quarta-feira, 21 de março de 2018

Literatizando a vida



“No mundo do eterno retorno, todos os gestos têm o peso de uma insustentável responsabilidade”.
Acho que a frase é do Milan Kundera na “Insustentável leveza do ser”, livro que eu deveria reler, pois creio que quando li não tinha idade suficiente para tal.
Literatura  é assim, vez por outra  você precisa voltar e ressignificar  tal como a vida, tal como devemos fazer a cada época da existência.
Pergunto-me pelo conceito de  Nietzsche  do eterno retorno, e quem sou eu para falar disso? NADA!!! Definitivamente  NINGUÉM  e isso não é dito como foi por Ulisses para se livrar do Ciclope.  Embora  eu tenha de sobra “ necessidade, vontade” de me livrar de algumas coisas e situações.
Meu “bateau”  não está bêbado, rimbaudianamente, mas me dá muito trabalho, muita angústia à existência, é meu filho que ficou e que  necessita ir com todo o resto, para que só algum sentimento fique de memória e lembrança .  Ele precisa ir, mesmo que seja  para depois outra  coisa  voltar. 
O que me foi deixado para resolver é que é uma pedra, noite e dia, no meu sapatinho vermelhinho de verniz.
E quando entra uma pedra a mais nesse sapatinho eu grito, pulo esperneio, não sei o que fazer.  Tenho que me livrar desse bateau, mas ele é faceiro, não quer ir aportar em outro porto. Por que? Por que? Por que? Eu  berro como um animal machucado.
Acho   também, que quem   o deixou deve estar do mesmo jeito, por mais que se fuja, que se baste e se envolva em outras coisas, esse bateau  sempre virá à tona, seguido de tudo que ele representou.
O bateau não sou eu,  podem me confundir, podem achar que eu fazia  parte daquilo, mas eu não fazia. Eu era extra, de fora e enquanto não se “desconfundirem”, e se perdoarem, isso vai continuar pela vida machucando, doendo, por mais que tentemos  nos enganar, disfarçar, simular etc, etc, etc.
“Será preferível dar um grito que apresse o nosso próprio fim ou ficar calado e comprar uma agonia mais lenta?” Diz Kundera. Eu não sei.  Talvez seja necessário para desencanar de vez. Mas preciso aprender a me respeitar e fazer quieta o que sinto. E o que sinto não tenho ainda condição de definir. Será a vida uma partida? E nesse jogo de pedidos, eu estou perdendo. Eu estou manipulada pela razão e pelo orgulho e não me deixo violar pela ditadura do coração?
Talvez eu precise de socorristas!!!! 21/03/2018


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