”, e se perdoarem, isso vai continuar
pela vida machucando, doendo, por mais que tentemos nos enganar, disfarçar, simular etc, etc,
etc.
“Será preferível dar um grito que
apresse o nosso próprio fim ou ficar calado e comprar uma agonia mais lenta?”
Diz Kundera. Eu não sei. Talvez seja necessário
para desencanar de vez. Mas preciso aprender a me respeitar e fazer quieta o
que sinto. E o que sinto não tenho ainda condição de definir. Será a vida uma
partida? E nesse jogo de pedidos, eu estou perdendo. Eu estou manipulada pela
razão e pelo orgulho e não me deixo violar pela ditadura do coração?
Talvez eu precise de
socorristas!!!! 21/03/2018
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